Embrapa exalta Brasil em fórum da OMC

02/10/2013

A agricultura brasileira economiza entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões por ano apenas por praticamente não usar fertilizantes nitrogenados na produção de soja, graças a inovações que deverão se propagar para outras culturas e tornar o setor agrícola brasileiro “imbatível”.

É o que afirma o presidente da Embrapa, Maurício Antonio Lopes, que hoje será um dos debatedores sobre inovação e competitividade internacional no Fórum Público da Organização Mundial de Comércio (OMC), que ocorre uma vez por ano em Genebra com participação de governos, empresas, organizações não governamentais e acadêmicos.

A escolha dos participantes do debate é, na prática, um reconhecimento do nível de inovação da agricultura brasileira. Estarão presentes, além de Lopes, o diretor-geral da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), Rolf-Dieter Heuer, o presidente da PayPal, Rupert Keeley, e a diretora-geral de Consumidores Internacionais, Helen McCallum.

Lopes salienta que a agricultura brasileira está investindo em ciência e inovação para garantir uma produção segura e cada vez mais “vertical”, aumentando eficiência, produtividade e práticas sustentáveis, e não horizontal, com desmatamento para a abertura de novas áreas.

“Há uma percepção de que a agricultura não usa inovação. É o contrário, principalmente no caso da agricultura brasileira”, afirma o presidente da Embrapa, que trouxe na bagagem exemplos de revoluções em curso ou que virão no setor.

Um de seus exemplos é justamente como o Brasil conseguiu desenvolver a fixação biológica de nitrogênio na soja. “Nossa soja não usa nitrogênio químico. Usamos bactérias inoculadas na semente; quando a planta cresce, a bactéria coloniza a raiz e absorve o nitrogênio do ar. Só isso economiza entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões em importações de fertilizantes nitrogenados apenas na cultura da soja”.

Agora, o plano é ampliar essa tecnologia para milho, cana e sorgo, para que essas culturas também não precisem usar fertilizantes nitrogenados. Atualmente, a Embrapa já tem bactérias que colonizam essas plantas, mas a eficiência ainda é baixa. O trabalho, agora, é elevar a eficiência, o que pode resultar em economias bilionárias, já que a agricultura brasileira usa muito adubo químico uma vez que o solo, especialmente na região Centro-Oeste, onde a produção de soja bate sucessivos recordes, é pobre.

“As vantagens são imensas. O fertilizante químico é caro e tem impacto ambiental”, observou. “Se o Brasil conseguir fazer a inoculação em milho, cana e pastagens, a agricultura brasileira será imbatível”.

Outro exemplo trazido pelo presidente da Embrapa: o plantio direto. Ele lembra que, atualmente, o país tem mais de 30 milhões de hectares de plantio em sistema direto, sem a necessidade de que o solo seja arado. A estatal está investindo também em estudos sobre mudanças climáticas e os possível impactos que podem acontecer caso as previsões de elevação da temperatura se confirmem. Isso pode intensificar problemas de defesa sanitária, novas pragas e doenças, e a faixa de adaptação de cultivo poderá mudar.

Também nesse cenário, a Embrapa está operacionalizando o sistema “Agro Pensa”, uma plataforma de inteligência estratégica para estudar de forma contínua cenários possíveis para a agricultura tropical, envolvendo riscos, oportunidades e como se preparar para mudanças de paradigma.

Além disso, a empresa tem reforçado sua presença no segmento sucroenergético. Lopes confia que a tecnologia de biomassa vai permitir mais que produção de álcool e açúcar, e fará a interface entre a agricultura e a indústria química verde.

O presidente da Embrapa confirmou que “definitivamente” a empresa continuará também ampliando suas parcerias com empresas privadas, “para fazer melhor e com mais eficiência”. Atualmente, a estatal já tem parcerias com companhias como Monsanto, DuPont, Syngenta, Bayer e Dow AgroScience, entre outras.

A expectativa é que até o fim do ano o Senado aprove a criação da subsidiária Embrapa Tech, que será o braço de operação no mercado da estatal, com o objetivo de agilizar a definição de acordos com o setor privado e transformar mais rapidamente os ativos da Embrapa em novos produtos e inovação para a agricultura.

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