De balões ao primeiro avião

11/11/2006 05:11:21 –

Por: Jornal Vale Paraibano

Por Mario Eugenio Saturno

Alberto Santos Dumont foi um brasileiro espetacular. Teve uma vida exemplar, de persistência e busca do sucesso. Sucesso no sentido de construir e fazer funcionar suas engenhocas.


Santos Dumont nasceu em Palmira, hoje, rebatizada. Era o sexto filho do casal Henrique Dumont e Francisca dos Santos. Seus avós paternos eram franceses. Henrique formou-se engenheiro na École des Arts et Métiers. Casou-se e mudou para Palmira a serviço da construção da Estrada de Ferro Dom Pedro 2º, ligando Rio de Janeiro a Minas Gerais.


Alberto foi alfabetizado por sua irmã Virgínia. Estudou ainda em Campinas, no colégio Culto a Ciência, em São Paulo, nos colégios Kopke e Morton e na Escola de Ouro Preto. Santos Dumont teve professoras francesas contratadas por seu pai, diretamente de Paris. Observava as nuvens, as aves e fazia pipas. Leu Júlio Verne.E m 1888, em São Paulo, viu um balão.


Alberto dirigia as locomotivas e fazia a manutenção das máquinas de café e da máquina de costura de sua mãe. Em 1890, seu pai sofreu um acidente. Acompamhou-o a Paris. Conheceu o motor a gasolina. Trouxe para o Brasil um automóvel Peugeot, a gasolina, o primeiro no país. No ano seguinte, seu pai lhe deu parte de sua fortuna.


Foi para a França. Finalmente, em 23 de março de 1898, fez, com Machuron, sua primeira ascensão num balão de 750 m3, voaram duas horas, um percurso de 100 km.


Santos Dumont encomendou um balão. Acompanhou todas as etapas da construção, para aprender e também para implementar inovações. Usou seda japonesa para reduzir o peso. Em 4 de julho de 1898, subia ao céu o balão Brasil, surpreendendo os parisienses pelo seu tamanho reduzido.


Os balões não eram dirigíveis. Projetou o número 1, com forma alongada, com um charuto, gás hidrogênio e motor de propulsão a gasolina. Na primeira tentativa, chocou-se contra árvores, por ter decolado a favor do vento, sugestão dos especialistas. No dia 20 de setembro de 1898, voou sobre Paris, contra e a favor dos ventos.


Realizou em 1899 vôos com os dirigíveis número 2 e número 3. Santos Dumont fez experiências com seu número 4 (setembro de 1900) e tentou vencer o prêmio Deutsch com seu número 5. Fez uma primeira tentativa em 13 de julho de 1901. Na segunda, em 8 de agosto, o balão perdeu hidrogênio e chocou-se contra o telhado do Hotel Trocadéro, causando uma grande explosão e deixando Dumont dependurado no hotel, sendo resgatado pelos bombeiros de Paris.


Em 19 de outubro de 1901, convocou os jurados do Aeroclube da França, que por causa do mau tempo, apenas 25 compareceram, entre eles, o próprio Deutsch de La Meurthe. Em 29 minutos e 30 segundos, o número seis cruza a linha de chegada. O prêmio de 129 mil francos foi distribuiu entre sua equipe e desempregados de Paris.


O presidente do Brasil, Campos Salles enviou outro prêmio no mesmo valor, com uma medalha de ouro com sua efígie e uma alusão a Camões: “Por céus nunca dantes navegados”.


Em abril de 1902, viajou aos Estados Unidos, onde visitou os laboratórios de Thomas Edison, em Nova Iorque, e foi recebido na Casa Branca, em Washington, DC, pelo Presidente Theodore Roosevelt.


Em junho de 1904, foi aos Estados Unidos, para participar da corrida de dirigíveis de Saint-Louis, mas sofre ação criminosa de sabotadores, que inutilizam o invólucro do seu dirigível nº 7.


Construiu o número 10, com capacidade para 12 passageiros. O número 11 foi um bimotor com asas. Em 1906, realizou experiências com o número 13 e construiu o número 14. Com ele realizou experiências com seu primeiro avião, o 14-bis que decolava inicialmente acoplado ao dirigível. Mas, essa história, todos já conhecem.


Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior da Divisão de Sistemas Espaciais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

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