Mercado doméstico teve dia instável na expectativa de uma solução para fragilidade fiscal da Grécia
Taís Fuoco, da Agência Estado
SÃO PAULO – A moeda brasileira continuou a “seguir o vento do euro”, nas palavras de um operador de câmbio, e, diante das incertezas que ainda pairam sobre a ajuda da União Europeia à Grécia, acompanhou a queda da divisa do bloco. Com isso, o mercado doméstico de câmbio teve um dia de instabilidade, enquanto o dólar se valorizava ante a maior parte das moedas internacionais. No pregão local, o dólar comercial fechou em alta de 0,11% a R$ 1,849; na Bolsa de Mercadorias & Futuros, o dólar à vista caiu 0,16%, mas fechou na mesma cotação do mercado interbancário, de R$ 1,849. A taxa máxima registrada hoje durante as negociações foi de R$ 1,859 e a mínima, de R$ 1,839.
“Como o dólar sobe hoje em praticamente todo o mundo, o Brasil também seguiu. A alta por aqui é só uma correção dos dois últimos dias, nada mais que isso”, afirmou Ovídio Soares, operador de câmbio da Finabank. Nos dois pregões anteriores, a moeda perdeu 2,27% do seu valor.
Em relação à Grécia, o conselho diretor do Banco Central Europeu (BCE) promoveria hoje uma teleconferência para trocar avaliações sobre a crise da dívida do país, mas uma fonte da Alemanha afirmou à agência Dow Jones que nenhuma decisão deve ser tomada hoje e que o tema tampouco estaria na pauta da reunião de cúpula da União Europeia marcada para amanhã. Perto das 16h40, o euro caía 0,09%, a US$ 1,3741, enquanto o dólar se apreciava ante a divisa japonesa, com alta de 0,30%, a 89,99 ienes.
No mercado de câmbio interno, a entrada de dólares continuou forte no Brasil na primeira semana de fevereiro, segundo os números divulgados hoje pelo Banco Central. O País recebeu US$ 1,917 bilhão entre os dias 1º e 5 de fevereiro. O resultado de apenas uma semana superou todo o ingresso de janeiro, quando o fluxo cambial ficou positivo em US$ 1,075 bilhão.
Segundo o BC, o resultado da semana passada foi liderado pelo segmento financeiro. Na conta onde são registrados as transferências para aplicação em ações e títulos, investimentos produtivos e remessas de lucros, a semana teve ingresso líquido de US$ 1,517 bilhão, resultado também superior ao US$ 1,215 bilhão de todo mês de janeiro.
O fluxo cambial teve, ainda, o reforço do segmento comercial que registrou ingresso líquido de US$ 400 milhões, ante a saída de US$ 140 milhões amargada em janeiro. A volta ao campo positivo no segmento comercial foi gerada pelas exportações que somaram US$ 2,686 bilhões e foram suficientes para cobrir integralmente as importações de US$ 2,286 bilhões nesse período. No acumulado do ano até o dia 5 de fevereiro, o fluxo cambial é positivo em US$ 2,991 bilhões. Em igual período de 2009, o resultado era negativo em US$ 2,673 bilhões.
“Para nós, essa turbulência vai passar, não é problema do real, e assim que for resolvida a situação da Grécia, o real deve retomar a alta”, afirmou o economista Ricardo Della Santina Torres, professor de MBA Executivo da BBS.
O BC também mostrou, nos números divulgados hoje, que reduziu o volume de dólares que enxuga do mercado à vista. Os dados mostraram que as intervenções diárias do BC fizeram as reservas internacionais crescer US$ 54 milhões na primeira semana de fevereiro. Na média, o impacto das compras da autoridade monetária nas reservas foi de US$ 10,8 milhões em cada dia da semana. O valor é quase 88% menor que a média de janeiro, que foi de US$ 89,9 milhões. O dia com maior volume foi a quinta-feira passada, dia 4, quando a compra de dólares aumentou as reservas em US$ 30 milhões. Hoje, o BC adquiriu dólares em leilão no final da manhã e fixou a taxa de corte das propostas em R$ 1,847.
No segmento de câmbio turismo, o dólar cedeu 0,36% hoje e fechou em média a R$ 1,963 na ponta de venda; para compra, a moeda foi cotada em média a R$ 1,833. O euro turismo subiu 0,37% no dia para R$ 2,72 (venda) e R$ 2,52 (compra). O euro comercial fechou praticamente estável (-0,08%) a R$ 2,543.