Valor Econômico
24/03/15
O fortalecimento do dólar é negativo para a qualidade de crédito de diversos países, incluindo o Brasil, afirmou a agência de classificação de risco Moody’s em relatório que discute os efeitos da alta da moeda americana sobre economias com elevada necessidade de financiamento externo.
Segundo a Moody’s, a pressão da alta do dólar pode ser maior à medida que reflete saídas de capital ou ingressos significativamente mais baixos em determinados países, o que prejudica o rating soberano. “Países com grandes déficits em conta corrente, como Turquia e África do Sul, e, em menor escala, Colômbia e Brasil, estão vulneráveis a fluxos externos líquidos mais fracos, porque isso poderia apontar possíveis dificuldades de financiar os déficits”, afirmou a agência no relatório.
O câmbio desvalorizado em relação ao dólar também é negativo para o crédito de países que têm altos encargos da dívida externa, como Turquia, Malásia e Chile, porque isso aumenta os custos de refinanciamento e sugere um “encolhimento” nas reservas internacionais.
A Moody’s também afirmou que algumas vulnerabilidades importantes contribuíram para a pressão no câmbio. No caso do Brasil, onde a inflação é alta, a agência destacou que a pressão externa impede um afrouxamento da política monetária e limita a capacidade das autoridades de impulsionar o crescimento. O relatório afirmou ainda que o Banco Central (BC) preservou as reservas internacionais e permitiu que o valor de sua moeda se depreciasse. A agência atribui rating “Baa2” ao Brasil, com perspectiva negativa.
A pressão ocasionada pelo fortalecimento do dólar assemelha-se à vivida em meados de 2013, quando os mercados financeiros se ajustaram à possibilidade de reversão da política monetária americana, segundo a Moody’s. “O antecipado aumento dos juros nos Estados Unidos e perspectivas contidas de crescimento para alguns países estão tornando os investimentos nesses mercados menos atrativos”, afirmou Marie Diron, vice- presidente sênior da agência.
Em outro relatório, a Moody’s ressaltou que a provável subida dos juros nos Estados Unidos – que deve começar a partir de meados deste ano – deve afetar as emissões de dívida dos bancos da América Latina. Tal movimento “pode limitar as oportunidades de refinanciamento para os bancos da região”.
Desde o começo do ano passado e particularmente nas últimas semanas, afirmou a Moody’s, as principais moedas da América Latina se desvalorizaram em relação ao dólar. “Isso aumenta a exposição dos bancos, dado que mais de dois terços da dívida existente é denominada em dólares”, afirmou a Moody’s.
Para a agência, a maior exposição ao risco cambial recai sobre os bancos brasileiros com bônus emitidos no exterior, já que representam 67% da dívida em circulação e 80% dos vencimentos de 2015. “Porém, como esses volumes representam cerca de 3,3% e 0,3%, respectivamente, dos passivos dos bancos brasileiros, essa exposição é mais do que administrável”, ponderou Moody’s.
A crise da Petrobras, por outro lado, traz incertezas sobre o futuro da companhia e pode respingar nos bancos do país. De acordo com a agência, os investidores estão exigindo um prêmio maior para novas emissões brasileiras. Ao mesmo tempo, estão submetendo a um maior escrutínio as instituições do país com exposição à estatal, à cadeia de óleo e gás e às construtoras. “Na melhor das hipóteses, os bancos brasileiros pagariam um alto prêmio para fazer novas captações ou enfrentariam uma demanda muito seletiva dos investidores”, destacou a Moody’s.
Esses fatores, somados à retração da economia brasileira, devem fazer com que 2015 seja mais um ano fraco para captações de bancos da América Latina. O Brasil é tradicionalmente responsável pelo maior volume de emissões de bônus da região.
“Com a expectativa de queda no PIB do Brasil, isso vai pesar no crescimento dos empréstimos na região como um todo, a despeito de melhores perspectivas econômicas em outros países”, afirmou a agência no relatório.
De acordo com a Moody’s, as emissões externas de dívida dos bancos da América Latina recuaram 41% no ano passado, para US$ 10,9 bilhões, o menor nível desde 2009. Foi o segundo ano consecutivo de retração.
A desaceleração brasileira pesou no desempenho da região. Bancos do país captaram no exterior em 2014 um volume 30% menor que no ano anterior, já levando em conta as emissões de US$ 3,8 bilhões em bônus subordinados feitas pelo Banco do Brasil, pela Caixa e pelo BTG Pactual, elegíveis a compor o capital de nível 1 dessas instituições.
Em contrapartida, a Moody’s observou que continuaram a crescer as emissões de títulos em moeda local no mercado brasileiro, cujo estoque já supera o de emissões externas. Aumentaram as captações via letras financeiras (LF), letras de crédito imobiliário (LCI) e letras de crédito do agronegócio (LCA), afirmou.
Além de um menor volume das instituições brasileiras, a Moody’s destacou que os bancos da região de forma geral aproveitaram as boas condições do mercado até 2012 para captar recursos. Por isso, não tinham urgência paratomar dívidas no ano passado.