Problemas decorrem principalmente das barreiras da UE
Os embargos às carnes brasileiras por conta da febre aftosa estão afetando os embarques e o preço dos fretes pagos a partir do porto de Santos. Principal via de exportação desses produtos, o porto sofre com o veto da União Européia à carne bovina de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná e com a decisão do governo paulista de manter a proibição do trânsito de animais vivos e carnes dos outros dois Estados, visando retomar mercados no exterior.
Segundo o despachante aduaneiro Luiz Sérgio, de Santos, pela primeira vez no ano, sobram contêineres frigorificados no porto e cargas dos principais frigoríficos estão voltando, principalmente da Europa e Rússia. Somente para esta semana, está previsto o retorno de 30 contêineres com carne bovina.
Gregory Rinzler, diretor-comercial do armazém frigorífico Avante, diz que o uso dos terminais frigorificados de Santos – que têm capacidade de 20 mil toneladas – caiu 70% em relação à média do primeiro semestre. “A ocupação está baixa e já dispensamos funcionários. Se a situação não melhorar até janeiro, teremos que demitir novamente”.
A retração da demanda internacional já se traduz nos valores dos fretes. De Santos para Hong Kong, por exemplo, o transporte custa US$ 3,8 mil por tonelada, queda de 17% em relação à média de setembro, de US$ 4,6 mil. A queda das exportações já havia sido registrada pela Secex, que apontou em outubro queda de 20% na média diária de carne bovina in natura embarcada, na comparação com setembro, passando de 4,5 mil para 3,6 mil toneladas.
Na primeira semana de novembro contra igual período de outubro, a média diária de embarques do complexo carnes (incluindo suína, de frango e bovina) caiu 41%, para US$ 27,1 milhões. Fontes do setor estimam que dentro de um mês, com o esgotamento dos estoques do período pré-aftosa, a queda pode chegar a 50%.
No Mato Grosso do Sul, foi identificado em Japorã o 22 foco de aftosa, o maior até o momento, localizado em uma uma propriedade de 5,5 mil animais, dos quais 54 apresentaram sintomas. Segundo o Ministério da Agricultura, já foram sacrificados 2.308 bovinos e 49 suínos. Os abates devem superar 20 mil animais.
As indenizações não começaram a ser efetivamente pagas. O processo da fazenda Vezozzo, em Eldorado (onde surgiu o primeiro foco), já foi concluído. Na sexta-feira, Gabriel Maciel, secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, assinou a liberação de R$ 300 mil para indenizar a fazenda, que teve 592 bovinos sacrificados. Segundo João Cavalléro, diretor da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), as indenizações serão pagas à medida em que os processos receberem parecer dos governos estadual e federal.
Em Brasília, o grupo de trabalho interministerial de combate à aftosa decidiu fixar medidas de apoio aos produtores prejudicados pela doença, com pagamento de benefício pecuniário, distribuição de cestas básicas e adiamento dos débitos junto ao Banco do Brasil. As 1,6 mil pessoas demitidas de frigoríficos no Mato Grosso do Sul também serão beneficiadas. O governo federal irá analisar a viabilidade jurídica dessas ações para dar início ao plano.
O Banco do Brasil informou ontem que vai disponibilizar em torno de R$ 5 bilhões para pecuaristas em linhas de investimento de longo prazo para capital de giro e compra de rações, medicamentos e outras necessidades imediatas. A idéia é atender 3,3 milhões de produtores.
No Paraná, onde há suspeita de focos em quatro municípios, a Secretaria de Agricultura espera a conclusão, até amanhã, dos testes feitos em bois com sintomas de aftosa. No dia 4, a Secretaria de Agricultura liberou 635 animais que ficaram retidos em um centro de exposições em Toledo, que recebeu em uma feira cinco animais de Itaquiraí (MS), município que fica na região de risco.
Em Santa Catarina, a Secretaria de Agricultura informou que os pecuaristas estão proibidos de vacinar o rebanho bovino contra febre aftosa. E se for confirmada vacinação, a propriedade será interditada e o rebanho, sacrificado, sem direito à indenização. O objetivo é manter o Estado com o status de livre da doença sem vacinação. Já o Rio Grande do Sul, imune à crise, enviou ao Líbano um lote de 13 mil bois vivos para abate.