12/10/2009 – 08h51 (Andresa Alcoforado – Gazeta Sul)
Uma crise está assombrando os produtores da única associação de café orgânico do estado do Espirito Santo, que fica na região do Caparaó ES. Nos armazéns de café as sacas se acumulam, da safra de 2008 são 650 sacas e deste ano 250, um prejuízo calculado em mais de R$ 400 mil. Sem ter para quem vender o café, a preocupação dos agricultores é que o produto perca a qualidade e o preço de mercado.
A falta de venda já reflete diretamente nas lavouras, como os agricultores não conseguem vender a safra desde o ano passado, o resultado é que este ano faltou dinheiro para investir no tratamento das lavouras. O resultado são pés com poucos nutrientes e que devem produzir menos café em 2010.
O agricultor Celito Barbosa, que cultiva café orgânico há nove anos em Irupi, diz que nunca passou por uma crise tão feia no mercado. Como o principal comprador do produto é o mercado externo, nenhuma venda foi feita desde que a crise mundial começou.
“Precisamos que o mercado interno consuma esse produto que é de qualidade. O café da safra de 2008 pode passar da época e a cada dia perdemos mais dinheiro com ele. Já nas lavouras, não temos dinheiro suficiente para investir nos nutrientes”, afirma o agricultor.
O resultado da dificuldade também reflete diretamente na associação que é a única do estado. Hoje são apenas 10 associados, mas quando o projeto começou eram 50 famílias. Cada vez mais agricultores estão abandonando o cultivo diferenciado.
Para o agricultor Renan Emerick, de Ibatiba, a falta de incentivos pode condenar a associação já que muitas famílias estão desistindo de se manter na produção. Como ele, os agricultores estão sem conseguir vender o café. Para sustentar a família, o único dinheiro usado tem sido a venda de leite e de frutas nas propriedades.
“Não contávamos com esse golpe na associação. Lembro que deixamos de vender a saca de orgânico, antes da crise, por R$ 750. Hoje diante a situação só conseguimos no máximo R$ 450”, lembra o agricultor.
Comercialização
Como recurso de manter a produção, a associação decidiu vender o café moído e torrado. Mas a comercialização ainda é tímida e precisa de recursos para atingir mais vendas. “Estamos participando de feiras e apresentando a marca do café Boa Família. Precisamos de incentivos de vendas, por enquanto, vendemos apenas nos eventos”, conta o agricultor Celito Barbosa.
Crise também no café tradicional
A Cooperativa dos Agricultores Familiares do Território do Caparaó, Coofaci, também sofre os efeitos da crise no café comum. A associação de orgânicos também é veiculada a cooperativa. Desde agosto de 2008 a instituição não consegue vender no mercado Fair Trade, que são exportações com preço justo, o que equivale até R$ 25 a mais por saca de café vendida.
“Como a crise afetou nossos principais compradores não conseguimos vender no mercado de preço justo. O jeito foi vender o café por aqui mesmo, num preço menor para que o agricultor investisse na lavoura para a próxima colheita”, conta Paulo Márcio Fernandes, presidente da Coofaci.
Hoje 107 agricultores participam da Coofaci e, este ano, a safra para os cooperados chegou a 10 mil sacas. Segundo Presidente da Cooafaci, com o preço em queda o agricultor está cada vez bancando a produção.
“No mês passado fizemos uma venda de 25 mil sacas para a Venezuela, que cortou relações diplomáticas com a Colômbia, mas foi no preço normal e não conseguimos o Fair Trade. O produtor está ficando cada vez mais endividado com a lavoura”, finaliza Paulo Márcio.
Desanimo na lavoura
Com sacas ainda da lavoura de 2008 armazenada em casa o agricultor de café orgânico Celito Barbosa está cada dia mais preocupado com a lavoura. Há 2 anos ele não investe como deveria nos pés de café. A produção da propriedade já caiu 50%.
“É difícil manter a lavoura com os nutrientes, estou sem recursos para investir. Há uns dois meses peguei mais um empréstimo para tentar ampliar a área. Com crise fica difícil investir em novos negócios”, conta o agricultor.