01/09/2013
Governo demonstra preocupação com a escalada da moeda, mas a presidente Dilma afirma que o Brasil tem “bala na agulha” para resistir à turbulência cambial
Próxima do limite estabelecido pelo governo brasileiro, a inflação tem sido pressionada pela escalada do dólar. Economistas estimam que para cada R$ 0,20 de acréscimo no valor da moeda, a inflação suba um ponto percentual ao longo do ano. Desde o início de 2013, a divisa já ficou R$ 0,30 mais cara, reforçando a ameaça de que, ao final do ano, o país ultrapasse o teto da meta de 6,5% para o IPCA, índice oficial da inflação em 12 meses encerrados em julho, a alta foi de 6,27%.
Conforme Denílson Alencastro, economista-chefe da Geral Investimentos, o impacto da subida do dólar será percebido pelos consumidores nos próximos meses.
– Quando o empresário entende que a inflação está acelerada, decide repassar com mais rapidez seu aumento de custos, e isso deverá ocorrer com empresas que estão gastando mais com dólar – diz Alencastro.
O governo demonstra preocupação com a escalada. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff falou pela primeira vez sobre o tema, dizendo que o país tem “bala na agulha” para resistir à turbulência cambial, em uma referência às reservas internacionais de US$ 372 bilhões do país – essa reserva possibilita que o país faça leilões de dólares à vista, se a situação piorar.
– As reservas nos trazem alguma folga, mas isso não pode nos tornar condescendentes com erros que levam o dólar a subir, como a política econômica que causa insegurança a investidores e baixo crescimento do país – afirma o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, hoje na consultoria Contexto e Conjuntura.
O dólar mais alto não é necessariamente ruim para as contas do governo: como as reservas são em moeda americana, o país aumenta em reais seu “colchão” para pagar dívidas. No balancete, reduz a dívida líquida (em relação ao Produto Interno Bruto), tornando o país mais seguro aos olhos de investidores. Hoje, essa dívida é de 34% e está em nível crescente.
Quem comemora o dólar mais caro são os exportadores, que conseguem receber em reais valores mais altos por seus produtos. A indústria calçadista, que nos últimos anos tem reclamado de câmbio desfavorável para exportar, serve de exemplo. Um calçado vendido por US$ 20 em maio revertia em R$ 40,20 ao fabricante. Se o mesmo modelo fosse embarcado semana passada, o empresário embolsaria R$ 47, ou ofereceria a diferença como desconto.
– Facilita porque conseguimos baixar um pouco o preço e fechar contratos que estavam trancados com clientes estrangeiros – explica Ricardo Wirth, diretor da Calçados Wirth, de Dois Irmãos.
Conforme Wirth, há cinco anos sua empresa tem mantido as margens quase nulas em exportações para países como Rússia, França e Alemanha de forma a manter clientes. Agora, poderá voltar a lucrar.