Em baixa há cinco anos, estoque mundial de café cai para 1,99 milhão de sacas

30 de setembro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

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30/09/2010
 
Em baixa há cinco anos, estoque mundial cai para 1,99 milhão de sacas
Fenômenos como La Niña podem prejudicar ainda mais a oferta internacional e também a brasileira
 
Felipe Peroni
fperoni@brasileconomico.com.br
Com os problemas no abastecimento mundial, os produtores brasileiros esperam que a alta do café deste ano seja duradoura, e que os preços não voltem aos níveis dos últimos anos, desestimulantes. “O mercado vai ter que se acostumar com um novo patamar de preços”, afirma Lúcio Araújo Dias, superintendente comercial da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé).


O motivo é a redução dos estoques mundiais da commodity. Em 2004, os estoques mundiais de café eram superiores a 5 milhões de sacas de 60 kg. Desde então, iniciaram uma trajetória gradual de queda, atingindo 3 milhões em 2009. Este ano, com a baixa oferta internacional ocorrida pelas quebras da Colômbia, a cifra desabou para 1,99 milhão de sacas em16 de setembro.


O processo de recomposição desses estoques é lento, e é necessário no mínimo uma temporada para recuperar os níveis após uma quebra. No entanto, o próximo ano promete novas turbulências. No Brasil, será ano de baixa oferta, pela bienualidade dos cafezais — os pés de café, após um ano de alta colheita, tendem a ser menos produtivos, pelas características da planta.


E a safra brasileira ainda deve ser prejudicada pelo tempo seco previsto para os próximos meses, consequência do fenômeno La Niña. Com a falta de chuvas, as floradas devem ocorrer em menor quantidade, diminuindo a produção de grãos. “Haverá uma forte queda na produção de café na próxima safra. A seca está muito acentuada”, prevê Armando Matielli, diretor-executivo da Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite (Sincal). “No ano que vem, o preço vai disparar”, aposta.


Cenário internacional
A baixa oferta no Brasil pode ser agravada ainda mais por uma temporada fraca nos demais países produtores. Na América Central, a temporada de furacões pode abalar novamente a colheita, como ocorreu este ano, em que a produção foi afetada pela tempestade tropical Agatha. Na Colômbia, o clima deve influenciar negativamente a produção pela terceira vez seguida: lá o efeito do La Niña é o oposto do que ocorre no Brasil, causando maior incidência de chuvas.


De acordo com Gil Barabach, o quadro de altos preços não vai se inverter. “No cenário mais otimista, no caso de termos uma colheita internacional boa, os preços podem afrouxar um pouco”, afirma. “Mas se o pior cenário se confirmar, os preços podem ter outra disparada. Vai ser assim até que haja tempo de recompor os estoques”.


Para o analista, o mercado não corre o risco de sofrer uma bolha especulativa. “Sempre há um componente de especulação em produtos negociados na bolsa, mas desta vez a alta é baseada em fundamentos de mercado.”


Exportações devem atingir US$ 5 bilhões
As exportações de café verde totalizaram 19,6 milhões de sacas de 60 kg em 2010 (até agosto, dado mais recente), de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A cifra praticamente repete o dado do mesmo período de 2009. No entanto, a receita disparou com a alta dos preços. Em 2009, até agosto, o faturamento das exportações da commodity foi de US$ 2,68 bilhões. Este ano, a cifra atingiu US$ 3,11 bi, ou US$ 430 milhões a mais. Até o fim do ano, a previsão da Cecafé é que os embarques fiquem iguais aos do ano passado, entre 30 milhões e 30,5 milhões de sacas. Já a receita deve bater o recorde dos US$ 5 bilhões, superando os US$ 4,27 bilhões do ano passado e o recorde anterior, de US$ 4,75 em 2008. Os maiores mercados compradores são a União Europeia e os Estados Unidos. A UE respondeu por 50% das vendas externas do setor neste ano, até agosto, com forte participação da Alemanha e Itália. Os EUA ficam em segundo lugar, destino de 20% das exportações do produto.
 
 

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