Economistas divergem e afirmam que câmbio também ajuda no controle dos preços e no poder de compra. O ano de 2007 será o segundo consecutivo, nos últimos dez, em que a demanda externa apresentará contribuição negativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), depois que as exportações passaram a crescer menos que as importações em 2006. Já são sete anos de crescimento das exportações e cinco de expansão das importações em um período marcado pela valorização do real.
Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o PIB poderia crescer em 2007 um ponto percentual (p.p.) a mais e 0,5 p.p. a mais em 2008 caso o setor externo não tivesse revertido a tendência da última década. O economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa Faria, diz acreditar que em 2007 a contribuição da demanda externa será de negativa em 1,4 p.p., igual à registrada no ano passado.
Para o PIB de 2008, ele prevê um impacto negativo de 1 p.p. Na avaliação de Paulo Miguel, sócio da Quest Investimentos, deve haver contribuição negativa de 1,9 p.p. em 2007 e algo entre 2 p.p. e 2,5 p.p. no ano que vem.
As projeções do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atual consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vão na mesma linha. “Eu não achava que o setor externo iria tirar mais de 2% do nosso crescimento”, diz ele, acrescentando que, se o Brasil cresce 5%, é porque a economia doméstica está crescendo 7%, porque o setor externo está levando 2% para fora.
Entre 1997 e 2005 o setor externo funcionou como importante alavanca para o crescimento econômico brasileiro, mas em 2006 as exportações aumentaram 16,2% em comparação com o anterior, frente à alta de 24,2% das importações no mesmo período. Em 2005, foram registradas elevações de 22,6% nas vendas e de 17,1% nas compras, na comparação com 2004.
“No cenário atual, é possível projetar saldo comercial de US$ 38,5 bilhões para este ano, com expansão das exportações de 15% e de 30% para as importações em relação a 2006. Para 2008, a previsão é de que as importações continuem crescendo o dobro das exportações”, diz Castro.
As suas estimativas para o ano que vem são de alta de 6% das exportações – dos US$ 158,5 bilhões projetados para US$ 168 bilhões – e de elevação de 15% das importações – de US$ 119 bilhões para US$ 138 bilhões. Com isso, o superávit comercial brasileiro em 2008 cairia 22% para US$ 30 bilhões.
“O ano de 2008 deverá ser o terceiro consecutivo de contribuição negativa do setor externo no PIB, confirmando uma reversão da tendência positiva observada até 2005”, afirma o vice-presidente da AEB.
O Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) divulga hoje o resultado da balança comercial de outubro. Até a terceira semana deste mês, o superávit acumulado no ano (US$ 33 bilhões) é 10,7% menor que o saldo do mesmo período de 2006, diferença que vem se mantendo nos últimos meses.
De acordo com Castro, o aquecimento da demanda interna está “subaproveitado”.
“Há um uso maior de importados em detrimento de insumos e bens finais de fabricação nacional. Isso porque o câmbio atual elimina barreiras e abre o mercado brasileiro”, diz.
Ele propõe como solução para o problema a desvalorização do real, a introdução de um sistema tributário mais justo que permita elevar o valor agregado das exportações brasileiras, investimentos em infra-estrutura capazes de reduzir o custo de produção doméstica e a diminuição da burocracia interna.
Câmbio, via de mão dupla
Faria e Miguel, por sua vez, alertam que a valorização do real é uma via de duas mãos. Se por um lado faz com que a demanda externa registre esse impacto negativo direto no PIB, por outro ajuda no controle dos preços e amplia o poder de compra das famílias.
“O perfil de crescimento do consumo tem sido positivo. As importações de bens de consumo duráveis registram alta de 40% ao ano e as de bens de capital crescem 25% ao ano. Com isso, enquanto o PIB cresce 4,5% a 5%, o consumo aumenta 6% e a demanda agregada, 7%”, afirma Miguel.
Para Faria, os efeitos da valorização do real e da contribuição negativa da demanda externa no Produto Interno Bruto (PIB) são uma discussão que depende do modelo de crescimento que o País quer seguir. “As exportações podem ou não ser o carro-chefe do crescimento”, conclui.
O professor de Economia Internacional da Faculdade Moraes Junior-Mankenzie Rio, Felipe Kezen, ressalta ainda que o crescimento das importações já não afeta as empresas brasileiras como em outros períodos quando havia simplesmente uma substituição dos produtos brasileiros.
“Hoje as empresas brasileiras se internacionalizaram e migraram com suas marcas para outros cantos do mundo. O próprio setor de calçados, apontado como um dos mais prejudicados pela valorização cambial, apresenta exemplos desse processo como é o caso da Arezzo”, diz Kezen