18/12/2006 06:12:31 –
A Embrapa chega ao fim de mais um mandato de governo com um grande desafio: atrair mais recursos para se manter na liderança da pesquisa agropecuária brasileira. Para isso, a estatal conta com o desembaraço da legislação para criação das empresas de propósito específico (EPE), formadas por capital privado e público. A meta é atrair R$ 1 para cada R$ 1 investido pela estatal em pesquisa, disse ao Valor Silvio Crestana, presidente da Embrapa.
Atualmente o recurso privado é da ordem de R$ 20 milhões. O orçamento total da Embrapa neste ano foi de R$ 1,063 bilhão, ante R$ 955,54 milhões aplicados em 2005. Para o próximo ano, o projeto de orçamento está na faixa de R$ 1 bilhão. “Espero que esse valor seja mantido, para consolidar o nosso orçamento”, afirma Crestana.
O presidente da estatal considera os recursos insuficientes para atender à demanda por pesquisas no país. E critica a forma como eles são liberados: muitas vezes contingenciados e distribuídos de forma irregular ao longo do ano. “A liberação de recursos é mais forte no fim do ano, mas os pesquisadores precisam viajar na época do plantio e se não há recurso, é preciso esperar uma nova safra”, pondera.
A Embrapa foi criada em 1973, com a missão de induzir – e financiar em grande parte – o desenvolvimento de pesquisas agropecuárias no país, por meio de suas próprias unidades, dos órgãos estaduais de pesquisa, de institutos e dos serviços estaduais de assistência rural. Boa parte dessa rede governamental de pesquisas se desmantelou nos últimos dez anos, assim como o orçamento dedicado à estatal. “A Embrapa chegou a receber o equivalente a 1,17% do PIB agropecuário. Hoje essa relação é de 0,6%”, compara.
Crestana observa ainda que o governo brasileiro investe o equivalente a 1% do PIB em ciência e tecnologia, enquanto os países desenvolvidos investem em média 2,5%. “A capacidade do poder público de investir em pequisa já está no seu limite. Os caminhos agora são liberar recursos dos fundos setoriais e atrair recursos privados”.
No Brasil, segundo ele, 70% dos recursos aplicados nessa área vêm do poder público. Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, apenas 30% são verbas públicas. Para Crestana, a pesquisa agropecuária chegou em uma situação limite e a sua evolução depende cada vez mais de investimentos privados, que tem aumentado nessa década, mas sempre concentrado no setor privado.
“A área de pesquisa é estratégica para o país e a Embrapa precisa crescer com as empresas privadas”, diz Crestana. Para atrair tais recursos, a estatal elegeu áreas que considera mais atrativas para gerar produtos com o setor privado: agroenergia, biotecnologia e nanotecnologia. Na dianteira está a criação de uma empresa de inovação tecnológica voltada à agroenergia. O projeto atraiu interesse da BR Distribuidora, da Itaipu Binacional, do BNDES e do Banco do Brasil. “Existem gargalos jurídicos que precisam ser resolvidos rapidamente pelo governo para que os projetos avancem”, pondera.
Na área de biotecnologia e nanotecnologia, a estatal reforçará as apostas nas pesquisas de melhoramento de culturas de maior importância socioeconômica, como soja, milho, café, arroz, feijão, eucalipto, banana e mamão. Manuel Cabral, coordenador-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, observa que boa parte das pesquisas com essas culturas já é desenvolvida com empresas privadas ou institutos de pesquisa de outros países e a meta é engordar a rede de parceiros.
Na área de genética animal, as pesquisas concentram-se no domínio das técnicas de clonagem para a reprodução de animais de alto valor genético e o desenvolvimento dos animais transgênicos – que produzam, por exemplo, leite com hormônio de crescimento, fator anti-tumoral e fator de coagulação sangüínea. Na área de genética bovina, a empresa mantém parceria com 35 empresas e institutos de pesquisa.