OPINIÃO
15/02/2008
RONALD MANSUR
Mais uma vez o cafeicultor capixaba do conilon robusta tem que ficar alerta, mas muito mais alerta com relação à onda de pressões que virão do setor industrial para a sua importação.
No ano passado aconteceu o primeiro ensaio para fazer com que os nossos portos recebessem o robusta. Se por um lado a pressão foi barrada e não aconteceu a importação, por outro ponto de vista os industriais conseguiram em grande parte uma vitória: o mercado interno ficou temeroso e evoluiu em termos de preços aquém do esperado para a ocasião.
Agora mais uma vez a indústria emitiu o primeiro sinal do ano para a batalha da importação. É uma estratégia bem feita e bem montada, mas muito melhor quando colocada em campo.
Desta vez foi a Cia. Iguaçu de Café Solúvel, a terceira maior exportadora de solúvel do Brasil, nas palavras de seu vice-presidente, Rodolpho Takahahi, que, em entrevista ao jornal paulista “Valor Econômico” do dia 6 de fevereiro, deu a pista do que se pretende. A reportagem fala que a tarifa européia sobre café solúvel, proibição de “drawback” e custos elevados inibem aportes no país. Em manchete, o diário paulista diz que a Cia. Iguaçu planeja investir em fábrica na Europa ou Rússia.
Para um melhor entendimento do que se trama mais uma vez contra a cafeicultura capixaba, afinal de contas somos o maior produtor de robusta conilon em quantidade (7,1 milhões de sacas neste ano, de acordo com previsão da Companhia Brasileira de Abastecimento/Conab), abaixo temos dois parágrafos da reportagem.
“Além dos custos, pesam sobre a decisão do grupo de investir no exterior o fato de o governo brasileiro não autorizar operações de ‘drawback’ (importação de insumos para reexportação) e a tarifa de 9% imposta pela EU sobre o produto do Brasil. As indústrias de solúvel são as principais consumidoras de café robusta, menos nobre que o arábica. Apesar de o Brasil ser o maior produtor de café do mundo, a oferta de robusta representa no país, dependendo da safra, um terço ou mesmo apenas um quarto da colheita total.
“Durante boa parte do ano passado, os preços do café robusta estiveram mais atraentes no mercado internacional do que no Brasil. Atualmente, a relação de preços entres os mercados externo e interno está equilibrada. ‘Mas queremos ter a opção de escolha de matéria-prima’”, disse Takahasshi.
O Espírito Santo não pode se calar diante da armadilha que o setor industrial começa a armar. As lideranças precisam ficar atentas; o plano da importação já deu o primeiro passo e ganhou divulgação. O que foi publicado é uma faceta da situação. Na verdade, neste momento, as pressões nos gabinetes do governo federal já estão colocadas e postas na mesa. A pressão seria igual à de um iceberg, onde o gelo que vemos acima do mar é uma décima parte do seu volume.
A reportagem no “Valor Econômico” é a parte que vemos, é apenas dez por cento da realidade.
Vamos mais uma vez reagir e mostrar que a cafeicultura capixaba não pode ficar à mercê de pouca gente endinheirada. Somos muitos milhares que dependem do café, tenhamos ou não lavoura de conilon. Olho vivo, capixaba.
Ronald Mansur é jornalista. e-mail: ronaldmansur@gmail.com