Drawback I – No próximo mês, Minas inicia a colheita de café e gera 1,75 milhão de empregos

22 de fevereiro de 2007 | Sem comentários Origens Cafeeiras Produção
Por: 18/02/2007 10:02:19 - Hoje em Dia

Nairo Alméri
ColunaNA@hojeemdia.com.br
café do Vietnã (1)



No próximo mês, o Brasil inicia a colheita de café, projetada para 42,5 milhões de sacas de 60 kg, das quais 33 milhões (77,6%) serão do tipo arábica. O restante da safra, de robusta – qualidade inferior. No outro lado do planeta, o Vietnã, 2º no ranking mundial dos produtores, colherá ao redor de 20 milhões de sacas do robusta.

A temporada da safra retomará uma polêmica tratada aqui, dia 29 de janeiro: ‘Importação de café do Vietnã‘. As indústrias de solúveis e torrado/moído e das trading’s de grãos in natura, alegando que farão operação drawback, pressionam o Governo para terem os contratos de importações liberados.

Nos bastidores da cadeia do café, o assunto mexeu com os nervos dos empresários. Diante da importância que Minas Gerais ocupa no setor (50% da safra nacional) e com o início da safra em 30 dias, reproduzo aqui, hoje e amanhã, e-mails trocados por dirigentes. O affair foi aberto com a análise ‘O sistema drawback e o cafeicultor‘, do presidente do Centro de Excelência do café (CEC) das Matas de Minas e secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Viçosa (MG), Luciano Piovesan Leme‘, que segue:


‘… somos desarticulados, desorganizados…‘

‘No dia 29/01/07, no Caderno Economia do jornal ‘Hoje em Dia‘, o colunista Nairo Alméri chama a atenção de que ’…o setor cafeeiro deu pouca (ou nenhuma) importância à notícia de que a indústria nacional de solúveis e torrado/moído e as trading’s de in natura apertam o cerco ao Governo para abrir as importações de grãos verdes, com foco na compra de café das lavouras do Vietnã …’

A proposta da indústria é a adoção imediata do sistema de drawback, permitindo à indústria a importação de cafés para processamento e posterior exportação.

A afirmação seria cômica, se não fosse trágica. Afinal, o que está escrito nas entrelinhas ou nas letrinhas miúdas do ‘contrato‘ que nós não estamos vendo ou percebendo?
Qual a pergunta que o setor produtivo ainda não fez sobre o drawback e que deveríamos estar firmemente questionando?

Senão vejamos:

– A quem interessa diretamente a implantação do sistema de drawback?

– Qual a vantagem (se é que existe) do drawback para o cafeicultor?

– Qual a mensagem que podemos tirar da sinalização da indústria, da OIC, dos traders e demais ‘visionários‘ quanto à oferta e demanda de café para os próximos anos?

– Considerando o Brasil como maior produtor e exportador mundial de café, segundo maior consumidor mundial e as sinalizações de uma oferta menor de café no Brasil e no mundo, estoques baixos nacionais e internacionais e aumento de consumo da bebida, qual a vantagem do sistema drawback para o cafeicultor brasileiro?

– Em contrapartida à adoção do sistema drawback, qual a proteção será dada ao cafeicultor brasileiro, que tem uma das legislações trabalhistas mais duras do mundo, um sistema tributário impiedoso, os juros mais altos do planeta, um aumento significativo dos custos de produção e um tumultuado sistema cambial?

Estas e outras questões devem ser urgentemente respondidas e debatidas pelo setor cafeeiro, sem a interferência e lobby da indústria, mas com a cautela e transparência que o assunto merece.

Entretanto, a maior e triste constatação é a de que nós, produtores rurais brasileiros, somos desarticulados, desorganizados e completamente ligados apenas aos nossos cordões umbilicais, acostumados a ‘chorar o leite derramado‘ e a buscar um culpado ou um bode expiatório. É mais fácil do que se envolver, participar de reuniões, discutirmos um assunto que ‘não entendemos muito‘.

Porém, enquanto ‘dormimos em berço esplêndido‘, estamos presenciando, há três anos consecutivos, um aumento gradativo brutal de transferência de renda do setor primário para outros setores da economia, onde a classe produtora vive um fenomenal momento de descapitalização, incapacidade de honrar compromissos, debilidade para realizar investimentos, com velocidade crescente de deficiência em adubação, tratos culturais e investimentos em equipamentos e máquinas.

Estima-se que a atividade da cafeicultura é responsável por empregar 4 milhões de pessoas na produção e cerca de 10 milhões de empregos são gerados quando considerados o agribussines cafeeiro‘.


1,75 milhão de empregos em Minas


‘Em Minas Gerais, maior produtor nacional de café (51,8% da produção nacional), a cafeicultura exerce grande influência na economia do Estado, e em vários municípios produtores as suas economias locais são dependentes diretas da atividade.
A utilização dos serviços de toda família na cultura torna-se relevante sob o ponto de vista sócioeconômico, determinando grande aumento na oferta de empregos e contribuindo de certa forma para aliviar pressões sociais estimuladas pelo êxodo rural.

Na atividade cafeeira, um trabalhador cultiva três hectares de café durante o ano todo, em todas as etapas de produção, e considerando que o Estado de Minas Gerais possui uma área cultivada de café de 892 mil hectares em produção, com 2.287.000 cafeeiros, e em formação, no Estado, existem cerca de 164.900 hectares com 679.000 cafeeiros, seriam absorvidos 352.300 trabalhadores apenas no segmento de produção. Admitindo-se que cada trabalhador tem uma família de cinco pessoas, pode-se dizer que 1,75 milhão de pessoas são dependentes diretos do setor no Estado.

Como característica da atividade no Estado, com exceção do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, predomina a pequena produção, sendo que 50% das propriedades produzem até 100 sacas de café beneficiado por ano, e 83% produzem menos de 500 sacas. A área média dos cafezais do Estado é de 18,6 hectares e 36.000 cafeeiros por propriedade.
Na Zona da Mata Mineira ou nas Matas de Minas, 71 municípios são responsáveis pela produção de café, com área total de 18.704,12 kmý e área cultivada em café de 287.350 hectares, sendo que 71,78% são de pequenas propriedades; 26,27% são de médias; e 1,54%, de grandes áreas cultivadas com cafés‘. (continua amanhã)
 
 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.