Em 2017, Brasil deverá ter terceira safra abaixo da média de café conilon

O país também prevê permitir a importação da variedade pela primeira vez na história.

19 de dezembro de 2016 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado


O Brasil deve ter, em 2017, sua terceira colheita sucessiva abaixo da média de café robusta, graças a uma “ressaca” da seca, de acordo com o comentarista Carlos Brando. O país também prevê permitir a importação da variedade pela primeira vez na história.


A recuperação inesperadamente forte da produção de café arábica no Brasil, após a seca que ocorreu há dois anos, não deve influenciar a opinião dos investidores no sentido em que a produção de robusta pode renascer rapidamente, disse Brando, que é diretor da consultoria P&A Marketing.


“Depois de 2014, a produção de arábica se recuperou muito mais rápido do que o esperado, mas a mesma situação não se repete com o robusta”, disse Brando para o site Agrimoney.com, citando também diferenças agronômicas que apontam que as árvores de robusta foram mais afetadas pela falta de água por conta de uma incapacidade de atingir fontes profundas de umidade.


As árvores de robusta são cultivadas a partir de um estoque clonal, que tende a produzir “várias raízes superficiais”, estas que permanecem mais próximas da superfície, contrastando com a raiz única e profunda desenvolvida pelas plantas semeadas.


Essa tendência para o enraizamento superficial é reforçada também pela maior utilização da irrigação em regiões como o estado do Espírito Santo, grande produtor de robusta, que no Brasil é conhecido como conilon.


Árvores preguiçosas


“A irrigação torna as árvores preguiçosas, porque elas não precisam mandar raízes para o solo”, disse Brando.


Este fator, segundo ele, tornou as árvores particularmente vulneráveis às proibições de irrigação introduzidas no ano passado em muitas áreas afetadas pela seca.


“Quando os agricultores não puderam irrigar mais, as raízes das árvores não eram profundas o suficiente para tocar a umidade restante do solo, que estava em camadas mais baixas”, apontou o diretor.


Ele também lembra que muitas árvores morreram e, enquanto são replantadas, não poderão produzir até 2018.


Importação de robusta


Estes comentários também chegam em um momento no qual o governo brasileiro considera facilitar o caminho para o país – que é o segundo maior produtor de café robusta e, geralmente, um grande exportador – importar a variedade pela primeira vez.


As importações nunca foram proibidas oficialmente, mas eram praticamente inviáveis no país.


No entanto, a escassez de suprimentos, após as colheitas terem sido afetadas pela seca em 2015 e 2016, levou a uma pressão por parte das torrefadoras e também da Associação Brasileira de Café Solúvel (Abics), que pedem pela importação do grão.


O Vietnã, primeiro maior exportador de robusta e a Indonésia, terceira maior, foram nomeados como prováveis origens do café a ser importado.


Lição tirada do cacau


Muitos torrefadores podem trocar os grãos de robusta por arábica, mas essa não é uma solução para muitas empresas de café solúvel, que têm compromissos a longo prazo com marcas de terceiros.


A demanda da indústria de café solúvel para o robusta está em 3,6 milhões de sacos ao ano, dos quais 80% são exportados.


Porém, Brando lembra que algumas objeções dos produtores à exportação são compreensíveis, depois de um movimento similar ao que ocorreu com o cacau. No final dos anos 80 e começo dos anos 90, o fruto que produz o chocolate teve um surto de vassoura-de-bruxa e, logo, os produtores foram culpados por impedir a recuperação da própria indústria após o surto passar.


“O cacau estava sendo importado de países que subsidiavam sua produção e com os quais os produtores brasileiros nunca poderiam competir”, finalizou Brando.


Tradução: Izadora Pimenta


Fonte: Agrimoney

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