de 8 a 12 de março de 2010
DÓLAR AJUDA MAS CAFÉ PATINA
Há um ano a performance dos mercados financeiros davam a impressão de que o munda iria acabar com o S&P500 negociando a 666.79 pontos, o Dow Jones a 6,469.95 e o Ibovespa a 34,500 pontos.
Pacotes de estímulos, redução de taxas de juros e diminuição de impostos ajudaram as economias a saírem da recessão, e muitos analistas dizem que quem não comprou os mercados naquela época perdeu a oportunidade da vida – fácil analisar o passado!
A semana que passou comemorou um ano da queda, e os que compraram os mercados estão felizes em tê-lo feito, já que os três índices mencionados acima estão negociando a 1,143.77, 10,556.95 e 69,926 pontos respectivamente.
O pior momento da crise de crédito ficou para trás, mas hoje o desconforto paira sobre os enormes déficits de diversos países.
Apesar da recuperação fantástica das bolsas e da correção dos preços de várias commodities, ainda há bastante dinheiro fora dos ativos de riscos, como nos mercado de títulos e em outros instrumentos de curto prazo. Ou seja muitos investidores ainda tem medo de um eventual novo mergulho das bolsas.
O mercado de café há um ano negociava a US$ 106 centavos por libra-peso antes de entrar em um ano em que o consumo seria maior do que produção. Desde esta época vimos um descolamento significativo dos diferenciais (ou risco de base) para os cafés colombianos, que acabou “contaminando” os outros países produtores de cafés-lavados, até chegar ao Brasil com os problemas de qualidade que o país teve em decorrência das chuvas durante a colheita.
Hoje Nova Iorque está 25% mais alto, e os diferenciais se mantém fortes, porém estamos à beira de entrar em um ano de produção maior do que o consumo. Mas, a promessa da safra grande, por mais certa que seja, não resolve a necessidade imediata de quem precisa torrar café.
A necessidade de café no curto prazo está tão grande que a safra Peruana que começa a ser colhida está disputada com os diferenciais sendo negociados a 21 centavos acima da bolsa, bem acima do normal.
Os certificados também corroboram para a tese, e a queda nesta semana foi de mais de 60 mil sacas, acumulando no ano o uso de quase 400 mil sacas ou 13% do inventário que existia no começo de 2010.
A queda recente de Nova Iorque e a falta de habilidade de recuperar as perdas, ajudou a indústria a estender sua cobertura. Em Londres então nem se fala. Enquanto no primeiro os fundos liquidaram parcialmente suas posições compradas e adicionaram novas vendas ficando praticamente com uma posição zerada, no segundo os fundos tem uma posição vendida de mais de 25 mil contratos, ou quase 30% do número de contrato em aberto.
O fato é que como a cobertura de futuros foi atualizada, agora a indústria precisa colocar mais diferenciais nos livros, porém estão muito caros. Para ajudá-la os mercados precisam subir, pois normalmente os diferenciais alargam (ou barateiam) quando o mercado futuro tem um rally. Para os produtores uma alta no mercado os ajudariam a vender café à niveis melhores. E por último, não menos importantes, os intermediários também precisam de uma alta para cobrirem seus livros ou para preenchê-los com novos negócios.
Em resumo, todo mundo precisa de um mercado mais alto, o que normalmente não é um bom sinal.
O problema é que daqui há uns 40 dias deve começar a aparecer algum café da safra nova brasileira, e por isso quase todos os participantes do mercado creêm que se houver uma alta do terminal, ela é para ser vendida.
Ou seja, embora muitos não acreditem em um mercado mais firme, a maioria precisa de uma puxada nos preços, e outros querem que isto aconteça para montar uma posição vendida.
Disso podemos desenhar dois prováveis cenários. O primeiro é o mercado não conseguir subir por falta de corajosos em comprá-lo em frente à uma safra brasileira de mais de 50 milhões de sacas, que está a beira de ser colhida. Com isso uma nova tentativa frustrada de alta pode trazer os fundos para vender de novo, justamente quando algumas origens também precisarão vender, o que combinando um com o outro pode acabar levando o mercado a testar 120 centavos antes do esperado.
O segundo cenário é o mercado conseguir fazer uma alta de 500 / 1000 pontos, com os fundos cobrindo parte das novas vendas, e encontrando a origens, tradings, e fundos-discrecionários na venda. Se os fundos decidem ir (líquido)comprados de novo (algo não comum nesta época), e uma vez que os vendedores tenham desovado uma boa parte de fixações e a disponibilidade do físico permaneça escassa, o mercado pode ficar vazio por um tempo e o rally acaba sendo maior do que esparamos – 150.00? Será?
Parece pouco provável que o segundo cenário aconteça, até porquê não há tempo suficiente para isso, mas maio eventualmente pode ainda tentar subir para próximo de 137/140.
A performance da semana, e principalmente de sexta-feira, nos dá a impressão que o mercado está muito pesado, por apenas conseguir acumular ganhos pequenos, e devolvê-los muito rapidamente.
Se a influência negativa foi provocada pelo vencimento das opções, resta a esperança que Nova Iorque volte a testar os US$ 135.00 cts e feche acima do nível para atrair mais compras.
O dólar mais fraco pode ajudar uma nova puxada dos preços, porém se o nível de US$ 130.00 centavos for rompido novamente os baixistas ganharam novo folego para fazer valer sua teoria.
Tenham uma ótima semana e muito bons negócios.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting