Novo vetor econômico
Geraldo Gattolini
O desenvolvimento de Jundiaí nem sempre acompanhou os grandes ciclos econômicos. Logo depois da instalação da Vila Formosa de Jundiaí, em l639/40, seus habitantes começaram um negócio promissor que avançou durante vários séculos. Era a cultura da cana-de-açúcar, que teve em Jundiaí um centro dinâmico e pioneiro. No início dos anos de l700, a Vila tinha l6 engenhos de cana. Depois veio o ciclo da mineração, quando a população resolveu sair à procura do ouro e fundou inumeráveis vilas pelo interior, hoje cidades portentosas, como Campinas, Mogi-Guaçu, Mogi-Mirim e tantas outras.
Também desenvolveu um avançado centro de produção de equipamentos para o transporte em mulas e selas para cavalos, se constituindo num arraial de treinamento de domadores de animais. Moradores de Jundiaí compravam mulas bravias em Sorocaba, que eram trazidas do Rio Grande do Sul, domadas aqui e vendidas para todo o Brasil. A partir dos efeitos da mineração, Jundiaí aprimorou sua tendência de tornar-se o principal centro de preparação das tropas de mulas, usando potenciais desenvolvidos pela fase dos bandeirantes.
Os viajantes europeus Luiz DAlincourt e Saint Hilaire notaram que no início do século 19 Jundiaí estava fornecendo para as caravanas que iam para o interior e para o sul produtos fundamentais como sal, ferro e mantimentos. Para São Paulo e Santos eram embarcadas a farinha, mandioca, milho e açúcar. Depois da cana-de-açúcar foi a vez do café. O sargento-mor, Antonio Francisco de Andrade, plantou o primeiro pé de café em terras paulistas em sua chácara em Jundiaí (chácara esta no centro da cidade) e a partir daí deu-se o início da grande febre do ouro negro, que dominou São Paulo até por volta de l960. As primeiras sementes saídas de Jundiaí geraram os grandes cafezais e atrás deles vieram as ferrovias.
O curioso é que Jundiaí foi o pioneiro no plantio do café e também o pioneiro na implantação das primeiras ferrovias no interior do Estado. Até agora não sabemos por qual motivo esta saga econômica tão importante na vida do Brasil e de Jundiaí tem sido negligenciada pelos políticos e pela maioria dos nossos historiadores. São pouquíssimos os vereadores que conhecem a história da cidade e seus feitos gloriosos na área do empreendedorismo.
Com o café surgiram outros negócios importantes. Jundiaí com as suas cinco ferrovias era o maior entroncamento ferroviário do País e também o mais importante centro logístico da América do Sul. Hoje, existem algumas pessoas que falam que Jundiaí tem agora importantes empresas logísticas e é o maior centro desse tipo de empreendimento no Estado de São Paulo. Mas ele já foi tudo isso no passado. O primeiro grande passo no rumo da industrialização foi dado por volta de 1850, quando se instalou aqui uma indústria de tecidos, que depois se transformaria em 1873 na famosa Tecelagem São Bento. Jundiaí tinha em l990 mais de 500 indústrias com 45 mil industriários. Hoje deve ter 32 mil trabalhadores na indústria.
Agora o centro das atenções volta-se para as empresas de serviços, que representam 60 por cento da renda gerada na cidade e também por ser o grande vetor irradiador de trabalho. Ainda falta a Jundiaí transformar-se num grande centro educacional voltado para o desenvolvimento da tecnologia de ponta. Nós estamos assistindo no interior de São Paulo à uma acentuada corrida inovadora para o desenvolvimento desses novos centros de inovação tecnológica. Para coroar sua trajetória econômica, Jundiaí deveria cerrar fileiras em torno da criação de um grande empreendimento gerador de tecnologia.
A hora que Jundiaí resolver equacionar este grave problema, que é a falta de um empreendimento gerador de tecnologia e aplicações científicas dos novos conhecimentos, irá dar, sem dúvida, um novo salto de qualidade. Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto, Araraquara, Jaú e São José dos Campos são municípios que procuram trabalhar intensamente no desenvolvimento de suas vocações. Jundiaí foi ao longo de sua história um município de múltiplas atividades.
Mas já pode, sem dúvida, desenvolver um novo campo de inteligência exponencial. Falta para o município um grande laboratório de pesquisas tecnológicas com articulações políticas, universitárias e empresariais do mais alto nível. É tarefa para várias gerações. Estrutura e potencial humano existem. Falta iniciativa. Quem se habilita?
Geraldo Gattolini é escritor e jornalista: gattolini@uol.com.br
Fonte: http://www.portaljj.com.br/interna.asp?Int_IDSecao=6&Int_ID=19396