Déficit comercial dos EUA dispara e pode afetar a alta dos juros

Por: Valor Econômico

Valor Econômico
06/05/15


Os Estados Unidos tiveram em março seu maior déficit comercial mensal desde a crise financeira de 2008. Esse dado reforçou o temor de que a economia americana tenha sofrido uma contração nos três primeiros meses deste ano.


O déficit, políticamente delicado, da balança comercial de bens e serviços subiu para US$ 51,4 bilhões em março, uma alta de 41% em relação aos US$ 35,9 bilhões de fevereiro. As exportações cresceram menos de 1%, enquanto as importações subiram 7,7%, na esteira do aumento da demanda do consumidor americano por itens como automóveis e celulares.


Os dados configuraram um indicador inoportuno para as autoridades americanas. E vêm a público num momento em que o presidente Barack Obama defende a assinatura de um amplo acordo comercial do Pacífico, com o Japão e dez outras economias, diante de críticas de que tratados passados causaram ao mesmo tempo a disparada dos déficits e a fuga de postos do trabalho para o exterior.


Os dados também reforçaram o dilema do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) sobre qual seria o momento adequado para elevar as taxas de juros e reconduzir a política monetária a um quadro mais próximo da normalidade.


Por um lado, a alta das importações é um sinal claro de solidez da economia americana, puxada pelo consumo, com forte alta da importação de bens de consumo. Os dados de março, além disso, foram distorcidos pela greve nos portos da Costa Oeste, já encerrada.


Por outro lado, os dados aumentam a chance de os indicadores do crescimento econômico do primeiro trimestre, já anêmicos, serem revistos para baixo, e economistas já preveem uma contração.


Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados na semana passada, que revelaram um crescimento da economia americana à taxa anual de apenas 0,2%, tiveram como pressuposto que o déficit comercial reduziria o crescimento em 1,25 ponto percentual. Mas os dados de março, piores que o esperado, permitem prever que o PIB do primeiro trimestre acabará tendo queda de 0,5 a 0,7 ponto percentual, disseram economistas.


A grande interrogação agora é por quanto tempo persistirá a desaceleração da economia dos EUA. As autoridades do Fed disseram acreditar que o desaquecimento geral foi causado, pelo menos em parte, por fatores temporários.


Muitos economistas continuam a prever que a economia se recuperará no segundo trimestre.


Uma escalada de 20% das importações de bens de consumo em março e um aumento de 10,2% das importações de automóveis constituem sinais de solidez da economia, disse Paul Ashworth, economista- chefe para os EUA da consultoria Capital Economics.


Os dados de importação de bens de consumo são um sinal de que “as varejistas americanas preveem um grande aumento do consumo doméstico no segundo trimestre”, disse. “Consequentemente, ainda consideramos que o crescimento do PIB ficará acima de 3% anualizados no segundo trimestre.”


Mas os dados da balança comercial têm ainda importante conotação política, e foram divulgados num momento delicado. Obama alçou o comércio exterior ao topo de sua agenda econômica, apesar das críticas até no seu próprio Partido Democrata. Ele argumenta que a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) ajudará os EUA a elevar exportações e a criar mais empregos no país.


Os mais recentes dados revelaram que o déficit comercial americano com o Japão, o grande participante das negociações em torno do TPP, aumentou para US$ 6,3 bilhões em março, devido à alta de US$ 2,2 bilhões ocorrida nas importações.

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