Dólar em baixa emperra agronegócio

O presidente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa, disse que a cotação atual da saca (60 quilos) de café arábica – de melhor qualidade – oscila entre R$ 180 a R$ 230, o que seria insuficiente para

6 de dezembro de 2005 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Hoje em Dia por Rafael Sânzio

A valorização do real perante o dólar e a queda de preço dos produtos agrícolas no mercado internacional, que fazem com que os produtores rurais embolsem menos reais na venda de sua produção, já afetam toda a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro. A Bunge Brasil, gigante do agronegócio nas áreas de alimentos e fertilizantes, confirmou nessa segunda-feira (05-12) o fechamento de sete de suas 35 unidades da área de fertilizantes no país, por conta da retração do mercado. O golpe também foi sentido pelos setores de máquinas agrícolas e sementes, que registram queda de vendas ao longo do ano.

Conforme o diretor de Comunicação da Bunge Brasil, Adalgiso Telles, a empresa deverá anunciar na próxima semana quais serão as unidades de fertilizantes a serem fechadas, após o comunicado formal aos funcionários. A Bunge Brasil tem 4 mil funcionários na área de fertilizantes e, conforme Telles, 10% do quadro de pessoal deverá ser demitido.

Telles não confirmou se unidades em Minas Gerais também poderão ser desativadas. A principal operação da Bunge Brasil em Minas é em Araxá, onde há exploração de mina e industrialização de fertilizantes, mas há unidades de mistura de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) em Alfenas, Congonhal, Patos de Minas, São João do Manhuaçu, Uberaba e Varginha. Conforme o executivo, os cortes serão espalhados por todo o Brasil.

O diretor da Bunge Brasil disse que o enxugamento foi provocado pela queda de 15% no mercado de fertilizantes, cujas vendas deverão passar de 22,8 milhões de toneladas para 19,5 milhões em 2005. Conforme Telles, a retração foi provocada pela valorização do real, que encolheu a receita dos produtores rurais, que reduziram o investimento na lavoura.

O efeito em cadeia da crise que se alastra pelo campo atingiu também os produtores de sementes. Fernando Borges Caixeta, responsável pela área comercial da DB Sementes, que fornece para o Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Sudoeste de Goiás, registra que a empresa vendeu 30% do estoque, apesar de o período de plantio de soja estar no final. “Há dois anos, eu tinha 98 mil sacas de sementes e vendi 90 mil. Este ano, tinha 125 mil sacas e vendi 35 mil” comparou.

Na avaliação de Caixeta, a queda ocorreu porque muitos produtores optaram por salvar sementes da colheita para o replantio e correr o risco da perda de produtividade, ao invés de comprar sementes selecionadas. “Este ano foi péssimo para o setor sementeiro”, desabafou.

Victor Franco, supervisor de vendas da Divisão Agrícola da revenda Massey Ferguson Tracbel, aponta que as vendas de máquinas para o setor caíram cerca de 40% em todo o país. Conforme o executivo, a filial da Tracbel no Triângulo Mineiro, que fornece para oito municípios da região – forte produtora de soja -, teria registrado o mesmo índice de perdas se não tivesse reforçado as vendas para cafeicultores, que ainda fizeram algum investimento.

Ma Tien Min, presidente da Comissão de Cereais da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), atribuiu ao Governo federal a responsabilidade pela crise. Conforme o ruralista, ao resistir em renegociar as dívidas dos produtores, o Governo provocou a descapitalização do setor, que já amargava perdas com a valorização do real.

O presidente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa, disse que a cotação atual da saca (60 quilos) de café arábica – de melhor qualidade – oscila entre R$ 180 a R$ 230, o que seria insuficiente para cobrir custos de produção. Costa reconheceu que há produtores descapitalizados e endividados que pararam de adubar a lavoura, mas que há outros em melhor situação.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.