05/11/14
Em três das cinco semanas de outubro, a balança comercial registrou déficit (diferença entre exportações e importações), que atingiu US$ 1,17 bilhão no mês. É o pior resultado para outubro em 16 anos, levando o acumulado do ano a US$ 1,87 bilhão, ante déficit de US$ 1,99 bilhão em igual período de 2013. Em vez de ajudar, o comércio exterior agrava o déficit da conta corrente do balanço de pagamentos, de US$ 83,6 bilhões em 12 meses, até setembro.
Recessão ou estagnação econômica combinadas com desvalorização acentuada do real bastariam, no passado, para o reequilíbrio da balança comercial. Mas o que era verdade incontestável se tornou, agora, mito. Ainda há quem acredite em superávit comercial neste ano, mas as estimativas são declinantes e chegaram a US$ 1,73 bilhão, segundo o boletim Focus, do Banco Central.
Quase todos os indicadores do comércio exterior despencaram em outubro. A média diária de importações foi de apenas US$ 848,1 milhões, inferior à de US$ 1 bilhão em igual mês do ano passado – e a das exportações foi ainda menor, reduzida a US$ 797 milhões, queda de 19,7% em relação a outubro de 2013.
Entre os primeiros 10 meses de 2013 e 2014, o Brasil perdeu US$ 4 bilhões em exportações de minério de ferro, US$ 2,1 bilhões em milho, US$ 1,8 bilhão em automóveis de passageiros e US$ 1,5 bilhão em açúcar em bruto. Na comparação entre outubro de 2013 – mês em que foram ajudadas pela venda de plataformas de petróleo que nunca saíram do Brasil – e o mês passado, as vendas de manufaturados recuaram 30,3%. Nem a queda rápida das cotações de petróleo no mercado global salvou a balança no mês passado, embora as importações de combustíveis e lubrificantes tenham caído 36,2% em relação a outubro de 2013.
Até 2011, a balança comercial foi salva por altas cotações de commodities minerais e agrícolas. O superávit comercial de 2011 foi de quase US$ 30 bilhões, caiu para menos de US$ 20 bilhões em 2012 e chegou a US$ 2,5 bilhões em 2013 – nível em que está em 12 meses. Com as commodities valendo menos, os EUA superaram a China, no mês, como principal importador de bens brasileiros.
Comparados a uma década atrás, os termos de troca ainda são favoráveis ao País, mas a queda das cotações de matérias-primas exige maior competitividade dos manufaturados. Sem isso, será mais caro ou difícil o financiamento do déficit externo no mercado global. Ou seja, a conta corrente poderá piorar mais.