Mesmo perdendo rentabilidade, agronegócio ainda é o responsável pelo superávit na balança comercial
Empresário do setor de agronegócio e produtores rurais não têm muito o que comemorar este ano, e as perspectivas para 2006 não são muito animadoras. “O ano de 2005 é absolutamente trágico”, assegura Antônio Ernesto, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Mas ele lembra que a crise não atingiu indistintamente todos os segmentos. Alguns, como o de grãos, enfrenta problemas graves, mas outros obtiveram sucesso, como os segmentos de café e de cana-de-açúcar.
A forte queda da produção de grãos, em cerca de 20 milhões de toneladas; a queda do preço pago pelo boi gordo ao pecuarista, apesar do aumento das exportações; e a inadimplência crescente são citadas pelo presidente da CNA como fatores da crise. “Mas o pior é a insensibilidade do poder público, que demora para apresentar alternativas de soluções e não leva em consideração as características do setor”, lamenta. Segundo de Salvo, não adianta liberar recursos para custeio depois que o produtor já perdeu a época para plantar.
Apesar de continuar sendo o responsável pelo superávit da balança comercial brasileira, o agronegócio enfrentou uma das piores crises neste ano. Contribuíram para isso fatores conjunturais, como a sobrevalorização do real, a dificuldade de acesso ao crédito e o aumento dos custos da produção. Aliado a isso, o setor enfrentou quebra de safra devido a problemas climáticos, sanitários e fitossanitários, que agravaram a situação de perda de renda, de produção e de produtividade do setor.
ReduçãoNa consulta do Projeto Conhecer, da CNA, realizada com 4.295 produtores em outubro, somente 5% dos entrevistados conseguiram o montante de crédito necessário a juros de 8,75% ao ano e 67% afirmaram que vão reduzir a área plantada ou seu rebanho. 84% deles informou que vai alterar o planejamento futuro de seus negócios.
Esses resultados indicam que o ritmo de crescimento do setor nos próximos anos está comprometido. Já neste ano houve sinais de desaceleração da atividade. O Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária cairá de R$ 160,65 bilhões registrados em 2004, para R$ 143,42 bilhões em 2005, o equivalente a uma queda de 10,73%.
Na consulta realizada em novembro, sobre os efeitos da febre aftosa, foi reforçado o movimento de descapitalização no campo. Dos 3.681 pecuaristas consultados, 95%, declararam que tiveram perda de renda na atividade neste ano, em comparação com 2004, pois houve queda no preço de venda do produto e aumento dos custos dos insumos.