Das lavouras da pequena Araponga, na Zona da Mata, saem grãos de café frequentemente premiados em concursos nacionais. Porém, o que é orgulho para os moradores da cidade, distante 284 quilômetros de Belo Horizonte, é também um dos componentes de uma estatística nada nobre, a de segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Minas Gerais.
A razão principal dessa baixa qualidade de vida é a educação, que teve o pior desempenho do estado, de 0,339 ante 0,744 de Montes Claros, o melhor de Minas. O indicador ficou também bem atrás dos outros dois que compõem o IDHM: a renda (0,597) e a expectativa de vida da população (0,760).
O presidente da Cooperativa de Crédito dos Agricultores Familiares de Araponga, Jésus Ermelindo Macedo, entende que o principal problema é a extensão do município, que dificulta o transporte dos estudantes até as duas escolas que oferecem ensino médio, uma na área urbana e outra no distrito de Estevão de Araújo.
Araponga tem 303km² e é um pouco menor que Belo Horizonte, com 331km². “O ônibus da prefeitura faz o transporte, mas não leva a pessoa até a porta. Os estudantes têm que caminhar uma certa distância. Uns e outros não aguentam o esforço e acabam desistindo”, afirma Macedo.
A secretária municipal de Educação, Viviane Aparecida Gomes Moura, informa que há na cidade 11 escolas municipais, mas elas oferecem apenas o ensino fundamental e estão localizadas em diferentes pontos da zona rural. O município tem 8 mil moradores, mas apenas 492 alunos matriculados. “É preciso nuclear as escolas”, avalia a secretária. Isto é, reduzir a quantidade de unidades de ensino, pois, segundo Viviane, algumas têm poucos alunos, o que acaba desmotivando os professores.
Rosângela Gonçalves Jacovine, diretora da Escola Estadual Cônego José Ermelindo de Souza, uma das duas escolas de ensino médio da cidade, entende que a lavoura do café influencia no resultado. Durante a colheita da safra, entre maio e outubro, muitos faltam às aulas. “Há alunos que vêm uma ou duas vezes por semana”, detalha a diretora. Na análise dela, o fato de a economia da cidade ser essencialmente rural também contribui para o baixo desempenho da educação. “A população se casa muito cedo. A menina com 15, 16 anos já cuida da casa, e o marido, da lavoura de café”, diz Rosângela.
O secretário de Agricultura do município, Romualdo José de Macedo, estranha a baixa colocação. Ele destaca que neste ano quatro produtores locais ganharam os primeiros lugares do Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do café. “Mais de 90% da população de Araponga vive do café. Existem produtores pequenos, com 5 mil pés, até os grandes, com mais de 200 mil pés”, informa Macedo.
O regime de contratação, porém, é temporário – a maior parte dos moradores trabalha apenas por seis meses, durante o período da colheita. Quase 70% da população vive na área rural e, segundo o secretário, se beneficiam do preço valorizado do café. As sacas do grão especial chegam a custar R$ 2 mil e as do grão comum, cerca de R$ 270.
De acordo com o IDHM, 35,58% dos jovens entre 15 e 17 anos não frequentam a escola. O último levantamento, divulgado segunda-feira, aponta também que apenas 16% da população de 18 anos ou mais havia completado o ensino fundamental e somente 9,12% o ensino médio. Percentuais bem inferiores à média de Minas Gerais: 51,43% e 35,04%, respectivamente.