Área cultivada com café no Estado caiu 46,8% em 12 anos; para frear redução, programa pretende reestruturar e adequar produção do setor
Mariana Fabre | Folha de Londrina
Em 10 anos, o produtor João Paulo Waciki, de Cambé, reduziu pela metade a área cultivada com café, que passou a ser cultivada com soja e milho. O cafezal que já ocupou oito hectares da propriedade, hoje está em apenas quatro deles. ”A defasagem nos preços do café e a falta de mão de obra qualificada fizeram com que eu optasse por outros grãos”, justifica. Segundo ele, a opção de mecanizar a colheita ainda não é viável devido ao alto investimento para aquisição de maquinário e adequação da lavoura. ”A situação do café está precária. Se continuar assim, em dez anos será exótico quem cultivar café”, analisa.
A condição de Waciki representa o quadro de grande parte da cafeicultura paranaense. A escassez de mão de obra, o baixo nível de organização dos produtores e pequena escala de produção resultaram na redução drástica do cultivo na última década. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) apontam que a área cultivada que era de 163,9 mil hectares em 2000, caiu para apenas 87,09 mil hectares em 2012, redução de 46,8%. O volume de produção no mesmo período passou de 2,2 milhões de sacas em 2000 para 1,7 milhão de sacas atuais, o que representa uma queda de 22,73%.
Diante desse quadro, entidades representantes da cadeia produtiva se uniram para criar o Plano de Reestruturação da Cafeicultura Paranaense, com o objetivo principal de proporcionar sustentabilidade econômica, social e ambiental das pequenas e médias propriedades cafeeiras do Estado, por meio da readequação das lavouras e da substituição gradativa da mão de obra pela mecanização. O Plano inclui ações em diversas áreas, com base na assistência técnica para orientar as mudanças necessárias na propriedade, no combate ao endividamento e disponibilidade de crédito para renovação do parque cafeeiro e na conscientização dos agricultores sobre a necessidade de associativismo para aumentar poder de negociação.
O gerente da Câmara Setorial do Café do Paraná, Walter Ferreira Lima, explica que o endividamento é um grave problema entre os cafeicultores e inibe o investimento na atividade, comprometendo o aumento da produtividade e a sustentabilidade do sistema produtivo. ”A necessidade de investimento é urgente e os produtores precisam sentir que alguém está olhando por eles para se motivarem a permanecer na atividade”, comenta.
Entre as medidas, o Plano prevê a substituição e renovação das lavouras improdutivas e implantação de novas áreas adaptadas ao processo de mecanização; utilização de variedades adaptadas a estresses ambientais e resistentes a pragas e doenças; capacitação de técnicos e produtores; aumento da produtividade média que hoje é de 23 sacas por hectare, renegociação de dívidas e ampliação das linhas de financiamento. ”O subsídio e a desoneração fiscal também não podem ficar de fora das discussões do setor produtivo, pois a renda do agricultor depende disso. Sem subsídio, o produtor fica refém do mercado e sem condições de enfrentar o endividamento”, ressalta.
Elaborado em parceria entre Seab, Emater, Federação da Agricultura do Estado do Paraná, Instituto Agronômico do Paraná, Organização das Cooperativas do Estado do Paraná e Associação dos Produtores de Cafés Certificados e Especiais do Norte Pioneiro do Paraná, a reestruturação já está sendo colocada em prática no Estado e envolve também um Plano de TransferÊncia de Tecnologia da Cafeicultura Paranaense.