Folha de S. Paulo
10/11/14
Um caminhão com um contêiner de dois metros de altura passa pela rua do Adubo, no Guarujá (SP), com seu ranger de molas e roncar de motor capazes de silenciar os moradores. Agora, conte até dez. Pronto, passou outro.
A 2 km dali, cavalos pastam ao redor de uma linha de trem por onde, em geral somente à noite, locomotivas puxam vagões para o mesmo destino dos caminhões: o porto de Santos, o maior da América Latina.
O contraste, que na prática custa caro ao país e aos moradores da rua do Adubo, está próximo de se tornar menos gritante com o início das operações do primeiro projeto de transporte de contêineres na região de São Paulo.
Desde outubro, a empresa Contrail começou o transporte de contêineres do porto num projeto que tem capacidade para tirar até 25% dos caminhões dessa operação.
Como 97% dos 3 milhões de contêineres chegam e saem por caminhão, são necessários 10 mil veículos por dia atravessando as cidades e usando as rodovias do Estado para alcançar os terminais portuários. “Continuando tudo como está, a Anchieta terá que ser fechada só para caminhões em algum momento”, afirma Guilherme Quintella, presidente da Contrail.
Em parceria com a MRS Logística, concessionária de parte da ferrovia do porto, a Contrail está investindo R$ 700 milhões em centros de distribuição e trens modernos. Esses trens são capazes de levar dois contêineres por vagão, que aumentarão em 150% a quantidade de caixas por locomotiva.
O principal ganho que a Contrail promete é a arrumação dos trens. Hoje, os comboios que chegam e saem de Santos, com material para diferentes terminais, precisam ser “rearrumados” para deixar em cada local apenas a carga destinada para aquela posição. A manobra é complexa e dura em média 24 horas. Os vagões são desconectados um do outro e locomotivas puxam e empurram para que eles fiquem em ordem.
Quintella afirma que a Contrail poderá fazer essas manobras no Terminal Intermodal que está funcionando em Cubatão e levar para o porto a carga específica para cada navio. Com isso, o tempo da operação cai para quatro horas em média.
A Toyota fazia todo o transporte de peças para sua fábrica de empilhadeiras na cidade de Artur Nogueira (SP) usando 80 caminhões/mês. Agora vai usar apenas trem.
Quintella, da Contrail, afirma que não chega a 50 o número de empresas atendidas por ferrovias hoje no porto, apesar de haver quase 13 mil companhias que trabalham com contêineres ali. Para ele, é necessário chegar o mais perto possível dos clientes dentro da capital.
“Vamos entregar mercadoria no Centro de São Paulo reduzindo a distância que os caminhões percorrem na cidade”, diz Quintella.