03/09/2014
Nestlé quer trazer produto do exterior para produção de cápsulas de café.
Senador quer debater o caso em audiência pública.
O senador Ricardo Ferraço se mostrou contrário à importação de café verde pela empresa Nestlé – sendo que o mesmo produto é produzido no Espírito Santo -, após a multinacional anunciar a abertura de uma indústria de cápsulas de café e informar que precisaria trazer os grãos de outros países, como a Colômbia, Etiópia e Vietnã, para compor a mistura que está contida na embalagem do produto. “Na minha opinião, é um contrassenso”, declarou.
De acordo com o senador, é preciso “valorizar os centenas de milhares de produtores do estado que dão muito duro para manter as lavouras”, o que não ocorreria caso a importação for permitida, segundo ele. Por meio de nota, a Nestlé informou que o investimento vai resultar em benefícios, como incremento do parque industrial, geração de emprego e valorização da produção nacional de matérias-primas, incentivando o desenvolvimento do produtor local.
Na manhã desta quarta-feira (3), o secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli, disse que o governo do Espírito Santo assinou um manifesto contra a implantação da fábrica. A Federação de Trabalhadores da Agricultura, a Federação Patronal da Agricultura, as cooperativas de café do Espírito Santo e a Associação Brasileira da Indústria do Café assinaram o manifesto.
Na tarde desta quarta, Ricardo Ferraço contou que entrou em contato com o ministro da Agricultura, Nero Geller, para pedir explicações sobre esse projeto e convidá-lo para uma audiência pública que será realizada para debater essa questão. “Ainda não há data marcada para que ela ocorra, mas deve acontecer por volta do mês de outubro. Vamos convidar representantes da cafeicultura nacional e, claro, representantes do nosso estado”, explicou.
Segundo o senador, caso a empresa possa trazer de fora essa matéria-prima, um dos setores mais rentáveis do Espírito Santo e do Brasil, como um todo, acabará sendo prejudicado. “Essa atividade é economicamente e socialmente importante para nós. Cerca de 400 mil capixabas, direta ou indiretamente, vivem do café. Será uma competição injusta, porque é mais caro produzir café no Brasil do que em alguns outros países”, disse Ferraço.
Ainda de acordo com o parlamentar, é uma “ingenuidade” acreditar que essa medida vai acontecer de forma isolada já que, para ele, ao abrir espaço para uma empresa, outras também irão cobrar o mesmo tratamento, passando a ter direito à importação desse produto. “Na minha opinião, é um contrassenso”, declarou. Ele destacou, ainda, que o outros problemas poderão chegar ao país junto com os grãos. “Você tem a possibilidade de importar problemas sanitários, porque esses cafés virão verdes”.
Para Ferraço, apesar dos benefícios destacados pela empresa em questão, o fato de trazer de fora um produto com alta produtividade interna no país não tem lado positivo. “Eu acho que essas questões são super relevantes. Uma decisão como essa reduz a remuneração dos agricultores e, assim, cria dificuldades para os nosso produtores. Aqui, o café tem um fator de equilíbrio social muito grande, porque contribui para manter as pessoas no seu local de origem, que é o interior do estado. Eu não vejo nenhum ponto positivo nessa questão”, concluiu Ricardo Ferraço.
Federação também é contra
Em uma reunião com representantes do setor cafeeiro, a Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes) também informou, nesta quarta-feira (3), que é contrária à importação de cafés de outras origens para compor o conteúdo de produtos produzidos no Brasil.
De acordo com o presidente da Faes, Júlio Rocha, a cafeicultura representa entre 40 e 45% da renda rural capixaba e deve ser defendida, já que este tipo de transação irá beneficiar o café importado, abrindo concorrência com o mercado interno brasileiro, podendo prejudicar o seu crescimento. A federação também esclareceu que não é contra a instalação da fábrica de café em cápsulas, mas contra a importação de cafés verdes.
Em nota, a Nestlé disse que tem total interesse em trazer para o Brasil uma fábrica de cápsulas e vem desenvolvendo estudos para assegurar a consistência e sustentabilidade do projeto. A empresa ainda informou que o investimento vai resultar em benefícios importantes como incremento do parque industrial, geração de emprego e valorização da produção nacional de matérias-primas, principalmente café, incentivando o desenvolvimento do produtor local.