Sem correção na tríade juros altos, câmbio sobrevalorizado e gastos públicos elevados, renda do agronegócio não se recupera
A política macro-econômica do País ceifa a possibilidade de recuperação da renda do agronegócio em 2006. Sem mudança na tríade juros altos, câmbio sobrevalorizado e gastos públicos elevados, boa parte do setor, em especial a área de grãos, irá permanecer em crise.
De nada adiantam previsões de crescimento da safra se fatores “fora da porteira” minam a rentabilidade. Colheita maior não significa necessariamente recuperação de margens e fim da crise de liquidez.
O quadro para 2006 é preocupante haja vista também a estabilidade das cotações internacionais das commodities, outro dado que reforça a expectativa desfavorável para o período de venda da produção.
“A agricultura precisa de juro menor, mudança de rota cambial e que o governo gaste bem e não mal como vem fazendo”, afirma o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) – www.srb.org.br-, João de Almeida Sampaio Filho.
Agronegócio tem que ter espaço na agenda política e macro-econômica
“Se o governo se surpreendeu com a queda do PIB (-1,2%) no terceiro trimestre de 2005, provocada pelo recuo de 3,4% da agropecuária, se não mudar a política econômica, ficará ainda mais decepcionado com o resultado do próximo”, afirma João Sampaio.
“Já havíamos alertado que se a taxa de juro permanecesse alta fazendo com que o câmbio ficasse da forma como está, o setor passaria por um ano ruim, muito difícil. Infelizmente nossa previsão se confirmou.”
Para João Sampaio, o governo precisa entender que o agronegócio tem um peso que nenhum outro setor tem para economia e que investir no setor é prioridade para o desenvolvimento do País.
Segundo ele, é preciso maior engajamento do setor e compreensão do governo que a agricultura deve de uma vez por todas constar da agenda de políticas públicas. “Com as eleições de 2006 teremos uma importante oportunidade para pressionarmos por este objetivo.”
Começo difícil
Mas pior do que os números de 2005 são as projeções para o início de 2006. “Discordamos das estimativas que apontam aumento da safra de grãos, prevemos nova queda e recuo da área plantada”, diz João Sampaio.
A Conab projeta 125 milhões de toneladas de grãos. “A SRB trabalha com expectativa entre 100 e 105 milhões. Foi uma safra plantada com baixa tecnologia, com poucos investimentos em fertilizantes, defensivos, sementes, entre outros insumos”, explica João Sampaio.
De acordo com o presidente da SRB, a temporada 2006/07 é que poderá apresentar um horizonte menos nebuloso, já que a tendência é que seja plantada a um dólar mais favorável e num período próximo à reposição dos estoques mundiais.
João Sampaio alerta também para necessidade de arranque do seguro rural, investimentos em infra-estrutura logística, recursos e instrumentos que auxiliem a comercialização da safra e firmeza nas negociações internacionais.
Crédito
Dificuldades para pagar fornecedores e saldar o custeio deverão afetar a oferta de capital para o produtor. Além disso, haverá aumento na exigência de garantias para obtenção de crédito.
Com os recursos oficiais a juros favorecidos cada vez menores, o produtor precisa avaliar qual o melhor modelo de financiamento. É na capacidade de conseguir um mix de recursos com menor custo que estará garantida grande parte da sua rentabilidade.
“O produtor tem que reforçar o business, sem deixar de ser agro. Aprender a gerir melhor seu negócio ao avaliar custos, selecionar investimentos, conhecer os mecanismos do mercado. Precisa ainda fortalecer o espírito associativo, ao se aproximar mais de suas entidades, se juntar em pools, grupos, obtendo melhores condições para negociar”, completa João Sampaio.