É bom e ainda por cima certificado

Os brasileiros encontram cada vez mais alimentos com certificação socioambiental, a garantia de que foram produzidos de forma sustentável e com tantos cuidados que acabam agradando mais ao paladar

03 de junho de 2010 | 1h 26


Cristiana Menichelli – O Estado de S.Paulo

A agricultura sustentável, baseada nos princípios das boas práticas no campo, preservação e biodiversidade ambiental, além de responsabilidade social e comércio justo, é hoje a última fronteira do sabor que atrai cada vez mais consumidores. A certificação socioambiental, que atesta os preceitos acima, está vinculada às diferentes etapas do processo produtivo, desde o manejo dos recursos naturais à segurança do trabalhador. E ao receber tantos cuidados, é de se esperar que o produto final também agrade mais ao paladar.



Mas, mais que sabor, a certificação é garantia de origem. E num mundo globalizado, em que nem sempre é possível optar pelos alimentos locais, a rastreabilidade torna-se o elo entre produtores e consumidores.


Com maior ou menor destaque, esse é o ponto comum dos selos socioambientais da Rainforest Alliance – que atua no País em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) -, Utz Certified e Globalgap, algumas das instituições internacionais certificadoras mais conhecidas. Esses selos não proíbem, entretanto o uso de defensivos agrícolas, que pode ser feito com controle. A garantia de ausência de agrotóxicos é conferida por outros tipos de selo, o orgânico e o biodinâmico. No Brasil, o Instituto Biodinâmico (IBD) atesta a agricultura orgânica e biodinâmica.


Em ambos os casos, a certificação abre portas para novos mercados, motivando o produtor a aprimorar a qualidade e a gestão. Ganha também o consumidor, com a certeza de estar comprando um produto alinhado com a conservação ambiental e o bem-estar do trabalhador rural.


A lista de produtos brasileiros certificados está crescendo. Inclui frutas, verduras, vinho, cacau, chá, café, açúcar e laranja. / COLABOROU CÍNTIA BERTOLINO


 


Laranja


Com uma produção anual de 244 mil toneladas, a Cambuhy Agrícola, em Matão, centro-oeste paulista, está entre os grandes produtores nacionais de laranja e é a única do Brasil com o selo socioambiental da Rainforest.


Nos laranjais, a certificação implica restrições ao uso de produtos químicos. Eles não são proibidos, mas a aplicação deve ser cuidadosamente controlada. Para José Luiz Amaro Rodrigues, diretor-geral da Cambuhy, essas medidas são uma importante garantia para a segurança alimentar. \”Com a rastreabilidade é possível identificar cada etapa do processo produtivo, pois tudo está registrado, dos dados referentes à plantação de uma muda aos defensivos agrícolas utilizados\”, diz Rodrigues. Porém, gastronomicamente, o que determina se a laranja é boa é a variedade e o terroir.



Cacau


No Brasil, apenas duas fazendas cacaueiras têm a certificação socioambiental emitida pela Rainforest: a M. Libânio e as Fazendas Reunidas Vale do Juliana. Ambas ficam no sul da Bahia e exportam quase a totalidade do cacau certificado para países como o Japão.


O cacau da Vale do Juliana foi o primeiro a obter o certificado, em 2008. \”Já tínhamos uma preocupação socioambiental antes de receber a certificação, mas ela ajudou a organizar nossas ações. Cacau certificado tem maior valor no mercado\”, diz a engenheira ambiental Tayla Ribeiro Marrocos, da Vale do Juliana.


Uma pequena parte do cacau certificado do Vale do Juliana fica no Brasil. Depois de ser processado ele vira uma linha especial de chocolates criados pela paulistana Chocolat du Jour.



Café


A certificação de cafés no Brasil começou há pelo menos dez anos. E hoje ele é o produto com mais fazendas auditadas: 80, em 100 mil hectares entre Minas, São Paulo e Bahia. Em 2010, 1 milhão de sacas de café devem ser produzidas com o selo Rainforest. \’\’O café certificado tem crescido 50% a cada ano, desde 2005\’\’, diz Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente de projetos e mercado agrícola do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).


\’\’Se uma fazenda de café é certificada, as chances de vender seu café especial com ágio entre R$ 10 e R$ 30 por saca são bem maiores\’\’, diz Gonçalves. \’\’Estamos vivendo um momento interessante para o café brasileiro certificado. Com a baixa produção da Colômbia nos últimos dois anos, a procura pelo produto brasileiro tem aumentado.\’\’

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