19/11/2013
Café da terra
Na busca por cafés capazes de satisfazer paladares cada vez mais exigentes, a Fazenda Daterra, braço agrícola do grupo DPaschoal, acelerou os trabalhos em sua unidade de processos e pesquisas para diversificar sua oferta de grãos de qualidade, os lavados e despolpados entre eles. Em linha com essa estratégia de valorização de seu portfólio, a fazenda também será a primeira a realizar, nesta terça-feira, um leilão online de produtos com características exclusivas de aroma e sabor.
A companhia não revela os aportes realizados nessas ações mais recentes, mas informa que, com eles, seus investimentos nos últimos 20 anos somam R$ 120 milhões. O valor inclui a implantação e a estruturação de suas lavouras, além de tecnologia e medidas para garantir a “sustentabilidade” da produção, conforme informações de Isabela Paschoal Becker, diretora do Ateliê do Café Daterra.
Os investimentos da Fazenda DaTerra – que faturou R$ 40 milhões no ano passado e representou 15% do patrimônio do grupo DPaschoal – têm em vista a demanda por cafés “exclusivos”, sobretudo diante da proliferação global de cafeterias, observada mesmo em países com pouca tradição no consumo da bebida. “O consumidor quer café todo dia, mas quer também um produto diferenciado”, afirma Isabela.
O grupo DPaschoal decidiu investir em cafés especiais no fim da década de 1970, e a opção se mostrou rentável. Naquela época, conta Isabela, já se sabia que investir apenas na commodity não oferecia o retorno desejado. Atualmente, por exemplo, a commodity passa por um período de fortes quedas de preços que não atingem os produtos especiais com a mesma força.
Antes de se concentrar no café, a DPaschoal fez suas primeiras incursões agropecuárias com a produção de frutas, pinus e gado.
O grupo adquiriu sua primeira fazenda de café em 1987, em Franca, na Alta Mogiana Paulista. Hoje, a produção está concentrada no Cerrado Mineiro, em uma área total de 6,8 mil hectares (2,8 mil hectares em produção), dividida em 219 “mini fazendas”. O restante inclui áreas de preservação ambiental, cerrado, florestas e cachoeiras.
A produção da empresa nesta safra 2013/14 foi de 108 mil sacas, todas certificadas (Rainforest e ISO 14001), ante 90 mil em 2012. Para o ciclo 2014/15, o volume tende a recuar para entre 75 mil e 80 mil, em virtude das características técnicas e agronômicas de sua área de plantio. Os grãos especiais representam aproximadamente 80% da produção, que é quase toda exportada.
Apenas os grãos verdes são embarcados, para mercados cobiçados como Japão e EUA, além de Coreia do Sul, Taiwan, Inglaterra, Espanha, Chile e Grécia, entre outros. Os produtos são comercializados normalmente com prêmios que variam entre 10 centavos de dólar por libra-peso e US$ 4 por libra-peso para um “reserva top”. Alguns produtos são vendidos com preço fixo.
Em busca de deferenciações, a empresa investiu em pesquisa e tecnologia e, há dez anos, desenvolveu um menu de blends e marcas de café. Esses blends são identificados como nos rótulos de vinhos: “Reserva” e “Linha Penta”, por exemplo, estão entre eles. A Daterra também desenvolveu máquinas recolhedoras do grão e utiliza leitura ótica após a torra – a empresa tem uma minitorrefadora, com a qual atua no mercado interno. Afinal, como diz Isabela, “um grão mais torrado pode estragar o sabor da bebida”.
A Daterra não tem planos de exportar café torrado e moído por conta da perda de qualidade da bebida em um curto espaço de tempo. Tampouco deverá aumentar o volume de café produzido.
Os cafés que não são exportados são comercializados no Brasil pelo Ateliê do Café Daterra, que fatura de R$ 80 mil a R$ 100 mil por mês. Houve produtos vendidos por aqui a R$ 90 o pacote de meio quilo, mas outros são mais em conta e o mesmo volume varia de R$ 18 a R$ 34.
No leilão que fará hoje, que será aberto a compradores brasileiros e estrangeiros, a Daterra ofertará 60 sacas, divididas em três microlotes e um nanolote de cafés exóticos.
Fonte : Valor Econômico