14/10/09
Fernando Lopes, de São Paulo
A combinação entre volumes e preços em geral mais baixos do que em 2008 e dólar ainda fraco resultaram em queda de 15,6% no valor das exportações do agronegócio do país em setembro, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura. Segundo levantamento divulgado ontem, os embarques alcançaram US$ 5,745 bilhões no mês passado. As importações recuaram 16%, para US$ 876,5 milhões, e, com isso, o superávit ficou em US$ 4,868 bilhões, também 15,6% mais magro.
Dos principais produtos da pauta exportadora, soja em grão, óleo de soja, etanol e carnes bovina, suína e de frango registraram baixas nos volumes e nos preços dos embarques. Na contramão, o destaque foi o açúcar, com demanda e preços em elevação. Nas importações, a redução das cotações do trigo foi o alento para as contas. Alvo de reclamações mais incisivas no último mês, a depreciação do dólar não pode ser considerada a maior culpada por esses resultados.
Apenas como referência, cálculos do Valor Data apontam que, apesar de ter recuado 23,92% em relação ao real nos nove primeiros meses de 2009, em setembro a cotação média da moeda americana (Ptax) ficou em R$ 1,8198, um pouco acima do que no mesmo mês de 2008 (R$ 1,7996), quando houve o aprofundamento da crise financeira irradiada a partir dos EUA.
Já volume e preços voltaram a decepcionar. No caso da soja, carro-chefe da exportação setorial, a frustração decorre, em boa medida, de uma desaceleração após um primeiro semestre surpreendentemente forte, sustentado por uma demanda chinesa que já dá sinais de arrefecimento. Também a entrada da safra do Hemisfério Norte no mercado nas últimas semanas passou a exercer maior pressão sobre as cotações.
Segundo o ministério, em setembro o volume de soja em grão exportado pelo país caiu 1,8% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto os preços foram 7,6% menores. Os embarques de óleo de soja também foram 56,3% mais magros e 37,7% mais baratos. No chamado “complexo soja”, a exceção foi o farelo. O volume embarcado permaneceu estável, mas os preços subiram 9,6%.
Cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago comprovam que, no mês passado, a cotação média da soja em grão ficou 21,19% abaixo do que em setembro de 2008.
Nas carnes, o problema é que demanda e preços ainda decepcionam após um primeiro semestre muito mais fraco do que o da soja, pelo menos do ponto de vista da balança comercial do agronegócio. Ainda que algumas empresas tenham conseguido renegociar contratos, de modo geral setembro foi desalentador.
No total, a receita dos embarques nacionais de carnes recuou 31,4% no mês na comparação com setembro de 2008, para US$ 1,492 bilhão – a queda da soja foi de 16,5%, para US$ 1,353 bilhão.
Segundo o Ministério da Agricultura, os embarques de carne bovina in natura, ainda prejudicadas por barreiras na União Europeia, diminuíram 25,4% em volume e tiveram preços médios 18,4% inferiores. No frango in natura, as baixas foram de 9,6% em volume e de 21,6% nos preços; na carne suína, as reduções alcançaram 21% e 39,5%, respectivamente.
Dos 25 principais produtos ou grupos de produtos exportados pelo agronegócio brasileiro, 19 registraram baixas nas receitas de exportação em setembro. Mas houve um grande destaque positivo.
Valorizado pela saída da Índia do mercado exportador, o açúcar disparou tanto em volume (36,5%) quanto em preços (24,5%) e puxar o segmento sucroalcooleiro, que, com exportações de US$ 1,051 bilhão, superou as carnes e perdeu apenas para o complexo soja.
“A contração da demanda global é o principal fator que explica esta queda grande das exportações até setembro Com peso secundário, mas não insignificante, vem o câmbio”, diz o economista Fabio Silveira, da RC Consultores.
Com o resultado de setembro, as exportações do agronegócio somaram US$ 49,394 bilhões nos nove primeiros meses do ano, 10,7% menos que em igual intervalo de 2008. Não chega a surpreender, tendo em vista que o próprio governo prevê desde o fim do ano passado uma queda de 10% para os embarques em todo o ano de 2009 – o primeiro recuo em uma década. Como as importações caíram 21,9%, para US$ 6,931 bilhões, o saldo recuou 8,6%. O dólar médio até setembro foi de R$ 2,0794, ante R$ 1,6864 em igual intervalo de 2009, quando as commodities estavam em franca ascensão.
De janeiro a setembro de 2009, a China confirmou seu papel de principal destino dos embarques do setor do país. Lideradas pela soja, as compras do país atingiram US$ 7,967 bilhões, 12,7% mais que nos primeiros nove meses do ano passado. Por causa de Roterdã, principal porta de entrada dos produtos brasileiros na Europa, os Países Baixos aparecem em segundo lugar (US$ 3,746 bilhões, queda de 26,1%), seguidos pelos EUA (US$ 3,296 bilhões, baixa de 30,4%). Não é segredo que a crise bateu forte nos EUA e na Europa.