Da Europa para o Brasil a tradição de beber um bom café

12 de dezembro de 2005 | Sem comentários Barista Consumo
Por: Revista Universo - Bárbara Kelly Joaquim

O hábito de beber café na Europa surgiu quando os turcos otomanos, no final do sécul XVII, levaram o produto para Veneza, porém, a maneira como preparavam a bebida não agradava aos europeus que criaram uma diferente maneira de aprontar o café.


Em seguida, a evolução para a melhor apreciação do café foi acontecendo. Houve a criação de máquinas especializadas para o preparo do produto e assim, o surgimento das cafeterias, que mescladas com confeitarias ofereciam às famílias européias um ambiente aconchegante para frequentarem.

A chegada dos imigrantes europeus aprimorou o hábito, antes rudimentar, de apreciar um café. O motivo da vinda foi a necessidade de mão-de-obra nas lavouras cafeeiras no período em que o Brasil já não contava tão fortemente com a presença de escravos. A entrada do produto em terras brasileiras aconteceu em 1727 pelo oficial portugês Francisco Mello Palheta, o café tornou-se parte da nossa cultura.

Em âmbito político e econômico, houve a chamada “política do café com leite” com as lideranças dos estados de São Paulo, que também era chamada de “capital do café” e de Minas Gerais, que apesar de ter uma grande cultura cafeeira se destacou com a produção de gado leiteiro.

Em âmbito cultural, assim como na Europa, as “confeitarias-cafeterias” eram onde os brasileiros traziam suas famílias, discutiam sobre política, negócios, amenidades enquanto saboreavam um cafezinho. Ao estourar a segunda guerra mundial a maior influência norte americana incitou a decadência desse hábito não-europeu. “Depois da segunda guerra houve uma influência fortíssima americana, acabaram-se quase com os cafés e isso está retornando agora” comenta Victor Lassen, do café Metrópolis.

O hábito foi regressando no Brasil tanto por causa dos descendentes dos imigrantes europeus, quanto por causa do maior acessa à informação proveniente dos meios de comunicação de massa e da tecnologia.

Assim, na última década o número de cafeterias no Brasil cresceu, logo foi resgatado o hábito de apreciar um bom café, apesar da significante concentração de imigrantes europeus no Sul, os estados pioneiros nesse processo de retomada do antigo costume foram Rio de Janeiro e São Paulo.

Na metade da década de 90, as cafeterias foram tomando espaço no Sul a maneiro do clássico estilo europeu utilizando receitas variadas e de família. Em ordem de maior número de cafeterias Rio Grande do Sul vem em primeiro lugar, Curitiba em segundo e, por fim, Santa Catarina. Seja no Verão com cafés gelados, seja no inverno, o período em que o consumo aumenta, com inúmeras receitas.

O café tem papel fundamental e histórico no crescimento do país pois é o maior produtor mundial de caé e o segundo maior consumidor. Centrando a produção em Minas Gerias, São Paulo, Espírito Santo e Paraná.

Como o mercado internacional começou a exigir um café de melhor qualidade e a concorrência cafeeira estava ficando sérias, o Brasil, que antes, se classificava apenas como maior produtor, atualmente, se destaca em quantidade de produção e em qualidade do produto. “O melhor café do mundo é o brasileiro porque nós temos tanto em quantidade quanto em qualidade. Só vamos trabalhar com cafés brasileiros, não tem sentido trazer um café de fora para cá”, articula Victor.

Com essa reviravolta do produto no Brasil, o consumidor passou também a ser mais exigente e as cafeterias começaram a servir cafés com grãos selecionados e de melhor qualidade com receitas diferenciadas para atender a todo tipo de público, seriam os caés gourmet ou café especias com certificado de origem, selo de pureza da ABIC e afiliado ao brazilian special coffee, o descafeinado, o expresso, o café orgânico, neste, obrigatório o selo de que realmente se trata de um café orgânico. Tanto os cafés, como produtos orgânicos em geral primam pela qualidade da vida. O consultor de cafés orgânicos Cláudio Tsuyoshi Ushiwata da cafeteria Terra Verdi (primeiro cofee shop orgânico do país), diz que, “Nós trabalhamos com cafés e produtos orgânicos, com produtos voltados para a saúde, para qualidade de vida, meio ambiente e sociedade”. Num ambiente que se comercializa o café orgânico, por priorizarem a qualidade de vida, geralmente não é permitido fumar isso desmistifica a idéia de que o café atrai o cigarro. O ideal para os apreciadores dos cafés orgânicos é “entrar em qualquer cafeteria seja no Sul ou em qualquer parte do Brasil e poder apreciar um bom caé orgânico” explana Cláudio.

Cafeteria um convite a um bom café

As cafeterias procuram proporcionar o prazer de beber o café e relaxar enquanto a degustação ocorre. O ambiente é agradável e confortável, com boa iluminação, livros, revistas e jornais e uma decoração que geralmente exalta artistas da cidade pintores, fotógrafos ou escultores. Tudo isso para que o cliente sinta-se mais a vontade possível. A pessoa tem que entrar na cafeteria e se sentir numa extensão da sua casa, diz Victor. Diferente do Fast food, nós somos slow food, completa Cláudio. As cafeterias também são lugares escolhidos por empresários para realizarem reuniões e assuntos de negócios pelo mesmo motivo, ou seja, o ambiente agradável.

Em Porto Alegre, o Café do Porto tem uma intensa atividade cultural. Baseado nas cafeterias de Buenos Aires, o Café do Porto tornou-se ponto de encontro dos apreciadores da bebida.

O atendimento é um ponto ao qual as cafeterias dão especial atenção. Se o cliente tem tempo de degustar o café com calma, encontra um bom ambiente; se o cliente está apressado ou trabalhando, encontra um bom atendimento. Neste sentido, as Cafeterias estão buscando cada vez mais diferenciais para oferecer a seus clientes. Para aperfeiçoar o atendimento e tornar a degustação do café mais prazerosa, o Café do Porto adotou, no inverno de 2000, aquecedores a gás junto à calçada, ao lado das mesas externas. Além disso, mantas são oferecidas aos clientes que podem usá-las enquanto tomam seu café. Produzidas em pura lã, com o logotipo do Café do Porto, as mantas viraram moda no espaço e não há cliente que as dispense em dias de temperaturas baixas.

A relação entre as cafeterias e os consumidores foi se tornando cada vez mais forte, pois à medida que o cliente exige um bom café, as cafeterias procuram educar o paladar dos consumidores. Assim como se degusta um bom vinho, é importante saber degustar um bom café.

O Barista
A cultura do café e a exigência do mercado criaram também uma nova profissão, a do barista. A especialização, as novas receitas, o amor ao café e o termo cafés especiais fizeram do barista um profissional essencial para transmitir a arte de preparar o café. No processo da elaboração do café, o barista deve estar por dentro do chamado quatro M: Mistura dos grãos, Moinho, Máquina de extração e Mão do barista. Este profissional tem Arte na preparação do café a ser servido ao cliente, que entenda ou não do produto, usando uma boa receita para sua apreciação e degustação. O barista também orienta e educa o público a saber saborear o café, como por exemplo evitar que o cliente coloque açúcar para que não perca a doçura natural do café e servi-lo com um pequeno copo de água com gás, que tem a função de limpar o paladar e fixar a sensação agradável e não forte do café. Assim, aos poucos, a orientação de como beber o café vai se inserindo na cultura do brasileiro.

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