Como apreciador de vinhos já expus em outros textos o que penso sobre o universo desse fantástico produto que acompanha o homem por séculos.
O marketing explora o lado glamouroso e impõe através de formadores de opinião um padrão que não interessa ao consumidor exigente e que não se rende as sensações indicadas pelo sommelier contratado, mesmo porque cada um tem a sua virtude organoléptica.
A decisão desse consumidor requer informações básicas do vinhedo, do produtor, do processo de elaboração, etc. Valorizando ainda mais aquele que trabalha diretamente seu vinhedo e transforma na adega o que sua dedicação no campo rendeu, preservando acima de tudo seu terroir.
Sem exagerar nos artifícios enológicos que são muitos e a mescla de terroirs que induzem ao padrão industrial de grandes escalas que visam outros segmentos de consumo; muito embora, exerçam importante função social mantendo milhares de produtores rurais que lhes fornecem a matéria prima.
Em busca dessa autenticidade fui garimpar e conhecer alguns desses produtores na Serra Gaucha, fugindo dos esquemas do enoturismo. Antes desses detalhes, surpreende alguns empreendimentos vinícolas mais recentes com arquitetura e equipamentos modernos, processo por gravidade, cave subterrânea climatizada, maturação em barricas de carvalho, etc. Investimentos como o da Cave Geisse em Pinto Bandeira, da Almaúnica em Bento Gonçalves, modernização da centenária Peterlongo em Garibaldi, irão certamente contribuir para atender o consumidor que evolui.
Meu objetivo: encontrar produtores de famílias de imigrantes italianos, alguns na terceira e ou quarta geração apaixonados pelo que fazem, tanto no campo como na adega e que cultivam várias castas de Vitis vinícola, já que a maior área plantada no sul é de variedades Vitis labruscas. A primeira constatação foi que a safra teve uma quebra de 70%, que aliado a aumento de impostos e inflação refletiu em reajustes nos estoques das anteriores.
Nessa jornada, uma surpresa que desconhecia, deparei-me bem no alto de uma colina na Estrada do Sabor – linha São Jorge, com o sobrenome “Lazzari”, de minha descendência materna, em placas de “Viveiro de Mudas” e da “Osteria Della Colombina” que se encontrava fechada e segundo a Raissa (filha de Odete Bettú Lazzari, irmã do polêmico vinhateiro Vilmar Bettú, com quem estive antes) só abre com agendamento. Em Pinto Bandeira almocei no “Champenoise Bistrô” e conheci a enóloga Marina Santos que produz vinhos orgânicos artesanalmente “Vinha Unna”.
Não foi difícil encontrá-los, certamente haverá outros, neste conceito, que o curto tempo não possibilitou. Produzem com aquilo que cultivam em propriedades próprias em torno de dez hectares. Alguns com formação em enologia, mas integrados ao campo, preocupados com o tratamento fitossanitário do vinhedo diante da evolução da agricultura orgânica e de resíduos agrotóxicos na bebida e ainda introduzindo e testando a adaptação de novas castas autóctones.
Conversar com esses artesões e conhecer seu trabalho, como o Sandro da Terragnolo, o Zorzi da Peculiare, o Celso da Larentis ou o Cesar Petrolli da Barcarola, valeu a viagem. Foi o encontro do sonho de seus antepassados que chegaram e desbravaram aquela região com sacrifícios e dedicação. Justificam a herança genética com princípios evoluídos e estão preparados para a conquista de consumidores que prezam por confiança e qualidade.
Por estar dirigindo optei por não degustar, apesar da insistência de todos fiquei no visual, olfativo e na análise da ficha técnica, até que as encomendas cheguem. Uma frustração! Mesmo assim, senti segurança no que e como fazem.
Obviamente para alguns, um agradará mais que outro. Não me interessa saber quem e no que é melhor, quero o vinho como parte da nutrição e assim busco consumir a essência do resultado de trabalho honesto e no que avalio ser uma ótima relação preço/satisfação.
Quer mais informações: www.estradadosabor.com.br, www.terragnolo.com.br, www.peculiare.com.br, www.larentis.com.br, www.barcarola.com.br
Irineu Nalin é economista e ambientalista. (redigido em 24-03-2016)