Embrapa, um Brasil a ser descoberto |
Chico Vigilante Ao sintetizar Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda e Câmara Cascudo, três dos maiores conhecedores do Brasil, pode-se dizer que a identidade do povo brasileiro supera as barreiras geográficas e alcança um pólo inconsciente de identificação com seu País. Para validar sua natureza, o brasileiro procura, a todo instante, motivos para se orgulhar de seu País. Em ano de Copa do Mundo, esse orgulho fica mais evidente, o povo veste-se de verde e amarelo e vibra com a camisa canarinho. Felizmente, o Brasil que dá certo não se resume somente ao futebol. Dentre tantos outros Brasis vitoriosos, o brasileiro precisa descobrir a Embrapa. Vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) nasceu no início dos anos 70 (1973). O órgão federal possui quase 9 mil funcionários espalhados por todo o País, dos quais mais de 20% são pesquisadores. Como órgão de ponta na tecnologia mundial, a Embrapa mantém parcerias com 56 países e 155 instituições de pesquisa internacional. Desenvolvendo tecnologias e pesquisas revolucionárias, o trabalho da Embrapa foi responsável pela disseminação, em escala comercial, da técnica que favorece a fixação de nitrogênio por leguminosas, economizando anualmente aos cofres da Nação milhões de dólares que seriam gastos na compra de nitrogênio. Nem o mais esperançoso dos Severinos imaginou que o Nordeste, um dia, produziria vinho de excelente qualidade. Os vinhedos do Vale do Rio São Francisco e dezenas de outras culturas de frutas produzidas no Nordeste, que têm transformado a região em um grande celeiro exportador, são resultados de ações da Embrapa. A Embrapa também é causa de uma das maiores mudanças no mapa agrícola brasileiro: a ocupação agropecuária do Cerrado. Hoje, por exemplo, 76% do algodão, 27% do milho, 18% do arroz, 17% do feijão e 55% da carne bovina do País são provenientes do cerrado. Ressalta-se aqui o grande mérito da Embrapa que desenvolveu tecnologias para áreas em solos ácidos e de fertilidade pífia. Essa revolução no Planalto Central se alastra com o desenvolvimento de técnicas recentes que viabilizam, em equilíbrio com a biodiversidade do ecossistema local (essa é prática meritória da empresa), a exploração agrícola do solo. Como exemplos, fulguram lançamentos de variedades de soja de alta produtividade, resistentes às principais doenças, de cultivos de mandioca de alto rendimento, de variedades de café, de trigo, de manga, de acerola, de maracujá e de cevada adaptadas ao clima da região; a recuperação de pastagens degradadas utilizando culturas anuais e leguminosas rasteiras e o uso de suplementos alimentares para gado de corte a fim de reduzir as perdas de peso durante a estação da seca. Ultrapassando os limites da pesquisa voltada para a produção, a Embrapa é uma das responsáveis pela preservação da biodiversidade do nosso País. Se o Brasil fosse vítima de uma tragédia que dizimasse sua fauna e flora, o banco genético da Embrapa certamente seria um dos pilares da reconstrução. Esse banco deixaria boquiabertos muitos céticos de Brasil. Seguindo a linha plural do povo brasileiro, a Embrapa une conhecimento e preservação. Apesar de proporcionar, diariamente, inúmeros benefícios para o País, a importância da Embrapa ainda não foi totalmente descoberta pelos brasileiros. Conseqüência desse anonimato, a falta de maiores investimentos e a evasão de pesquisadores assombram esse “gigante” brasileiro. Para continuar sua trajetória de sucesso, precisam ser somados e não subtraídos ou divididos recursos humanos e financeiros à Embrapa. O desenvolvimento de um País é inversamente proporcional à sua dependência tecnológica. É preciso valorizar o grande profissional da Embrapa, mal remunerado face ao seu elevado grau de capacitação e importância para o País. Para tanto, faz-se necessário viabilizar o Plano de Carreira da Embrapa (PCE), uma bandeira há anos agitada e renegada. Tenho esperança de que a viabilização do PCE seja mais uma das conquistas dos trabalhadores da Embrapa e do Brasil. Caso continue vítima de descasos, a Embrapa poderá se assemelhar à seleção brasileira em um fato nada promissor para o Brasil, ter todos seus “craques” jogando no exterior. Chico Vigilante é deputado distrital e presidente do PT-DF. |