Agronegócios – Resposta ao deputado Xico Graziano |
Thomaz Antônio Perez da Silva Meirelles A revista “Dinheiro Rural”, edição 16, de fevereiro do corrente ano, traz entrevista com o deputado federal pelo PSDB, o engenheiro agrônomo Xico Graziano, considerado o guru do agronegócio brasileiro, com passagens pela presidência do Incra e pela secretaria de agricultura de São Paulo. Fala sobre reforma agrária, do projeto de criação da Agência Reguladora do Agronegócio e outros assuntos. Justamente por demonstrar conhecimento achei estranha, injusta e infeliz a afirmativa que fez sobre a atividade de avaliação de safra realizada por técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E o pior, não apresenta qualquer tipo de sugestão, optando apenas em levantar suspeitas. Afirmativas ofensivas do Deputado Ao afirmar que a “…Conab está se especializando em apavorar os produtores…” e “…sempre a primeira estimativa é absurda. Parece que é para jogar os preços mais para baixo ainda…”, o nobre deputado ignora os 50 anos de existência da Conab (somente em 1992 passou a ter essa denominação), a seriedade e o esforço dos técnicos que atuam na execução do levantamento de safra, abdicando muitas vezes do convívio com os seus para trabalharem arduamente no sonho de construir um Brasil cada vez melhor. Recentemente, num acidente de trânsito, a Conab perdeu, em plena atividade funcional, um de seus técnicos. Fico imaginando como seria difícil dizer para a família desse colega que não há “credibilidade de informação” na atividade que custou sua vida. Conheço, também, o caráter, competência, dedicação e responsabilidade do Sr. Eledon Oliveira, Gerente de Levantamento e Avaliação de Safra (GEASA). Jamais, juntamente com sua superintendência, diretoria e presidência, prestaria esse desserviço aos agricultores brasileiros. Sou Brasil, sou Amazonas… Não sou PT, nem PSDB. Sou Brasil, sou Amazonas, sou Conab e um árduo perseguidor da verdade e da justiça. Quando erro, com humildade, peço desculpas. Quando o deputado diz que “…é preciso entender que não adianta só produzir, é preciso vender…” poderia, perfeitamente, aproveitar a oportunidade da entrevista e fazer referência ao Programa Fome Zero, especificamente no Programa de Aquisição de Alimentos, conhecido como PAA. Este novo instrumento de apoio à comercialização agrícola tem sido altamente útil aos pequenos produtores rurais no momento de negociar a produção. Isso não existia antes, pois os preços da PGPM estavam defasados (alguns continuam), havia limitação de produtos, e não contávamos com o apoio do PAA, que é mais flexível, moderno e de grande alcance social. No Amazonas, apesar da tímida produção agropecuária, já posso testemunhar o sucesso das ações do Compra Direta e do Compra Antecipada com doação simultânea. Nossos números são pequenos se compararmos com o resto do Brasil, mas, altamente significativos em nível regional. Tenho convicção que o PAA é sucesso nacional. É evidente que ele necessita de acertos técnicos e de maior recurso financeiro, entretanto, já vem possibilitando a inclusão social de vários pequenos agricultores num dos mais delicados problemas do agronegócio: a comercialização. Entendo que os bons programas devam ser exaltados, principalmente por conceituados nomes do agronegócio, independente da sigla partidária de quem o criou. Concordo com o deputado Xico Graziano quando afirma que “…o produtor está acostumado a reclamar do governo, mesmo de tarefas que são deles…”. Concordo, também, quando diz que “…o governo precisa assumir uma função de indicador, balizador…” e que “…os produtores precisam apreender a se organizar…”. São verdades incontestáveis. Agora, colocar a credibilidade técnica da Conab em dúvida é, no meu ponto de vista, uma atitude injusta e impensada. Vivemos em um País com dimensões continentais e peculiaridades regionais acentuadas. De cara, já dá para imaginar o tamanho do desafio em realizar um levantamento de safra. No Amazonas, por exemplo, jamais imaginaríamos passar por uma seca da dimensão ocorrida. Nos últimos 60 anos nada igual havia acontecido e, segundo novas estimativas, poderemos ter sérios problemas ambientais, econômicos e sociais, desta vez com a enchente. Os demais problemas climáticos enfrentados no Nordeste e no Sul interferem, logicamente, nas previsões. Isso é Brasil, temos que aceitar os desafios que a natureza nos impõe. Devo dizer ao nobre deputado que a insinuação de manipular preços, é pesada demais e não tem haver com a verdade do trabalho executado pelos técnicos da Conab. Antes de Cristo, os pensadores já diziam que “…na vida nada é permanente, exceto as mudanças…”. Seguindo essa filosofia, a Conab vem complementando o procedimento de aplicação de questionários, com coleta de dados por meio de satélites. Este serviço, que é recente, está fundamentado no uso de geotecnologias: sensoriamento remoto, geoprocessamento e Global Positioning System (GPS). Conhecido como Geosafras, iniciou em meados de 2004 com o levantamento da cultura de café em Minas Gerais e Espírito Santo. A própria empresa reconhece que a utilização desse instrumental melhora a precisão, conferindo total credibilidade aos números e estabilidade ao mercado cafeeiro. Previsões falhas Recorro aos números contidos no artigo elaborado pelo jornalista Elio Gaspari, publicado no “O Globo” de 18 de janeiro passado para dar exemplos de que não é tarefa das mais fáceis fazer previsão em nosso País. Equívocos invonluntários podem acontecer. Vejamos alguns: Entre 1990 e 2002 várias empresas foram privatizadas, arrecadando US$ 105,5 bilhões de dólares. Naquele momento, os governos prometiam ou “previam” abater a dívida pública, mas ela foi de 30% do PIB em 1995 para 62% em 2002. Prometiam ou “previam” atrair recursos externos, mas os arrematadores foram socorridos por US$ 15,6 bilhões de empréstimos do BNDES. Prometiam ou “previam” o crescimento econômico e “…nos oito anos do surto privatista dos tucanos a economia cresceu abaixo de 3%…”. Não vou pré-julgar, nem crucificar os técnicos da equipe econômica que trabalharam estes números. Como vimos, prever näo é atividade fácil, portanto, qualquer erro porventura cometido pelos técnicos da Conab são involuntários, desprovidos de quaisquer segundas intenções. “…Se especializando em apavorar produtores…” Não é verdade. É só perguntar aos mais de 40.000 beneficiários do PAA no Amazonas se, de fato, é este o sentimento em relação a Conab. Os números do Brasil são ainda mais animadores. É notório que o PAA precisa de ajuste; a PGPM, de maior eficiência e eficácia; o levantamento de safra de maior abrangência e de novas tecnologias. Isso tudo, convenhamos, é um processo gradativo em função da dificuldade financeira e, muitas vezes, de pessoal. Isso sem levar em consideração o desmonte que a Conab sofreu no governo passado. Lembro, com tristeza, os inúmeros Planos de Demissão Voluntária Incentivada (PDVI) disponibizados ao corpo funcional que, de “voluntário” não tinham absolutamente nada. Era pura pressão. Como resultado dessa absurda política de “incentivo”, vejo, constantemente, ex-colegas com extrema dificuldade de sobrevivência. Naquela altura, o governo estava se especializando em “apavorar” funcionários. Por pouco não fui mais uma vítima. Graças a Deus resisiti, fiquei, e posso continuar ajudando minha família, o Amazonas e o Brasil. Repito, não sou PT, nem PSDB, quero apenas que os bons programas sejam aprimorados, os funcionários respeitados e, cada vez mais, diminua a distância entre ricos e pobres. 21.02.2006 Thomaz Antonio P. Silva Meirelles – Administrador e técnico de operações da CONAB/AM – E-mail: superbox@argo.com.br |