Dilma vê controle total dos preços

Presidente comemora alta de 0,03% em julho e anuncia programa para elevar as cotações do café. Ministro diz que IPCA voltará a crescer

LEONARDO AUGUSTO
Enviado Especial

Varginha (MG) — No mesmo dia em que comemorou a menor inflação em três anos para o mês de julho e garantiu que ela está “completamente sob controle”, a presidente Dilma Rousseff (PT) divulgou ontem, em Varginha, região sul de Minas Gerais, medidas que contribuem para evitar novas quedas de preços de pelo menos um produto. Ao anunciar o esperado pacote de ajuda aos cafeicultores brasileiros, ela orientou os agricultores a não venderem a produção. O objetivo é pressionar por uma elevação na cotação do grão. A estocagem será bancada por recursos do governo.

A alta de apenas 0,03% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, no mês passado, foi proporcionada, sobretudo, pela revogação dos aumentos das passagens de trens e ônibus urbanos, decidida pelos governos estaduais e municipais sob a pressão das manifestações populares de junho, e pelo recuo do preço dos alimentos. Para Dilma, no entanto, a desaceleração não foi um fenômeno isolado. “Ela vem caindo mês a mês”, afirmou.

Mais cauteloso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu, em Brasília, que o IPCA voltará a subir nos próximos meses. “Eu já estou antecipando aqui, antes que alguém diga: ‘ah, a inflação vai voltar”. Claro, a inflação tem uma sazonalidade”, afirmou. Questionado por jornalistas, o ministro disse ainda que não se sabe se, neste ano, o índice ficará abaixo dos 5,84% registrados em 2012. “Não sei, provavelmente sim”, afirmou.

Estardalhaço
Usando um viés político, Dilma ressaltou “o compromisso do governo com a estabilidade (de preços), que, segundo ela, está se mostrando, “na prática e na realidade”. “Fizeram todo um estardalhaço, que nós tínhamos perdido o controle, e os dados não apontam nesse sentido”, disse ela, em entrevista a emissoras de rádio. “A inflação está completamente sob controle, atingindo os valores mais baixos do período. E você detecta isso em todos os quesitos, tanto na alimentação quanto no setor de serviços e nos transportes”, argumentou.

À tarde, durante solenidade que marcou a ampliação do campus da Universidade Federal de Alfenas em Varginha, a presidente anunciou as medidas para o setor cafeeiro a agricultores convidados pelo Palácio do Planalto para a cerimônia. “Vamos oferecer crédito para a estocagem do café. Os produtores que estão começando a colheita não precisam iniciar imediatamente a comercialização, pois vão dispor de recursos para esperar por uma elevação dos preços nos próximos meses”, prometeu.

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, com cerca de 50 milhões de sacas por ano. Do total, 50% são cultivados em Minas Gerais. A presidente anunciou a autorização do lançamento dos chamados contratos de opção, com vencimento em março de 2014, para 3 milhões de sacas, a R$ 343 cada uma. O valor praticado hoje é de R$ 260. Nesse modelo de negociação, o governo garante que, caso os preços não subam, pagará o valor fixado, o que acaba contribuindo para a alta do produto antes do vencimento dos contratos.