28 set 2015 | 09h 10m 44s
Segundo Bressani, da O’Coffee, “cenário é otimista para cafés de qualidade”
A colheita do café da safra 2015/16 terminou nas propriedades da O’Coffee, em Pedregulho, na Mogiana Paulista, e as floradas do novo ciclo, o 2016/17, já despontam nos cafezais após as chuvas do começo deste mês. Pouco se pode dizer sobre a nova safra, mas a que acaba de ser tirada das lavouras foi menor do que a O’Coffee previa em decorrência do clima pouco amistoso.
Nada, contudo, que leve a empresa a alterar suas expectativas para os volumes de café verde exportados. A previsão é que 70% do café colhido nas fazendas seja embarcado ao exterior, segundo Edgard Bressani, diretor-executivo da O’Coffee, empresa que pertence ao grupo SolPanamby, controlado pela família Quércia. O percentual é o mesmo do ciclo anterior.
Na safra 2015/16, a colheita nas propriedades da O’Coffee deve fechar em 28 mil sacas de café arábica – a maior parte de grãos classificados como especiais. A projeção inicial era de uma produção de 33 mil sacas, o mesmo volume da temporada anterior. “Faltou água para o enchimento dos grãos e houve granizo em janeiro”, explica Bressani. Nas fazendas da O’Coffee, 70% das lavouras são irrigadas, mas isso não foi suficiente para evitar a perda.
Vicissitudes à parte, além de indicar que “o cenário é otimista para cafés de qualidade”, nas palavras de Bressani, as exportações também devem ser favorecidas pela valorização do dólar ante o real.
O aumento da demanda internacional por cafés de qualidade, aliás, tem levado a O’Coffee a comprar, desde 2013, produto de terceiros, no Sul de Minas, para atender aos clientes no exterior. De acordo com Bressani, a empresa adquire cafés “com o mesmo perfil de sabor” que o produzido pela própria O’Coffee. Assim como os cafés cultivados pela empresa e destinados à exportação, os comprados de terceiros com o mesmo fim têm de ter nota superior a 80, conforme os critérios do Q-Grader, protocolo de avaliação da Associação Americana de Cafés Especiais, segundo o executivo.
No primeiro ano em que começou a comprar de terceiros, a O’Coffee adquiriu 3,2 mil sacas. Neste ano, comprou 14 mil sacas, número que deve alcançar 25 mil sacas em 2016, segundo Bressani. Na exportação, alguns cafés da O’Coffee atingem até o dobro do preço do mercado, por sua qualidade. “Mas não são todos”, pondera o executivo, acrescentando que há “agregação de valor pelo trabalho de qualidade” feito com o café. O indicador para o café arábica Cepea/Esalq, uma referência no mercado de convencional, ficou em R$ 476,73 a saca na sexta-feira.
A demanda por cafés especiais não é crescente apenas no exterior. Mesmo com a crise econômica no Brasil, o consumo segue firme. “Atuamos em um mercado de nicho, quem pode pagar continua comprando”, garante o CEO.
Além da exportação, o grupo, por meio de um braço chamado Specialty, também atua na torrefação de café para o mercado interno com as marcas Octavio e Dom e com a venda de café para terceiros. E ingressou, há cinco meses, no segmento de cápsulas de café, também com a marca Octavio, inicialmente com cinco blends.
O desempenho do segmento, que cresce de forma vertiginosa no país, surpreendeu a empresa. “Subestimamos o volume”, admite Bressani. Segundo ele, hoje a Specialty está produzindo 3 mil quilos por mês de café em cápsulas, mas esse volume deve aumentar para 4 mil quilos ano que vem. Para se ter uma ideia, no segmento de café torrado e moído, a empresa produz 5 mil quilos mensais.
Ao mesmo tempo em que recorre a terceiros para atender a demanda externa, a O’Coffee mantém um ambicioso projeto de expansão, iniciado há dois anos, para dar sustentação ao seu crescimento nos cafés especiais. A empresa tem hoje uma área de 1.140 hectares de café, que se dividem em oito fazendas em Pedregulho. Até 2013, os cafezais ocupavam seis fazendas e 1.000 hectares. Esses 140 hectares adicionais foram plantados em áreas onde anteriormente havia cana-de-açúcar.
Segundo Bressani, o projeto prevê o plantio de 200 hectares de café a cada ano a partir de 2017, para alcançar cerca de 2 mil hectares até 2021. “Vamos crescer em áreas de cana”, explica. Com isso, o número de pés de cafés passará dos atuais 4 milhões para 9 milhões em seis anos. Além de café, as fazendas da O’Coffee também têm plantio de grãos para rotação de culturas, criação de gado bovino e cana-de-açúcar.
O grupo SolPanamby, que controla a O’Coffee, também vai ampliar o número de cafeterias Octavio. Hoje, além da loja na capital paulista, a Octavio Café, há duas unidades em construção no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O projeto, de acordo com Edgard Bressani, é ter 70 lojas no país em cinco anos, no modelo de franquia.
Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
Fonte : Valor