Afetadas pela crise financeira mundial, as vendas destinadas ao mercado internacional pelos produtores de minério de ferro, as usinas de ferro e aço, fábricas de automóveis e o café de Minas Gerais desenham mudanças no ranking dos 10 maiores municípios exportadores do estado, responsáveis por quase 63% do comércio de Minas com o exterior, entre janeiro e outubro deste ano. Embora os números disponíveis para as cidades que mais exportam – relativos aos primeiros 10 meses do ano – não mostrem, ainda, todo o impacto da redução da produção nesses setores, os novos contratos de exportação ou a ausência deles, ante a turbulência na economia, expõem as dificuldades enfrentadas por grandes empresas.
O time dos 10 principais municípios mineiros exportadores expõe a dependência que eles têm dos resultados da produção mineral, siderúrgica e do setor automotivo, observa a pesquisadora Elisa Maria Pinto da Rocha, da Fundação João Pinheiro. Junto à produção cafeeira do estado, esses bens representam 60% a 70% das vendas externas de Minas, conforme o período analisado. Até outubro, já houve alterações importantes no ranking. Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, que em função das vendas de minério de ferro da Vale estava em segundo lugar no ano passado, saiu da relação dos 10 maiores entre janeiro e outubro últimos. Timóteo, no Vale do Aço, amargou queda de 28% do valor de suas exportações, influenciadas pelas atividades da ArcelorMittal Inox (antiga Acesita), o que também excluiu o município da lista.
Veja os rankings de 2008 e 2007
Os beneficiados no mesmo período, e que nem apareciam no ranking em 2007, foram Belo Horizonte, com as exportações da chamada indústria de tecnologia e eletrônicos, e Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, que exporta os modelos CLC da marca Mercedes-Benz. As vendas externas do grupo de cidades que ocupam os 10 primeiros lugares somaram US$ 13,34 bilhões, dos US$ 21,22 bilhões exportados pelo estado de janeiro a outubro de 2008.
Grandes reduzem produção
“Certamente os novos contratos de exportação que estão sendo negociados vão traduzir as dificuldades que as empresas estão enfrentando, depois do estouro da crise financeira”, afirma Elisa Rocha, da Fundação João Pinheiro. As últimas semanas foram marcados por anúncios de redução da produção de exportadores como a Vale, ArcelorMittal, Votorantim Metais, grupo siderúrgico Gerdau, os maiores fabricantes da indústria automotiva – GM, Volkswagen, Fiat, Ford, além de seus fornecedores de peças e componentes – e pelos produtores independentes de ferro-gusa (matéria-prima do aço) em Minas. As indústrias de gusa, segundo o sindicato do setor, não têm encomendas de sequer um quilo da matéria-prima para o período de janeiro a março do ano que vem.
A exclusão de Nova Lima da lista de exportadores reflete, no entanto, uma alteração do crédito contábil das exportações da Vale, de acordo com o secretário de desenvolvimento econômico do município, Walter Gonçalves Taveira. A produção de minério continua e as exportações também, apesar de a mineradora ter deixado de creditar a operação por Nova Lima, como ocorria antes da aquisição da antiga Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) pela Vale. A mineradora não informou sobre a mudanças contábeis, mas informou que por enquanto o balanço das suas exportações é positivo neste ano.
O registro em valor das exportações de Nova Lima despencou 67%, para US$ 415,76 milhões de janeiro a outubro, quando o município desceu para a décima primeira posição no ranking. Em Timóteo, no Vale do Aço, a prefeitura informou, por meio de sua Secretaria de Comunicação Social, que não teve acesso aos números do ministério e que ainda é cedo para mensurar reflexos da crise sobre as exportações. A ArcelorMittal Inox não informou sobre o movimento de suas exportações este ano.