Uma plataforma pioneira no Brasil vai disponibilizar informações e modelos gerados pela Embrapa que poderão ser utilizados por empresas e startups para a criação de softwares e aplicativos móveis para o setor agropecuário, com redução de custo e de tempo.
A AgroAPI Embrapa foi lançada no dia 29 de abril, durante a 26ª edição da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Além do lançamento da plataforma, foram assinadas novas parcerias com a iniciativa privada que visam alavancar o mercado de tecnologias em agricultura digital e contribuir para a oferta de novos produtos para o agronegócio.
Presente no evento, o presidente da Embrapa, Sebastião Barbosa, exaltou o papel fundamental dos parceiros na tarefa de levar ao usuário final os resultados da pesquisa da Empresa. A solenidade aconteceu no primeiro dia da Agrishow, considerada a maior feira de tecnologia agrícola do Brasil, e contou ainda com a participação do deputado federal Arnaldo Jardim. “Tudo aquilo que se festeja na Agrishow hoje deve muito, deve sempre à Embrapa, ao nosso investimento em pesquisa e à capacidade de inovação”, ressaltou ele. Além de parabenizar pelas novas parcerias na área de agricultura digital, o deputado destacou as iniciativas de cooperação entre as Unidades da Embrapa e os institutos paulistas de pesquisa.
A plataforma AgroAPI contempla desde informações sobre cultivares e produtividade até zoneamentos agrícolas, úteis em soluções para o planejamento e monitoramento da produção e a gestão do risco agrícola. Os dados são acessados de forma totalmente virtual por meio de APIs (Interface de Programação de Aplicativos, na tradução do inglês) – um conjunto de padrões e linguagens de programação que possibilitam, de maneira automatizada, a comunicação entre sistemas diferentes. Elas são responsáveis pelo funcionamento de diversos recursos utilizados no dia a dia, como por exemplo em aplicativos de mobilidade, sites de comércio eletrônico e redes sociais.
Segundo Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), Unidade responsável pela tecnologia, a AgroAPI tem potencial para ser uma plataforma de compartilhamento de dados, informações e modelos sobre a agricultura brasileira, capaz de envolver todo o setor produtivo. “Estados Unidos, França e Austrália já possuem modelos colaborativos de inovação como esse. A AgroAPI Embrapa é mais uma oportunidade concreta para impulsionar a agricultura digital no País, agregando mais valor à produção agropecuária brasileira”. O acesso à plataforma poderá ser gratuito, para uma versão degustação, ou pago de acordo com volume de requisições de APIs. O endereço é www.embrapa.br/agroapi.
Crédito inteligente
Uma das primeiras empresas a utilizar a plataforma AgroAPI, a startup GIRA – Gestão Integrada de Recebíveis do Agronegócio assinou um acordo de cooperação técnica com a Embrapa com o objetivo de aprimorar um aplicativo de celular que vai apoiar operações do mercado de crédito agrícola. Por meio da AgroAPI, a empresa terá acesso a modelos de produtividade para as culturas da soja, milho, arroz, feijão e trigo, além de uma série temporal de dados orbitais para monitoramento da vegetação. Essas informações vão servir para aperfeiçoar as análises de produtividade das lavouras financiadas e as previsões de safra geradas pelo sistema criado pela startup, auxiliando no processo de tomada de decisão na concessão e acompanhamento do crédito rural.
Gianpaolo Zambiazi, diretor da GIRA, explicou que a tecnologia busca individualizar a área de produção para oferecer crédito inteligente, que tenha por fim aumentar a produtividade. “O que vamos fazer é transformar os dados disponibilizados pela Embrapa em aplicação. Isso não seria possível sem uma base de informações confiável”, completou. A GIRA foi uma das empresas selecionadas, em 2018, pelo programa Pontes para Inovação, uma iniciativa da Embrapa e Cedro Capital de fomento ao empreendedorismo, voltada para startups que almejam crescer com a adoção de tecnologias da Embrapa.
Conectividade no campo
A Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), o Instituto de Pesquisas Eldorado e a Claro S/A assinaram a formalização de um termo de cooperação que visa estabelecer parceria entre as três empresas para viabilizar modelos de conectividade, tecnologias e plataformas para atender demandas da produção agropecuária. A ação visa estruturar meios para a execução de projetos de pesquisa com diversas culturas anuais e perenes em áreas do campo experimental da Embrapa em Jaguariúna (SP), no sentido de desenvolver tecnologias, testes, metodologias e soluções de inovação para a captação de diferentes parceiros, com ênfase em bioeconomia e internet das coisas (IoT). Esse novo modelo de negócio foi denominado “Condomínio Inovar”.
O termo foi assinado pelo superintendente do Instituto Eldorado, Roberto Stephanes Soboll, pelo diretor de IoT da Claro S/A, Eduardo Polidoro de Souza, pelos chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi, e pela chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia, Ana Paula Packer. Morandi explica que serão implementadas soluções de conectividade que vão transformar o campo experimental da Embrapa em um laboratório onde diversos parceiros terão oportunidade de desenvolver novas tecnologias em agricultura digital. “O Condomínio Inovar será um ambiente aberto para aprimoramento e colocação de novos produtos no mercado, a fim de trazer competitividade para o agronegócio”, completou.
Ressonância Magnética Nuclear
A Agrishow também marcou a assinatura da parceria entre a Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP) e a empresa Fine Instrument Technology (FIT), envolvendo o desenvolvimento de equipamento e método para análise de frutas, carnes, sementes e produtos industrializados por meio de ressonância magnética nuclear (RMN). Juntas, as duas instituições estão associando o emprego de metodologias de RMN ao desenvolvimento de aparelhos com diferentes aplicações na agropecuária.
Durante a Agrishow, serão demonstradas no estande da Embrapa análises em tempo real da qualidade de grãos que fazem parte de importantes cadeias produtivas, como a soja e o amendoim. Sem destruir a amostra, é possível, por exemplo, conhecer o teor de óleo desses grãos em segundos. No amendoim, também serão realizadas análises da umidade, proteína e teor de óleo oleico, conhecido como ômega 9, fundamental na síntese dos hormônios. De acordo com o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João Naime, o desenvolvimento do equipamento é um excelente exemplo de como o conhecimento em ciência básica evoluiu para uma inovação. Participaram da solenidade de assinatura da parceria, além do chefe da Embrapa, os sócios da FIT Daniel Consalter e Silvia de Azevedo.