Cumprida sua quarentena, Roberto Rodrigues volta à ativa

Publicação: 21/11/06

21 de novembro de 2006 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: O Estado de S. Paulo

Quando convidado a assumir o Ministério da Agricultura do governo Lula, Roberto Rodrigues partiu para Brasília com a convicção de que, em um ano, teria resolvido todos os problemas do setor. Afinal, conhecia a área com muita profundidade, sabendo, portanto, os caminhos para a solução. Ledo engano. Ao entrar no governo, dei-me conta de que existem várias prioridades e que estas demandam longa discussão, o que acaba gerando uma enorme morosidade, contou o agora ex-ministro, em sua primeira entrevista desde que saiu do governo. Como exemplo, Rodrigues – que dia 28 toma posse como Coordenador do Centro de Agronegócios da Escola de Economia de São Paulo da FGV – cita o seguro rural, cuja lei foi aprovada em 2003, regulamentada em 2004, com direito a verba no Orçamento de 2005. Só que, em 2005, os recursos foram contingenciados. O seguro só vigorou em 2006, mesmo sendo prioridade absoluta do governo Lula.


Aqui vão trechos da sua entrevista:

Por que o senhor deixou o cargo, não quis participar da campanha política?

Deixei o cargo porque considerei minha missão cumprida: todos os compromissos assumidos no discurso de posse foram cumpridos, além da reforma institucional do Mapa, com visão estratégica, e da criação de importantes mecanismos anticíclicos, da rastreabilidade e do equacionamento da crise. Não havia mais razão para continuar. O presidente Lula não me convocou para participar da campanha.

Pouco antes de sair do Ministério, o senhor disse que o Brasil passava pela maior crise na história do setor agrícola. Como então o senhor explica as boas previsões de safra do IBGE para o ano que vem?

A explicação é simples. O agricultor precisa plantar sempre para manter a esperan ça de pagar o que deve. É a bicicleta do campo: se parar de pedalar, aí a queda é definitiva. Ele tem a terra, as máquinas, os funcionários, se não plantar, este custo vira prejuízo direto. Daí a expectativa de safra razoável, embora a área plantada deva cair bastante.


Quais as prioridades para a agricultura nos próximos quatro anos?

A grande prioridade do agronegócio brasileiro está no binômio sustentabilidade/competitividade. Traduzindo: implementar as medidas que garantam renda estável ao produtor rural, ao mesmo tempo que sua produção se insira no mercado global.


Como isso seria feito?

Há um conjunto de temas relevantes que precisam ser equacionados. Um deles são as políticas anticíclicas: os países desenvolvidos já dispõem de mecanismos compensadores para os anos de perda de renda no campo. Estamos caminhando na mesma direção com o seguro rural. Mas falta quebrar o monopólio do IRB no resseguro e criar o Fundo de Catástrofe. É preciso investir em tecnologia, alavanca da competição. O Estado não tem recursos para tudo, de modo que a parceria com o setor privado é fundamental.


O setor privado?

Sim, juntamente com o governo ele tem um papel a cumprir. A Embrapa, aliás, estuda a criação de Sociedade de Propósito Específico com este fim. Não se pode esquecer da defesa sanitária, onde a grande prioridade é a integração de ações entre governos (federal, estaduais e municipais), mas principalmente com os produtores. Também é preciso aperfeiçoar os controles nas fronteiras, como forma de eliminar a aftosa e evitar a influenza aviária, e cuidar de doenças das plantas, cujo efeito tem sido devastador. Rastreabilidade e certificação já são condições importantes impostas pelos consumidores com tendência a crescer. A qualidade é tão importante quanto o preço na questão da competitividade, exigindo maior atenção, inclusive quando se agrega valor, ponto fundamental para a melhoria da renda rural. É preciso investir em logística e infra-estrutura, pois sem isso todas as vantagens comparativas que temos em nossas fazendas se perdem no caminho do porto ou do supermercado. E também é importante ampliar as associações de interesses com países e/ou blocos para melhorar o acesso a mercados, bem como trabalhar mais rigorosamente na promoção comercial, criando a figura dos adidos agrícolas. Alianças estratégicas com organizações de consumidores de outros países são indispensáveis. Finalmente, é necessário fortalecer as cadeias produtivas, com ênfase no desenvolvimento das cooperativas, fundamental para os pequenos produtores e para a agregação de valor, via industrialização e distribuição.


E quanto às dívidas rurais. Há solução para isso?

Há, iniciando-se por uma ampla negociação do estoque. Nos últimos três anos, diversos fatores se somaram para produzir uma crise de renda sem precedentes na história moderna do nosso agronegócio: aumento do custo dos insumos, queda dos preços agrícolas, redução da produção (seca no Sul e ferrugem da soja no Centro-Oeste), aumento do endividamento e logística sucateada, tudo potencializado pelo real valorizado. Por mais brilhante que sejam as perspectivas da agricultura no futuro, este não interessa aos mortos. O último pacote anunciado pelo governo equaciona o endividamento, mas não o resolve.

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