Crise muda a rota das exportações de Minas

5 de novembro de 2013 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Estado de Minas

05/11/2013 
 

Com desaceleração da economia mundial, EUA caem do segundo para o quinto lugar entre os destinos das vendas do estado. Holanda e Argentina ampliam compras e a China lidera


Zulmira Furbino e Marta Vieira


A desaceleração da economia mundial provocada pela crise financeira na Europa tirou o posto de segundo principal destino exportador de Minas Gerais das mãos dos Estados Unidos (EUA), como mostra o balanço do comércio internacional do estado nos nove primeiros meses deste ano. De janeiro a setembro de 2013, o gigante americano desceu três degraus na escada das vendas externas mineiras, estacionando em quinto lugar como comprador de mercadorias fabricadas no estado. Enquanto isso, a participação da Argentina saiu do quinto para o terceiro lugar. A fatia dos EUA na pauta exportadora brasileira caiu de 7,86% (US$ 1,967 bilhão) nos nove primeiros meses de 2012 para 6,26% (US$ 1,538 bilhão) em igual período deste ano. Estão à frente de Tio Sam Holanda, com participação de 6,87%, Argentina (6,56%) e Japão (6,45%).


De acordo com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a mudança de posição aconteceu porque, no geral, as exportações de Minas para os EUA caíram 21,8% até setembro deste ano na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior. Nesse meio tempo, a fatia da China subiu 4,6%, a da Holanda 9,2%, a da Argentina 7,75% e a do Japão caiu 8,21%. Com isso, a configuração do ranking dos principais destinos internacionais dos produtos mudou de China, Estados Unidos, Japão, Holanda e Argentina para China, Holanda Argentina, Japão e Estados Unidos.


Entre janeiro e setembro deste ano, de acordo com Alexandre Brito, consultor da área de inteligência comercial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), houve queda de exportação de aço bruto (-44%), e laminados (-30%) em Minas. Além disso, as vendas externas de produtos metalúrgicos caíram 23,6% de janeiro a setembro. “Vale lembrar que os Estados Unidos são o principal cliente da nossa metalurgia e isso influenciou no resultado”, observa.


“Esse quadro ainda é reflexo da crise na Europa e da lenta recuperação econômica dos Estados Unidos. Como houve grande produção de commodities no Brasil, os preços caíram e impactaram as exportações. A situação só não foi pior porque, no caso do minério, eles se recuperaram. A grande surpresa para o mercado foi o aumento das vendas externas para a Argentina. Ninguém esperava por isso, já que a situação da economia do país vizinho é delicada”, afirma Castro.


De acordo com Elisa Maria Pinto da Rocha, diretora do Centro de Pesquisas Aplicadas da Fundação João Pinheiro (FJP), de janeiro a setembro os números mostram que a dança das cadeiras ajudou a botar um freio na queda das exportações mineiras, que recuaram 19,2% em 2012. Pesou nessa conta a reviravolta nas relações comerciais com a Argentina e a elevação da venda de minério para a China. Segundo ela, as vendas mineiras para o país vizinho sofreram queda 26,2% no ano passado, mas nos nove primeiros meses de 2013, avançaram 7,8%. “Quando se abrem os dados, observamos um grande crescimento na exportação de carros e veículos”, aponta. Por outro lado, segundo ela, em 2012 as exportações de Minas para a China caíram 20,9%, enquanto de janeiro a setembro de 2013 subiram 17,2%.


Preço ajuda na retomada


“O preço internacional do minério se recuperou e a exportação de veículos, tratores e bicicletas registrou uma retomada significativa. Os dois fatores ajudaram a reduzir a queda das exportações em Minas”, observa Elisa. Na avaliação da especialista, as vendas externas do estado poderão fechar 2013 acima do patamar de US$ 33,4 bilhões apurado em de 2012. Naquele ano, segundo ela apesar de terem despencado as vendas externas, na comparação com o ano anterior, o valor exportado por Minas foi o segundo melhor do estado nos últimos 10 anos. O primeiro foi em 2011.


“Se tivermos um olhar mais alargado, vamos ver que aquele pessimismo do fim de 2012 não se justificava. É preciso considerar os números pelo menos de 2010 para cá. Os dados mostram que as vendas podem se situar até acima no nível de 2012, que foi o segundo recorde histórico da última década”, defende.


Além do fator China e Argentina, outra coisa que pesa nesse otimismo é que entre janeiro e setembro deste ano a pauta de exportação mineira registrou resultados positivos em setores que, tradicionalmente, não faziam parte dela, como é o caso de produtos farmacêuticos. A abertura de novos mercados, que não costumavam ser compradores do estado, como África do Sul e Índia, também ajudou. A exportação de produtos farmacêuticos registrou alta de 18,8% entre janeiro e setembro, contra igual período de 2012. A Índia comprou 51,8% a mais no período, principalmente em produtos contendo insulina”, observa. Já as vendas para a África do Sul cresceram 159,9% no mesmo período, influenciadas pela exportação de ouro.


Carne de peru tem destaque


Nem minério de ferro, nem aço ou café. Fora do circuito tradicional do comércio de Minas Gerais com o exterior, surgem oportunidades de avanço das vendas de um produto sem fama: a carne de peru industrializada. Embora com participação bem modesta no valor das exportações mineiras, os cortes da ave foram os que apresentaram performance invejável nos últimos nove anos, entre 2004 e 2012, de acordo com estudo especial realizado pela Apex Brasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).


As vendas externas totais de Minas Gerais cresceram em média 18,8% por ano entre 2004 e 2012, evoluindo de US$ 10 bilhões para US$ 33 bilhões, de acordo com o estudo Panorama das Exportações de Minas Gerais. Segundo maior exportador do país, o estado viu sua participação no bolo do comércio brasileiro com o exterior subir de 11% em 2007 para 13,7% em 2012, enquanto a locomotiva do ranking, representada por São Paulo, recuou de 32% para 24%.


A receita mineira com as exportações do item preparações alimentícias e conservas de peru quase dobraram, ao alcançarem US$ 62 milhões no ano passado, ante US$ 32 milhões em 2005. A expansão foi de 10% ao ano, em média. Na série analisada pelos especialistas da Apex, em apenas dois anos, 2009 e 2012, houve queda nas vendas, ainda assim menor no ano passado, atribuída a momentos de turbulência no mercado internacional. Os dois principais mercados que abrem possibilidades aos produtores e à indústria de Minas são são Holanda e a Espanha, na Europa.


Os números não surpreenderam Marília Martha Ferreira, superintendente da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), apesar da piora na exportação brasileira de carne de peru industrializada neste ano. De janeiro a setembro, foi registrada uma queda de 5,75% frente ao mesmo período do ano passado, para um volume de 119,3 mil toneladas embarcadas. Em faturamento, as vendas caíram 3,6%, totalizando US$ 340,8 milhões. Minas contribuiu com US$ 53,9 milhões, perfazendo retração de 19,4% em idêntica base de comparação.

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