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Todo mundo tem uma receita caseira contra a dor de cabeça. Cheirar barbante queimado, tomar café e fazer compressas com batata crua na testa são apenas alguns conselhos ouvidos por quem sofre desse mal – nada menos que nove entre dez pessoas.
Justamente por ser um problema tão comum, a automedicação é adotada em 50% dos casos, o que justifica a opção por remédios caseiros que, segundo os especialistas, às vezes funcionam por auto-sugestão, o chamado “efeito placebo”. Por outro lado, há quem consuma até dez analgésicos por dia para combater a dor, o que é alarmante.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cefaléia (nome científico da dor de cabeça) está na lista das dez patologias mais incapacitantes que existem.
Existem mais de 150 tipos diferentes de dores de cabeça, que se dividem entre primárias (relacionadas a distúrbios bioquímicos cerebrais ou mal funcionamento de neurotransmissores e receptores, cujo exemplo é a enxaqueca e dor de cabeça tensional), e secundárias (sinalizam a existência de problemas em alguma região do corpo, como tumores cerebrais, meningites, aneurismas ou resfriados).
Alimentos
Para o naturopata italiano Luca Avoledo, especialista em ciências naturais e nutrição, quando a cefaléia é recorrente, ela também pode estar relacionada a uma sobrecarga alimentar que precisa ser controlada, pois o organismo reage com processos inflamatórios, que se manifestam por meio da dor de cabeça.
Nesses casos, diz Avoledo, “a melhor estratégia é manter-se longe de certos alimentos ricos em histamina, como queijos fermentados, salames, bebidas alcoólicas, peixes (especialmente os gordurosos) e tomate”. Ele também recomenda que se evite chocolate, morango, carne de porco e sementes oleaginosas (linhaça, girassol, gergelim, castanha do Pará e de caju, abóbora) porque estimulam a liberação da substância no organismo.
Conforme o especialista, algumas pessoas são hipersensíveis a determinados alimentos. Nesses casos, só um teste de intolerância alimentar pode identificar os itens que devem ser banidos ou consumidos com parcimônia.
O naturopauta também afirma que alguns alimentos podem ajudar na prevenção dos sintomas, como a pimenta, que possui um componente chamado capsaicina, com função analgésica. O gengibre e o cúrcuma (raiz da família do gengibre, componente do curry) destacam-se por serem inibidores de várias moléculas pró-inflamatórias. Outra planta muito utilizada para as cefaléias, ele lembra, é o tanaceto (Tanacetum parthenium).
Terapia convencional
O neurologista Mário Peres, de São Paulo, concorda com Avoledo sobre a importância dos cuidados com a alimentação e acrescenta à lista do naturopata outros possíveis desencadeadores de dor de cabeça: adoçantes, condimentos, frutas cítricas e alimentos gordurosos.
O médico ressalta que jejuar também é um fator que deflagra a cefaléia e, por isso, sugere que os pacientes evitem longos períodos sem comer e refeições muito fartas. “Esses cuidados dificilmente vão curar a dor, mas são úteis para não agravá-la”.
Já o neurologista carioca Abouch Valenty Krymchantowski é cético em relação ao uso de produtos ou terapias naturais, exceção feita à acupuntura que, em caráter regular e preventivo, traz resultados satisfatórios, na sua opinião.
A terapia mais usual para as dores de cabeça freqüentes, descreve ele, é o uso de drogas que modulam a comunicação entre os neurônios, como o topiramato e o divalproato de sódio, combinadas com baixas doses de antidepressivos.
Indagado sobre a relação entre alimentos e dor de cabeça, Krymchantowski relata que apenas 25% dos pacientes têm crises devido à dieta e, segundo ele, a questão é supervalorizada. Mas ele faz uma ressalva: “Se o paciente apresenta crises consistentes após a ingestão de determinado alimento, a restrição é indicada até que as drogas usadas funcionem, o que pode levar de três a cinco semanas”.
O médico relata que há indícios de que alimentos ricos em triptofano (aminoácido existente em folhas verdes e nozes) e magnésio (crustáceos) possam ser úteis para prevenir crises, mas muitos de seus pacientes “se empanturram disso e não melhoram antes do tratamento medicamentoso”.
Para o neurologista, só o efeito placebo que explica o sucesso de medidas como comer gengibre. “Embora um especialista jamais receite um placebo, numa situação de emergência, se ao invés de injetar uma droga na veia, injetássemos água destilada, 30% dos pacientes iriam melhorar”, aposta.
Mitos e verdades
Conheça algumas receitas populares contra dor de cabeça e a opinião dos especialistas sobre o assunto:
Cheirar barbante queimado: o barbante deve ser queimado e apagado imediatamente para que se aspire a fumaça por uma das narinas. Não há referência científica sobre o assunto.
Rodelas de batata crua sobre a testa: só tem sentido se considerada a sensação de frio que ela transmite. Uma bolsa de gelo trará maiores benefícios, por sua capacidade vasoconstritora.
Massagear com os dedos polegar, indicador e médio a região central da testa localizada entre os olhos: no caso das dores de cabeça causadas por tensão muscular, a técnica, de inspiração chinesa, pode relaxar e, como conseqüência, aliviar a dor.
Cataplasma de alho moído sobre a testa: embora o alho possua várias propriedades medicinais (é antibiótico, antifúngico, antigripal, anti-hipertensivo), um de seus efeitos colaterais é a dermatite de contato. Portanto, não vale a pena tentar.
Cheirar amoníaco: o líquido é tóxico e pode desencadear irritações intensas e queimadura nas mucosas, entre outros males. Um dos principais sintomas de choque decorrente do contato com esse produto é justamente a dor de cabeça. Ou seja, nem pense em experimentar.
Tomar chá preto ou café sem açúcar e deitar: certas pessoas consomem muito café e bebidas com cafeína ao longo da semana e, quando chega o sábado e o domingo, diminuem o consumo, o que muitas vezes deflagra a dor de cabeça. Nesses casos, a medida funciona.
Chá da casca da laranja, alfazema e camomila: por suas propriedades calmantes, podem aliviar a dor de cabeça porque relaxam.
Alimentos que podem aliviar a dor de cabeça:
Gengibre: 2g da raiz seca em pó ao dia. Metade de uma colher de chá em uma taça de água fervente.
Cúrcuma: como é uma raiz da família do gengibre, possui propriedades antiinflamatórias, e é também antioxidante. Pode ser usado diariamente na sua forma em pó, como condimento, sobre o alimento de sua preferência.
café, chá verde, bebidas à base de cola: uma a duas xícaras ao dia ou no momento dos primeiros sintomas de uma crise.
Pimenta: a presença da capsaicina ajuda na circulação e inibe a produção de substâncias que estimulam a dor.
Alimentos que podem deflagrar uma crise:
Queijos e laticínios em geral, chocolate, ovos, frutas cítricas, carnes ou peixes gordurosos, trigo, nozes, avelãs, amêndoas, tomate, cebola, milho, banana, morango, glutamato monossódico, aspartame, salame, carne enlatada e vinho tinto.