Durante quase 70 anos de ininterruptas pesquisas com genética e melhoramento
do cafeeiro, Instituto Agronômico desenvolveu dezenas de cultivares e linhagens
de café e acumulou extenso conhecimento sobre suas características e
comportamento nas diversas regiões brasileiras. Avalia-se, hoje, que mais de 90%
dos estimados 4 bilhões de cafeeiros, cultivados no Brasil, sejam provenientes
desses trabalhos. Alguns cultivares fazem parte da história da cafeicultura
nacional tendo-se constituído nos alicerces da nossa produção durante décadas.
Da mesma forma, outros são a base da cafeicultura de países, especialmente da
América Central, como os cultivares Bourbon Vermelho, Caturra Vermelho, Caturra
Amarelo e Catuaí Vermelho.
Houve sempre destaque especial para o desenvolvimento de material de alta
produtividade e rusticidade, que fosse adaptado às mais diversas condições
edafoclimáticas e se destacasse pelas características específicas, resultando em
múltiplas opções para as variadas situações da cafeicultura nacional.
Os cultivares de porte baixo como Catuaí Amarelo e Catuaí Vermelho
modificaram sistemas de produção, permitiram a utilização de novas áreas para a
cafeicultura, aumentando a lucratividade e mesmo viabilizando seu cultivo em
regiões outrora improdutivas, como extensas áreas dos cerrados em São Paulo,
Minas Gerais e Goiás. Mesmo cultivares de porte alto como linhagens de Mundo
Novo e Acaiá também têm tido bastante êxito nessas regiões.
O cultivo de material com resistência à ferrugem – Icatu Vermelho, Icatu
Amarelo, Icatu Precoce, Obatã e Tupi – representa considerável economia para o
produtor, diminui a poluição ambiental, bem como os riscos para a saúde dos
agricultores e consumidores. Obatã e Tupi, de porte baixo, são especialmente
indicados para plantios adensados ou em renque, atendendo às mais modernas
tendências da cafeicultura brasileira.
O porta-enxerto Apoatã é um tipo de café robusta (Coffea canephora),
selecionado para resistência aos nematóides, sobretudo para viabilizar o retorno
da cafeicultura às regiões da Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense. Sua
importância socioeconômica é evidente, considerando-se que Apoatã pode também
ser cultivado no oeste do Estado de São Paulo e no Vale do Ribeira, como pé
franco, produzindo assim matéria-prima para atender diretamente à indústria de
café solúvel.
*Novos lançamentos do IAC*
Bourbon Amarelo
Por ser mais precoce que Mundo Novo, Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, o
cultivar Bourbon Amarelo, apesar de menos produtivo que os anteriores, poderá
ser indicado para plantio quando se deseja:
a) Uma colheita precoce, em parte da lavoura, o que possibilita melhor
utilização de mão-de-obra e máquinas agrícolas.
b) Produzir café em regiões de maior altitude ou mais frias, onde a maturação
do Mundo Novo e principalmente do Catuaí se torna muito tardia, coincidindo com
novo florescimento, o que prejudica a produção do ano seguinte.
c) Obter café de qualidade de bebida superior, sobretudo visando ao mercado
de “cafés gourmet” ou atender a demandas especiais.
Mundo Novo
As diversas linhagens do cultivar Mundo Novo possuem elevada capacidade de
adaptação, produzindo bem em quase todas as regiões cafeeiras do Brasil. É
preferencialmente indicado para plantios largos (3,80-4,00m x 0,80-1,00m). Em
razão de seu grande vigor vegetativo, o espaçamento para o sistema adensado com
esse cultivar deverá ser maior que o normalmente utilizado com cultivares de
porte baixo. Por ter ótima capacidade de rebrota, são especialmente indicados
para os sistemas em que se utiliza a recepa ou o decote para reduzir a altura
das plantas. Dentre as linhagens de Mundo Novo, IAC 376-4, IAC 379-19, IAC
464-12 e IAC 515-20 são as que melhor se adaptam ao plantio adensado, caso o
cafeicultor faça opção a este sistema de cultivo.
Acaiá
As linhagens do cultivar Acaiá também têm boa capacidade de adaptáção às
diversas regiões cafeeiras do Brasil e podem ser especialmente indicadas para o
plantio adensado, pois apresentam ramos laterais curtos e maturação uniforme. O
espaçamento 2,00 x 0,50m tem sido muito utilizado em plantios adensados e 4,00 x
0,50m nos que permitem mecanização. Outra característica que o diferencia são as
sementes, maiores que as do Mundo Novo e suas linhagens. É um cultivar
especialmente indicado quando se pretende utilizar colheita mecânica.
Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo
As linhagens dos cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo têm ampla
capacidade de adaptação, apresentando produtividade elevada na maioria das
nossas regiões cafeeiras ou mesmo em outros países. De baixa estatura, permitem
maior densidade de plantio, tornam mais fácil a colheita e mais eficientes os
tratamentos fitossanitários. Esses cultivares já produzem abundantemente logo
nos dois primeiros anos de colheita. Por isso, necessitam de cuidadoso programa
de adubação.
Icatu Vermelho e lcatu Amarelo
Esses cultivares têm sido plantados em quase todas as regiões cafeeiras do
Brasil. Trata-se de material de porte alto, muito vigoroso e de excelente
capacidade de rebrota quando submetido à poda. O espaçamento para o plantio é
semelhante ao indicado para o ‘Mundo Novo’, cujas linhagens não admitem plantios
muito adensados (não deve ser inferior a 3,00m entre linhas e de 0,80 a 1,00m
entre plantas), dependendo da região. Embora algumas linhagens se mostrem bem
adaptadas a regiões de altitude, outras constituem-se em boa opção para regiões
mais baixas e quentes que, no geral, são marginais para o plantio de outros
cultivares. Tem resistência variável à ferrugem.
Icatu Precoce
Por apresentar maturação precoce, lcatu Precoce (IAC 3282) é indicado para o
plantio em regiões de maior altitude, desde que observadas condições especiais
de manejo. Poderá ser utilizado também em espaçamentos adensados. Trata-se de um
cultivar de grande uniformidade, frutos amarelos e excelente qualidade de
bebida. Tem resistência variável à ferrugem.
Obatã e Tupi
São cultivares de porte baixo, resistentes à ferrugem e preferencialmente
indicados para plantios adensados ou em renque (2,00-3,00m x 0,50-0,80m). Suas
sementes são maiores que as dos cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo e há
vários anos vêm sendo distribuídas experimentalmente pelo IAC a muitos
cafeicultores e instituições de pesquisa. Têm apresentado excelentes produções e
grande rusticidade, razão pela qual seu plantio tem-se expandido rapidamente.
Apoatã
Trata-se de material pertencente à Coffea canephora e indicado como
porta-enxerto para qualquer um dos cultivares de café arábica recomendados para
o plantio. As mudas enxertadas são indicadas para áreas infestadas com os
nematóides Meloidogyne exigua, M. incognita e M. paranaensis. Cafeeiros
enxertados poderão também ser plantados em áreas isentas de nematóides, muitas
vezes com significativo ganho de produtividade e rusticidade em relação aos
mesmos cultivares não enxertados.
Por ser um cultivar vigoroso, produtivo, rústico, de sementes graúdas, pouca
porcentagem de moca, além da resistência aos nematóides das raízes e à ferrugem
das folhas, o Apoatá está sendo empregado como um cultivar de café robusta para
o oeste do Estado de São Paulo (Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense) e
Vale do Ribeira, em regiões com altitudes inferiores a 500m e temperaturas
médias superiores a 220C, com perspectivas bastante promissoras.
Características de cultivares e algumas linhagens de café desenvolvidas e
lançadas pelo Instituto Agronômico (IAC).
Cultivares, Linhagens e Características Principais
Bourbon Amarelo
IAC J2; IAC J9; IAC J10; IAC J19; IAC J20; IAC J22; IAC J24
Porte alto; frutos amarelos e de maturação precoce (20-30 dias antes que o
Mundo Novo); sementes menores, peneira média em torno de 16; suscetível à
ferrugem. É reconhecida a sua excelente qualidade de bebida. Produção menor que
a do Mundo Novo.
Mundo Novo
IAC 379-19; IAC 376-4; IAC 382-14; IAC 388-6; IAC 388-17; IAC388-17-1; IAC
464-12; IAC 467-11; IAC 480-6; IAC 515-20; IAC 501-5; IAC 502-1
Porte alto; vigoroso, frutos vermelhos e de maturação média; sementes com
peneira média em torno de 17; suscetível à ferrugem. As linhagens IAC 388-6; IAC
388-17 e IAC 388-17-1 apresentam ramos laterais mais longos (maior diâmetro da
copa).
Acaiá
IAC 474-1; IAC 474-4; IAC 474-6; IAC 474-7; IAC 474-19; IAC 474-20
Porte alto; frutos vermelhos e de maturação mais uniforme, de média para
precoce; sementes maiores, com peneira média em torno de 18; suscetível à
ferrugem.
Icatu Vermelho
IAC 2941; IAC 2942; IAC 2945; IAC 4040; IAC4041; IAC 4042; IAC 4043; IAC
4045; IAC 4046; IAC 4228
Porte alto; vigoroso; frutos vermelhos de maturação média a tardia; sementes
com peneira média em torno de 17; resistente à ferrugem. Frutos mais aderentes
aos ramos.
IAC 2941; IAC 2942; IAC 2945; IAC 4040; IAC4041; IAC 4042; IAC 4043; IAC
4045; IAC 4046; IAC 4228
Porte alto; vigoroso; frutos vermelhos de maturação média a tardia; sementes
com peneira média em torno de 17; resistente à ferrugem. Frutos mais aderentes
aos ramos.
Icatu Amarelo
IAC 2944; IAC 3686; IAC 2907
Porte alto; vigoroso; frutos amarelos de maturação média a tardia; sementes
com peneira média em torno de 17; resistente à ferrugem. Frutos mais aderentes
aos ramos. Excelente qualidade de bebida.
Icatu Precoce
IAC 3282
Porte alto; frutos amarelos de maturação precoce; sementes com peneira média
em torno de 16; resistente à ferrugem. Frutos mais aderentes aos ramos.
Catuaí Vermelho
IAC H2077-2-5-15; IAC H2077-2-5-24; IAC H2077-2-5-44; IAC H2077-2-5-72; IAC
H2077-2-5-81; IAC H2077-2-5-99; IAC H2077-2-5-144
Porte baixo; internódios curtos; ramificação secundária abundante; frutos
vermelhos de maturação média a tardia; sementes de tamanho médio; peneira média
em torno de 16; suscetível à ferrugem. Indicado para plantios adensados,
superadensados ou em renque.
Catuaí Amarelo
IAC H2077-2-5-17; IAC H2077-2-5-32; IAC H2077-2-5-39; IAC H2077-2-547; IAC
H2077-2-5-62; IAC H2077-2-5-74; IAC H2077-2-5-86; IAC H2077-2-5-100
Porte baixo; internódios curtos; ramificação secundária abundante; frutos
amarelos, de maturação média a tardia; sementes de tamanho médio; peneira média
em torno de 16; suscetível à ferrugem. Indicado para plantios adensados,
superadensados ou em renque.
Obatã
IAC 1669-20
Porte baixo; vigoroso; internódios curtos; boa ramificação secundária; brotos
novos de coloração verde; frutos vermelhos e de maturação média a tardia;
sementes com peneira média de 17; resistente à ferrugem. Indicado
prefencialmente para plantios adensados ou em renque.
Tupi
IAC 1669-33
Porte baixo; internódios curtos; brotos novos de coloração bronze; frutos
vermelhos e de maturação precoce; sementes com peneira média em torno de 17;
resistente à ferrugem. Indicado preferencialmente para plantios adensados,
superadensados ou em renque.
Apoatã (porta-enxerto)
Coffea canephora
IAC 2258
Porta-enxerto resistente aos nematóides Meloidogyne exigua, M. incognita, M.
paranaensis e à ferrugem; vigoroso e abundante sistema radicular; este cultivar
está sendo experimentalmente plantado como pé franco. Possui sementes graúdas e
de bom aspecto.
Novos lançamentos do IAC – 30 Agosto 2000
O Instituto Agronômico de Campinas está lançando uma nova variedade de café,
a IAC Ouro Verde, de excelente produção, ótimo vigor e porte baixo. O lançamento
oficial acontece durante o Simpósio Internacional de Café, que acontece no
próximo dia 29, na sede do Instituto. Junto com o Ouro Verde, serão
oficializadas mais duas variedades, Obatã IAC e Tupi IAC, cultivares de porte
baixo e praticamente imunes à ferrugem, ideais para plantios adensados.
O programa de melhoramento genético de café do IAC tem buscado variedades de
porte baixo, rústicas e de alta produtividade, como é o caso do Catuaí Vermelho
e Catuaí Amarelo. O lançamento destas variedades permitiu a modificação de
sistemas de produção e abriu novas áreas para a cafeicultura em regiões
improdutivas, como a enorme área de cerrados em São Paulo e triângulo mineiro.
Com alta resistência à ferrugem, as variedades Obatã (IAC 1669-20) e Tupi (IAC
1669-33) crescem saudáveis com aplicações menores de agrotóxicos, o que
significa economia para o produtor, menor poluição ambiental e menos risco para
a saúde dos agricultores e consumidores.
As duas variedades têm porte baixo e resistência à ferrugem e são indicadas,
a partir de 1996, para plantios adensados, superadensados, adensados-mecanizável
ou em renque. Os cafeeiros do cultivar Ouro Verde, que será apresentado no final
do mês por Luiz Carlos Fazuoli, pesquisador científico do Centro de Café e
Plantas Tropicais do IAC, são mais produtivos e rigorosos que os do Catuaí
Vermelho.
Descrições:
IAC Ouro Verde
Os cafeeiros do cultivar Ouro Verde apresentam-se produtivos e mais rigorosos
que o cultivar Catuaí Vermelho. As folhas novas são de cores verde ou bronze, e
as adultas de um verde escuro brilhante. Apresenta ótimo enfolhamento e,
usualmente, os dois principais florescimentos ocorrem em setembro e outubro, e
maturação em maio-junho. Os frutos são de coloração vermelha e apresenta uma
média de 230 dias, desde a fertilização e maturação completa dos frutos. O valor
da peneira média é de 17 (pouco acima do Catuaí Vermelho) e a porcentagem de
sementes do tipo chato é da ordem de 95%. Em um experimento no Núcleo
Experimental de Campinas, a produção média de café beneficiado do cultivar Ouro
Verde foi levemente superior ao Catuaí Vermelho.
Obatã
(IAC 1669-20) Porte baixo; vigoroso; internódios curtos; boa ramificação
secundária; brotos novos de coloração verde; frutos vermelhos e de maturação
média a tardia; sementes com peneira média de 17 (maiores que Catuaí Vermelho);
resistente à ferrugem. Indicado para plantios adensados ou em renque.
Tupi
(IAC 1669-33) Porte baixo; internódios curtos; brotos novos de coloração
bronze; frutos vermelhos e de maturação precoce; sementes com peneira média em
torno de 17; resistente à ferrugem. Indicado para plantios adensados ou em
renque.
Equipe de Pesquisa:
Luiz Carlos Fazuoli
Herculano Penna Medina Filho
Oliveiro Guerreiro
Filho
Wallace Gonçalves
Maria Bernadete Silvarolla
Marinez Muraro
Alves de Lima
Alcides Carvalho (In memoriam)
Fonte: IAC http://www.iac.sp.gov.br/