22 de setembro de 2008 – 07:00 ]
São Paulo, 22 – O mercado futuro de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) abre a semana atento ao noticiário sobre a crise financeira nos Estados Unidos. Na sexta-feira, o mercado recuperou parte das perdas, mas isso não significa que o pior já tenha passado.
As notícias sobre o mercado financeiro devem continuar a prevalecer. Segundo um operador da Terra Futuros, “não há garantias de que a crise não vai piorar, pois o problema é complexo, envolvendo nada menos que dois ou três dos principais bancos dos Estados Unidos”. “Estamos atravessando um furacão”, acrescenta.
Na sexta-feira, os preços das commodities avançaram graças à sensação de “alívio” no mercado financeiro, com as medidas anunciadas pelo governo dos EUA para atacar os problemas que desestabilizam o sistema. Os contratos do petróleo para outubro negociados na New York Mercantile Exchange subiram US$ 6,67, ou 6,81%, para US$ 104,55 o barril.
O contrato de café para Dezembro na ICE subiu 2,03% (mais 265 pontos), a 133,10 cents. A máxima chegou a marcar 395 pontos, a 134,40 cents. A mínima ficou em 130,40 cents (menos 5 pontos). Conforme o operador, os fundos de investimento liquidaram pouco na Sexta-feira, ao contrário de outros dias na semana.
Os fundos reduziram fortemente o saldo líquido comprado no dia 16 de setembro. De acordo com o relatório da Commodity Futures Trading Commission (CFCT), os fundos estavam com saldo líquido comprado 5.679 lotes no dia 16, em comparação com 15.010 lotes no dia 9.
A alta do euro em relação ao dólar contribuiu para sustentar os preços do café. Os investidores recuperaram o apetite ao risco, de forma seletiva. A volatilidade do câmbio trouxe problemas para os exportadores de café.
A fonte diz que exportadores não conseguiam fechar com os bancos Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC), mesmo com a compra de café fechada no mercado interno e já tendo destino certo para o produto no exterior.
Na sexta-feira, o real se fortaleceu ante a moeda norte-americana. O dólar fechou em baixa de 5,13%, a R$ 1,8310. Além das medidas positivas nos EUA, a venda de dólares pelo Banco Central contribui para segurar a alta da moeda dos EUA. “Mas agora a conta é outra e o vendedor não aceita o preço pelo seu café”.
Fundamentos devem voltar a prevalecer O diretor-geral, Guilherme Braga, do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), considera que fenômenos exógenos ao setor tendem a ser efêmeros e as cotações do grão devem retomar o rumo dos fundamentos. Braga deu essa declaração ao comentar a turbulência no mercado financeiro global, que trouxe impacto negativo ao café e às commodities, em geral.
Ele acredita que os preços internacionais do café devem ter moderada recuperação, puxados pelos fundamentos positivos de equilíbrio entre oferta e demanda pelo produto, e desde que aspectos exógenos deixem de interferir nos preços. O diretor geral estima que os preços futuros do café arábica podem voltar ao nível de 140 cents a libra-peso este ano. No mercado interno, ele projeta cotações entre R$ 270/R$ 275 a saca de 60 kg.
Ele recorda que, no início do ano, os contratos futuros de café na Bolsa de Nova York superaram 170 cents, base dezembro. Naquela ocasião, havia perspectiva de alta dos alimentos, provocada pela demanda nos países emergentes, entre outros fatores. Esse aspecto exógeno foi eliminado, explica Braga. Segundo ele, a partir de então, os preços do café evoluíram de acordo com oferta e demanda, até que um banco independente nos EUA quebrou na semana passada, ameaçando provocar efeito dominó.
Apesar da volatilidade do câmbio, o diretor geral ressalta que as metas de exportação de café para este ano estão mantidas. O Brasil deve embarcar cerca de 27 milhões de sacas de 60 kg, o que proporcionará receita cambial pouco superior a US$ 4 bilhões.
Quanto à crise financeira, entre outras medidas, o governo dos EUA pretende criar uma agência para lidar com os créditos podres de instituições financeiras, o que restabeleceria a confiança e a liquidez no mercado de crédito. Além disso, a comissão de valores mobiliários (SEC, na sigla em inglês) proibiu, em caráter emergencial, as vendas a descoberto de posições em companhias financeiras por um período de 10 dias.
O Escritório Carvalhaes, em seu boletim semanal, comenta que a crise aguda “serviu pelo menos para expor em profundidade a fragilidade e a manipulação especulativa nas bolsas de futuro, já descoberta há muitos anos pelos produtores agrícolas brasileiros.”
Conforme Carvalhaes, a câmara dos deputados nos EUA está tentando levar a votação um projeto, intitulado Lei de Transparência e Responsabilidade dos Mercados de Commodities, com o objetivo de conter o excesso de especulação. A medida precisa de dois terços dos votos. Para se ter uma idéia da força dos especuladores, não foi possível passar pelo plenário da câmara em julho. Agora, apesar dos estragos causados pela escalada dos preços, a Casa Branca ameaça vetar a lei antiespeculação.
Já o mercado físico de café esteve travado na sexta-feira, em virtude da forte queda do dólar. A moeda norte-americana encerrou em baixa de 5,13%, a R$ 1,8310. Segundo um corretor de Santos, “o vendedor sumiu e as portas baixaram mais cedo”.
Os contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York até que se recuperaram. Dezembro subiu 2,03%, a 133,10 cents. Café tipo 6, bebida dura para melhor, com 10% a 13% de catação, foi cotado a R$ 262/R$ 265 a saca de 60 kg, mas não houve comentários de negócios. Na quinta-feira, o mesmo produto era cotado a R$ 270.
O valor à vista em reais do indicador do café Arábica calculado pela Esalq ficou em R$ 261,65/saca (-0,73%). Em dólar, o valor ficou em US$ 142,98/saca (+4,69%). A prazo, a cotação ficou em R$ 263,15/saca (-0,73%).
Na BM&F de São Paulo, os contratos futuros de café arábica acompanharam a alta de Nova York. Dezembro subiu 4,15 pontos, a US$ 160,65 a saca de 60 kg.