DESABAFO DE UM AGRICULTOR Por Julgacy José Gonçalves

22 de março de 2013 | Sem comentários Mais Café Opinião

Estamos vivendo uma crise sem precedentes na cafeicultura e tenho visto muitos produtores “sem chão”. O homem do campo é vocacionado a plantar; enquanto muitos têm profissão o agricultor tem vocação, pois quem cultiva a “terra” trabalha com aquilo que é sagrado e todos nós dependemos da agricultura, já que sem os alimentos não conseguimos viver.
 
Vejo que na maioria das vezes esses agricultores e agricultoras estão sem voz porque a única coisa que eles sabem e sabem muito bem fazer é cultivar suas terras.
 
Talvez por falta de oportunidades ou malícia, não sabem lidar com o “mercado”. Todas as outras profissões possuem tabela de preço para seus serviços; a única classe que não possui tabela de preço e quem coloca o preço é o “mercado/comprador” são os produtores!!!
 
O peso da saca que o “mercado/bolsa” paga ao produtor é de 60 kg, enquanto os demais produtos que são vendidos aos produtores (adubos e outros insumos) é de no máximo 50 kg. E já tem vários insumos agrícolas vendidos em sacas de 25 kg.
 
Uma saca de café arábica produz em torno de 3.000 (três mil) xícaras de café, que é comercializada nas padarias e cafeterias por no mínimo R$ 2,00 (dois reais) cada xícara. Isso totaliza R$ 6.000,00 (seis mil reais) por saca de 60 kg, que é paga ao produtor pelo preço de R$ 300,00 (trezentos reais). O custo de produção dessa mesma saca de café na montanha, que representa mais de 50% do café produzido no sul de minas, é de no mínimo R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais).
 
Vimos recentemente o governo concedendo incentivos às montadoras de carro através da redução do IPI, ou seja, concessão de incentivos a empresas multinacionais. Por outro lado, aos cafeicultores de montanhas, que são todos nacionais, até o presente momento não têm nenhum incentivo.
 
O Presidente Americano ABRAHAM LINCOLN já dizia Que se as cidades acabarem o campo sobrevive porém se o campo acabar as cidades não sobrevivem.
 
Por tudo isso está na hora de “salvar” a Cafeitultura Nacional, o maior celeiro de emprego do Sul e Sudeste de Minas. Infelizmente ainda não vi nenhuma autoridade Municipal, Estadual ou Federal vir a público e divulgar as metas que estão sendo traçadas para apoiar a classe produtora do café.
 
O café, no passado, já foi o principal produto da balança comercial brasileira. Hoje, os Estados Produtores de Petróleo estão questionando a distribuição dos royalties frente à nova regra de distribuição, inclusive propondo várias ações judiciais junto ao Supremo Tribunal Federal. E não vemos nenhuma ação em defesa da cafeicultura.
 
Já dizia o Pe. Antônio Vieira, na época da “descoberta” do Brasil: “eles não querem o nosso bem e sim nossos bens”.
 
A igreja católica está vivendo um momento histórico, em que o Vaticano acaba de escolher o Primeiro Papa Latino Americano e assim valoriza o chamado “terceiro mundo”.
 
O novo papa, por sua vez, devido a seus princípios e embasado em sua formação sarcedotal escolheu o nome de Francisco. Segundo a imprensa da época em que ele se tornou cardeal, papa Francisco dispensou a ida de Argentinos ao Vaticano e pediu que, ao invés disso, eles distribuíssem o que seria gasto nas viagens com os pobres da Argentina.
 
Enquanto uma saca de café rende R$ 6.000,00 (seis mil reais) para atravessadores, o produtor vende a mesma saca por R$ 300,00 (trezentos reais), conforme informado anteriormente, ficando clara a má e injusta distribuição de renda no Brasil. Assim, cabe a nós implorar para o governo que olhe com mais atenção para esses produtores.
 
Tudo passa, disse São Paulo na carta aos Corintios. Porém, não podemos deixar passar aos nossos olhos uma injustiça assim tão sem precedentes como essa que os cafeicultores estão vivendo.
 
Acredito que temos que nos mobilizar, todos, através de também todos os meios de comunicação e fazer com que as autoridades que detém o poder apóiem a classe dos cafeicultores e a guie por caminhos mais seguros, mais justos, e que possamos ter Dignidade em sermos cafeicultores.
 


  Julgacy José Gonçalves
 cafeicultor e Advogado


Comentários


Islê Ferreira
planeagro@planeagro.com.br

Julgacy, considero perfeita a sua análise. Aqui na minha cidade a Cooperativa de Cafeicultores local está torrando e comercializando já há alguns anos o café top de linha, gourmet, produzido nas áreas de montanha em altitudes superiores a 900 metros. Esse café é vendido a R$ 19,90 o pacote de meio quilo. É uma imensa agregação de valor ao produto, que era unicamente vendido como café verde commoditie até tempos atrás. Quero dizer com isso que o nosso mercado interno é dos maiores do mundo e todos consomem em cafeterias e boutiques de café aqui das marcas Illy café, nexpresso, e outras marcas do exterior e não há preocupação de tornar esse segmento dominado por empresas nacionais ou cooperativas de produtores. Não adianta apenas esperar soluções oficiais, que nunca vêm, para atender as demandas dos produtores. Quem tem que valorizar o seu produto é o próprio produtor. E unir-se a outros da categoria para encontrar soluções. Também gostaria de esclarecer que foi Benjamin Franklin e não Abraham Lincoln quem disse: “se destruirmos as cidades e conservamos os campos, as cidades ressurgirão, mas, se destruirmos os campos e conservarmos as cidades, estas não sobreviverão”.

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