Apesar do crescimento no comércio bilateral entre Brasil e China nos últimos anos, a indústria brasileira ainda enfrenta dificuldades para diversificar as exportações para o “gigante asiático”. “As exportações brasileiras ainda estão muito concentradas em produtos primários, notadamente minério de ferro e soja”, diz José Augusto Coelho Fernandes, diretor-executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria). O intercâmbio comercial entre os dois países, que em 2000 era de US$ 2,3 bilhões, chegou a US$ 9,1 bilhões em 2004. Mais da metade das exportações brasileiras à China foram resultado da venda de minérios de ferro e da soja e seus derivados. “O grande desafio é como mudar essa pauta”, acrescenta Fernandes. “Essa não é uma tarefa fácil na medida em que a indústria chinesa concorre bastante com aqueles produtos industriais em que o Brasil é bastante competitivo.” Ameaça e oportunidade O diretor-executivo da CNI reconhece que os custos de produção da indústria brasileira são mais elevados do que a chinesa, mas afirma que isso não impede que o Brasil conquiste um lugar no “competitivo” mercado global. “A China é ameaça e é oportunidade. Temos que identificar projetos de interesse comum e conhecer melhor o mercado chinês”, diz Fernandes. “Teremos que penetrar na China em cima de determinados nichos de produtos ou até mesmo através da inversão direta como algumas empresas já vêm fazendo, exemplo da Marcopolo e da Embraer.” O secretário-executivo do Conselho Empresarial China-Brasil (CEBC), Renato Amorim, concorda que a pauta brasileira de exportações para o mercado chinês ainda é muito limitada, mas diz que já é possível observar uma mudança. “O comércio com a China nesse momento é muito desequilibrado, ainda é muito caracterizado pela exportação de produtos primários”, diz Amorim. “Mas há uma tendência natural dos dois lados de começar a exportar produtos de maior valor agregado.” A avaliação de que o Brasil precisa ampliar a participação de manufaturados e produtos de maior valor agregado no comércio com a China também é defendida pelo coordenador do Grupo China do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Mário Sérgio Salerno. “A questão é que um país do tamanho do Brasil não se sustenta com matérias-primas básicas”, afirma Salerno. “Seria muito importante que as empresas brasileiras estabelecessem filiais na China.” “Um aumento mais significativo do comércio bilateral, e principalmente das exportações brasileiras para a China, passa por um movimento mais agressivo das empresas brasileiras em estabelecer negócios na China”, acrescenta o diretor do Ipea. Novos nichos O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang, afirma que a “aliança comercial estratégica entre o gigante da América do Sul e o gigante da Ásia” é uma “parceria que tende cada vez mais a crescer”. De acordo com Tang, a China é uma importante fonte de investimentos para a economia brasileira porque o comércio com países como o Brasil garante à indústria chinesa os produtos que a China precisa para continuar a crescer e para alimentar a sua população. “Como o Brasil só descobriu o mercado chinês a partir do ano 2000, nós temos ainda um mundo a explorar”, diz o presidente da CCIBC. “Cada dia que passa, novos nichos de mercado surgem.” “Os produtos commodities beneficiados com valor agregado, tipo café solúvel e leite longa vida, vão ter grandes mercados na China”, prevê Tang |