Dependência maior de commodities pode reverter distribuição de renda

Por: Folha de S. Paulo

14/07/15


A derrocada da indústria e exportações cada vez mais concentradas em commodities indicam risco de reversão no processo de queda da desigualdade de renda no país.


Um estudo recente de pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Techonology) revelou que o grau de sofisticação da estrutura produtiva tende a afetar as tendências da distribuição de recursos entre a população.


A pauta de exportação brasileira, dominada por produtos de complexidade muito baixa, é, portanto, um mau sinal (leia texto ao lado).


O país despencou 22 posições, entre 1995 e 2013, no “Atlas de Complexidade Econômica”, que ordena os países segundo a sofisticação dos produtos que exportam.


Cesar Hidalgo, do laboratório de mídia do MIT, e o economista Ricardo Hausmann, de Harvard, criadores do Atlas, já tinham identificado uma forte relação entre complexidade produtiva e capacidade de crescimento.


Agora, Hidalgo e outros pesquisadores do MIT concluíram que a sofisticação produtiva é também um prenúncio importante da distribuição de renda.


Segundo os autores, além de refletir características fixas que podem ter impacto na distribuição de renda -como geografia e clima-, a estrutura de produção é retrato de fatores como instituições e educação que “evoluem junto com o mix de produtos que um país exporta”.


CAPITAL HUMANO


Mão de obra qualificada em abundância é um requisito para a fabricação de produtos de alta tecnologia.


Instituições -entendidas como um conjunto de regras em vigor que determinam, por exemplo, o grau de inserção de um país no comércio internacional e a facilidade de abrir um negócio- também importam muito.


Países abertos, que exportam e importam bastante, têm maior acesso a tecnologias inventadas fora. Nações onde é mais fácil fazer negócios tendem a ser terreno mais fértil ao empreendedorismo e à inovação.


Por isso, produtos de exportação mais complexos tendem a ser um bom indicador da distribuição de renda.


E a confirmação dessa relação pelos pesquisadores do MIT acende um alerta amarelo em relação ao Brasil.


ESTAGNAÇÃO


A elevada desigualdade de renda no país teve recuo significativo, principalmente na década passada, mas esse processo estagnou nos últimos anos.


Segundo Hidalgo e um de seus co-autores, Dominik Hartmann, a redução foi possível graças a políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família.


Mas a perda de sofisticação da estrutura econômica é uma ameaça: “A redução da desigualdade de forma sustentada também requer significativa diversificação econômica”, disse Hartmann.


O problema é que a complexidade da pauta de exportação do país tem recuado.


O boom no consumo de commodities por países asiáticos alavancou a venda brasileira de produtos básicos, mas foi acompanhada de uma derrocada da indústria. O peso de manufaturados na pauta de exportações recuou de 55,5% para 35,6% do total entre 1995 e 2014.


FORA DAS REDES


A valorização cambial, queixa comum dos empresários, não ajudou. Mas, segundo especialistas, a baixa integração do Brasil no comércio exterior e questões como burocracia excessiva tiveram peso maior no atraso.


“Acredito que a absoluta complacência dos diversos governos com a integração brasileira nas redes de comércio globais seja causa direta da queda da indústria”, diz a economista Monica de Bolle, pesquisadora visitante do Peterson Institute for International Economics e colunista da Folha.

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