19/08/2012
Chegada do insumo a comunidades rurais amplia possibilidades, cria opções de trabalho e incrementa até a produção agrícola, cujo excedente passa a ser comercializado na região
Zulmira Furbino – Estado de Minas
Antes de costurarem calças jeans em sistema de facção para uma marca paulista, as moradoras de Frei Eustáquio, município de Coqueiral, no Sul de Minas, tinham como única alternativa de renda o que a população local define como a “panha” manual de café. O trabalho pesado, disponível apenas durante a colheita do grão, garantia rendimentos eventuais às mulheres. Mas há cinco anos, com a chegada da energia elétrica à comunidade rural, a realidade se transformou. Hoje, cada uma das 14 costureiras que trabalham na Cooperativa de Costura de Frei Eustáquio (Coopersif), distrito do município de Coqueiral, no Sul de Minas, fatura em média R$ 585.
“A vida mudou muito com a chegada da luz. Agora, todo mundo trabalha. Antes, aqui não tinha serviço. O único era a ‘panha’ do café”, explica Waldirene Aparecida dos Santos Pedrosa, costureira e ex-presidente da Coopersif. Segundo ela, são cerca de 3 mil calças jeans ao mês produzidas somente na cooperativa. Cada peça sai de lá a R$ 4,50. “Sem a luz, a gente não faturava nada, as mulheres ficavam paradas em casa. Depois, a Prefeitura de Coqueiral comprou máquinas e o Serviço Nacional do Comércio (Senac) deu treinamento para 80 pessoas. Com o salário, a comunidade comprou móveis para casa, motos. Todo mundo tem geladeira, TVs e outros eletrodomésticos.”
Segundo Aurélio Pavão Farias, diretor nacional do programa Luz para Todos, do Ministério das Minas e Energia (MME), a ligação das comunidades rurais à rede elétrica também elevou a renda de quem planta hortas e, com a eletricidade, passou a produzir mais e vender o excedente. O insumo também transformou a vida de empresas que já funcionavam tomando energia “emprestada” de amigos, parentes e vizinhos. Em Lajinha, na Zona da Mata, um dos beneficiados foi o proprietário do Café Lajinhense, Adalberto Viana Silveira Júnior, que hoje é vendido no município mineiro e atende a 95% do mercado capixaba.
De acordo com ele, até 2008 a produção ficava limitada por falta de carga de energia. “A gente usava a energia urbana e chegamos a diminuir a produção em seis toneladas ao mês”, conta. A energia urbana vinha de um amigo, que emprestava o padrão, mas o funcionamento, segundo Adalberto, era péssimo. “Depois da ligação rural, ficou tudo 100%. Temos um transformador de 37 cavalos e meio. Antes, os motores eram todos de 110 volts, agora são 220 volts. Eu pagava R$ 1.500 de conta de luz urbana. Agora, pago entre R$ 500 e R$ 600, em média. A conta diminuiu pela metade.” De acordo com ele, a produção aumentou em 20% e o número de empregos gerados na torrefação saiu de sete para 14.
EM FAMÍLIA A torrefação nasceu quando Adalberto se uniu ao primo Nelsino Santos da Silva para revender o café da família e de outros pequenos produtores da região. O grão era torrado no quintal, para aumentar o lucro, e o produto era vendido em sacolinhas de plástico, nas mercearias da região. A demanda cresceu e, para aumentar a produção, era preciso usar equipamentos que dependiam da energia com fornecimento regular. Quando passaram a ser atendidos pela rede elétrica, compraram os equipamentos à prestação, sem ter de recorrer ao empréstimo bancário.
A história do crescimento econômico individual e coletivo se repete em vários pontos de Minas Gerais e também pelo Brasil. “Em muitos lugares, processos produtivos mais artesanais, como o de Lajunha, passaram a ser mecanizados, o que possibilitou ganhos para os produtores”, observa Farias.