Desvendando a ciência e economia do café

Brasileiros ganham bolsas de pós-graduação para aprofundar, na Itália, estudos sobre o grão

3 de fevereiro de 2012 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Em meados de 2010, o engenheiro agrônomo, consultor e produtor de café, Pedro Paulo de Faria Ronca, abriu seu e-mail e se deparou com a notícia sobre uma bolsa de estudos para o Master em Economia e Ciência do Café, na Itália. Pequeno produtor do grão em Juruaia (MG), ele já havia feito um curso de especialização no Agronegócio do Café, na Universidade do Café, em Guaxupé (MG), e se interessou de imediato pela nova oportunidade de estudos.


Meses depois, em janeiro de 2011, Ronca desembarcava em Trieste, cidade ao nordeste da Itália, às margens do mar Adriático, onde durante cinco meses, em período integral, ele e outros alunos, de 12 países, estudaram assuntos nas áreas de biologia, economia e indústria na Università Del Caffè.


“Foram 18 matérias nessas áreas, cobrindo o ciclo do café todo, desde o plantio até a xícara”, conta Ronca. Ele destaca que, por sua formação como engenheiro agrônomo, os assuntos de biologia não foram novidade. “Os maiores aprendizados foram nas disciplinas voltadas para administração, economia e na parte de processos industriais”, ressalta ele.


Ronca fez parte da primeira turma do Masters, cuja ideia nasceu em 2010, na Fondazione Ernesto Illy, mantida pela empresa Illycaffè, da qual Ernesto, falecido em 2008, foi o fundador. “Uma das nossas missões é dar continuidade ao que foi iniciado por Ernesto Illy. Há uma grande atenção à transferência de know-how para os profissionais da área do café”, explica Anna Illy filha de Ernesto e vice-presidente da Fondazione.


A cada ano, a entidade oferece sete bolsas de estudo integrais, no valor de 22 mil euros, o equivalente a R$ 50,3 mil. “Se há muitos candidatos, existe a possibilidade de dividirmos a bolsa de estudos plena em duas bolsas parciais”, explica a executiva. A entidade prioriza candidatos que sejam de países produtores de café para a concessão das bolsas. É preciso ter formação universitária.


Durante o processo seletivo, os candidatos são avaliados em seu grau de envolvimento com atividades cafeeiras e interesse em se desenvolver na área, além de passarem por análise de currículo e entrevista em português e em inglês. Na primeira edição, participaram do curso engenheiros agrônomos, economistas, especialistas em ciência de alimentos e arquitetos.


Os calouros de 2012


Em setembro do ano passado, a mineira Glauce de Fernandes e Lourenço, de 33 anos, foi selecionada entre 20 candidatos para participar do curso. Agrônoma, formada pela Universidade Federal de Viçosa, ela fez intercâmbio em duas universidades americanas (Virginia Tech e North Caroline State University) e trabalha como gerente da fazenda de café de seu pai, em uma região próxima à Viçosa (MG).


O curso começou no início de janeiro e a conclusão acontecerá em maio. Juntamente com a fundação, há algumas universidades parceiras. Para a edição deste ano, a Fondazione já conta com o apoio da Universidade de Cambridge.


Ronca recomenda o curso aos interessados. “Sem dúvida a experiência aumentou ainda mais minha paixão pela cultura do café e reforçou minhas convicções de que a busca pela qualidade é o caminho a se seguir na produção brasileira”, conta. Para ele, o aprendizado sobre gestão de empresas e técnicas administrativas tem sido úteis na gestão das fazendas e também nos trabalhos em que realiza como consultor.


“O curso me possibilitou a vivência em uma grande empresa, sentindo e aprendendo os seus desafios diários. Além disso, viver em outro país, com outra cultura, povo, língua é sempre uma experiência muito enriquecedora em um amplo sentido.”

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