DA FLORADA A COLHEITA DE CAFÉ: UMA MARATONA COM OBSTÁCULOS Por Prof. José Donizeti Alves

A produção de café é compatível com o tamanho da florada? A resposta imediata é que sim, uma vez que a premissa é de que a flor de hoje “é” o fruto de amanhã.

Por: Prof. José Donizeti Alves Universidade Federal de Lavras

 Mas eu prefiro dizer que a flor de hoje “pode” ser o fruto de amanhã, porque a fase de produção de café é como uma maratona com obstáculos. Maratona porque é longa e com obstáculos porque eles existem em abundancia e podem ter duas origens, naturais ou impostos pelo cafeicultor.


Como obstáculo natural, além das anormalidades meteorológicas, destaco a queda de frutos. A queda de frutos no cafeeiro é um problema que assusta cafeicultores, pois após uma boa florada, como as que temos observados ultimamente, a expectativa é de uma alta produção. Mas infelizmente a fisiologia da produção do cafeeiro nos impõe algumas condições que devemos estar atentos. Pode parecer estranho para muitos, mas, a queda de frutos de café é produto da evolução da espécie Coffea arábica e a maior parte das cultivares ainda preserva atributos fisiológicos de plantas sombreadas e não desenvolveram mecanismos para manter a carga de frutos balanceada com a disponibilidade de carboidratos.


Apenas para ilustrar e para mostrar a real dimensão do quanto a queda de flores ou de frutos contribuem para a queda da produção da lavoura, compilei vários artigos científicos que foram resumidos nesses dois exemplos:


Cada ramo contava, em média com 25 chumbinhos onde inicialmente haviam 67 flores. Isso significa que somente 37,3 % das flores transformaram-se em chumbinhos. Apesar desses números assustadoramente pequenos, a produtividade da lavoura chegou a 40,0 sacos/ha. Esses resultados mostram que, felizmente, houve um crescimento compensatório dos frutos remanescente na planta o que pode ser atribuído a maior área foliar fotossinteticamente ativa disponível para cada fruto.
Cafeeiros que apresentaram, em média, 58 flores/roseta estavam com 20 chumbinhos/roseta e, ao final, 12 cerejas/roseta aptos para serem colhidos. Esses números revelam que somente 34,5% das flores vingaram e que apenas 60% dos chumbinhos permaneceram na planta até a colheita. Se formos considerarmos os números da floração até a colheita, a queda foi de, em número redondo, 80%.
Como essas lavouras estavam em bom estado fisiológico, conclui-se, portanto, que a queda de frutos de café foi um fenômeno natural e como tal, é normal que ela ocorra dentro de certos níveis. A notícia ruim é que não existem perspectivas a curto prazo, de se evitar que isso aconteça e que ela pode ser agravada por fatores bióticos e abióticos e aí sim, é que entram os obstáculos impostos pelo próprio cafeicultor.


Como já destacado por muitos, neste e em outros espaços, as lavouras, em sua grande maioria, estão muito desfolhadas e com seca de ponteiros, cujos sintomas são característicos de um grave depauperamento. As causas do depauperamento, entre outras são: alta safra, floração extemporânea e condições climáticas adversas (chuvas fortes, estrese hídrico, frio, geadas, chuvas de granizo), ferrugem e outras doenças nos últimos meses. Enfim, desde a colheita até hoje, as principais regiões cafeeiras passaram por toda sorte de problemas em um curto espaço de tempo.


Nessa altura do campeonato as perguntas são as seguintes: a queda natural dos frutos será de quantos por cento? Em quantos por cento ela será agravada por fatores externos?


Em cafeeiros desfolhados este valor poderá ser maior que a média (em níveis aceitáveis gira em torno de 6 a 10%) devido a um ajuste da relação fonte: dreno (folha:fruto) proporcionada pela queda dos frutos. Em outras palavras, o número de frutos deve se adequar ao menor número de folhas.


A única saída para atenuar o problema da queda de frutos, reduzindo-a a níveis mínimos de modo a garantir altas produtividades, são as tecnologias disponíveis que permitirão ao cafeeiro repor as folhas caídas. Assim, é importante destacar que é justamente nesse ponto é que entra o bom manejo da lavoura de modo a forçar esse ajuste pelo aumento da área foliar, seja ele pelo crescimento dos ramos ou reduzindo a desfolha, sem diminuir a carga de frutos. Em outras palavras, a condição sine qua non para que os frutos do cafeeiro permaneçam ligados à planta-mãe, está diretamente relacionada à manutenção das folhas, em quantidade e qualidade suficientes para permitir que a fotossíntese ocorra em sua plenitude.


Para contornar essas anormalidades fisiológicas a recomendação é que os cafeicultores caprichem na adubação e adotem tecnologias que visem a sanidade da lavoura com vistas ao pegamento da florada e manutenção dos frutos. Valer-se da ajuda de um consultor especializado e experiente para ajudá-los a ultrapassar os obstáculos, certamente irá minimizar a queda de frutos e aumentar a produtividade de sua lavoura nestas épocas de tantas incertezas.

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