Dia Nacional do Café ?

24 de maio de 2006 | Sem comentários Especiais Mais Café

Não há como negar que o café está na vida do brasileiro. Caso você faça parte do restrito grupo dos que não gostam desta mágica bebida, certamente já presenciou alguém se deliciando com uma xícara de café. E para todos, exatamente todos, o café traz algum tipo de benefício. Já que o dia 24 de maio foi oficializado como Dia Nacional do Café, vamos reverenciá-lo. No final deste texto você estará certo que faz parte desta comemoração.

Vamos começar pelo saudosista. Certo de que nenhum leitor é contemporâneo de Francisco Mello Palheta, lembrado por ter trazido sementes de café da Guiana Francesa, escondidas na mala, em 1727. Alguns devem ter escutado histórias do final do século XIX, contadas pelos avós, de que o café era a força do Brasil. Época dos barões e da tradicional cafeicultura paulista. Passaram muitos anos e o mercado ainda tem recebido lições de que a relação oferta e procura faz toda a diferença na rentabilidade da cafeicultura.

Esses mesmos saudosistas devem comemorar o Dia Nacional do Café porque o Brasil conseguiu manter-se na liderança deste mercado, depois de períodos de ascensão, auge e queda. Na era Vargas, nada menos que 78 milhões de sacas foram queimadas ou jogadas ao mar, porque sobrava café no mercado. Se você lembrou desta história, também ouviu falar do célebre Convênio de Taubaté, das crises de superprodução, da ferrugem e de muitas geadas, do surgimento do IBC e do seu fim. Mas o ritual do cafezinho é uma tradição que sobreviveu a todas as transformações.

Caso seja um dos atentos da política brasileira, saberá que o café é forte gerador de emprego e renda. No passado, altamente dependente e, ainda hoje, mais madura, a política econômica nacional sente no PIB a força dos grãos que se espalha pelo país e traz superávits com as exportações. Até em Rondônia já temos café de qualidade. O café na Bahia não foi investimento passageiro. Isso tudo significa desenvolvimento. Para os que gostam de números, o café coleciona índices animadores. Para comemorar com vontade, não basta saber que o Brasil é o maior produtor de café do mundo, com estimativa de colher na safra 2006/07, 40,6 milhões de sacas, mantendo-se na liderança como maior exportador (26,6 milhões em 2005) e o segundo maior consumidor, com 15,5 milhões de sacas industrializadas. Espalhados numa área de 2,30 milhões de hectares, mais de cinco bilhões de cafeeiros em produção dão trabalho a muita gente. O maior produtor é Minas, com 1,12 milhões de hectares, 48% da área total, e produção de 20.099.238 sacas, segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Para os otimistas, o motivo da comemoração pode estar na recuperação do mercado, apesar dos produtores ainda sentirem os efeitos da desvalorização dos preços, alta do dólar, maior gasto com insumos e grandes variações climáticas. Para os pessimistas, se os produtores viram o final do túnel nos últimos anos, começam agora a se distanciar novamente dele. Mas, com a prudência de bons mineiros, a recuperação não é muito animadora que possa incentivar plantações desenfreadas.

O melhor é o crescimento de olho na demanda e, se possível, acompanhando suas preferências. Para os consumidores mais exigentes, o Dia Nacional do Café deve ser comemorado porque o Brasil conscientiza-se de que vale mais o café mais elaborado, cuidadosamente preparado. O mercado de cafés especiais cresce acima de todas as expectativas e os produtores começam a perceber sua vantagem. Na hora de comprar o café no supermercado o consumidor também percebe que existem selos que garantem sua pureza e qualidade, diferente das misturas de cevada consumidos no passado.

Aos ambientalistas também existem bons motivos para a comemoração. A produção orgânica cresce a cada ano e sua filosofia também reflete em menor consumo de agroquímicos nos cafezais tradicionais. Cafeicultores que preservam matas e promovem o equilíbrio ambiental são certificados e já ganham um diferencial por saca vendida. Existe mais rastreabilidade dos processos. Muitos produtores preocupam-se com o destino e a qualidade da água usada nos terreiros, para lavar os grãos. E não é só isso, preocupam-se com a água limpa que chega às casas dos trabalhadores.

Do ponto de vista social, nunca os trabalhadores rurais tiveram tantos benefícios. Na cadeia produtiva do café, a geração de emprego não se limita ao campo. São mais de 11 milhões de brasileiros que tiram do café os sustentos, sejam apanhadores, comerciantes, estivadores, exportadores, industriais. A economia de pequenos municípios acompanha a bienalidade dos cafezais. Na época da safra de café não existe o desemprego e o comércio comemora.

Quem está na cidade, não gosta de café e não conhece a sua história, ainda assim existem motivos para festejá-lo. É que o café ajuda a manter o homem no campo, evitando que engrosse a onde de marginalidade que assusta os grandes centros. Sem o café, São Paulo explodiria de tanta gente em busca de oportunidade. Até quando você sai de ônibus, despreocupado, a atenção do motorista ao trânsito pode ser decorrente de um bom cafezinho. Pesquisas apontam que o café faz bem até para o coração e, comprovadamente, é um ótimo remédio para o estresse.

Para a Embrapa Café, os motivos desta comemoração são grandiosos. O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), que congrega as principais instituições de pesquisa e os maiores especialistas de todas as áreas da cadeia produtiva, está consolidado. O resultado está no desenvolvimento de estudos e pesquisas capazes de dar sustentação ao agronegócio café, com o somatório de recursos humanos, laboratoriais, físicos e financeiros das instituições participantes. Comemora-se a capacidade de identificação de demandas e geração de soluções tecnológicas.

E você, também fará parte desta comemoração? Nesta quarta-feira fria, ao tomar o tradicional cafezinho, lembre-se que o café continua sendo o orgulho dos brasileiros. Ele anima a alma dos sofridos, ativa a memória dos saudosos de outros tempos, aquece o mercado e garante emprego. O café reúne amigos, instiga a pesquisa e ajuda a diminuir as diferenças sociais. Um brinde a Francisco Mello Palheta e a todos os brasileiros que acreditaram no café depois dele.

Cibele Aguiar
Embrapa Café
c.aguiar@uol.com.br
www.embrapa.br/cafe

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