A crise financeira internacional também ameaça a cafeicultura no mundo, fragilizada antes mesmo que a situação se agravasse nos Estados Unidos, maior consumidor de café do planeta. Preocupada com o futuro da produção e consumo em todos os hemisférios, a Organização Internacional do Café convocou uma reunião de urgência para esta semana em Londres, onde está sediada. O presidente do Sindicato Rural de Bauru e região, Maurício Lima Verde, participará do encontro extraordinário, cujo início está previsto para hoje e terá duração de uma semana.
Também vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), ele viajou ontem para a Inglaterra sem levar otimismo na bagagem. De antemão, Lima Verde acredita que se não houver subsídio governamental para produtores de café no Brasil, a cafeicultura perderá drasticamente sua importância econômica. De acordo com ele, as políticas no País verde e amarelo ditam tendência, uma vez que a grande maioria dos produtores do grão são países pobres da África e da Ásia, por exemplo.
‘O preço da saca do café já está muito ruim para o produtor. Se cair mais, vai reduzir muito a produção. Não vejo muitas alternativas. Mas até que ponto o governo está disposto (a dar mais subsídios aos produtores)? Vai depender muito da luta dos representantes. É um problema brasileiro, mas também internacional’, explica. Segundo Lima Verde, se nos outros países as repercussões são de cunho econômico, por aqui refletem mais nos aspectos social e institucional.
No Brasil, são consumidas por ano 17 milhões de sacas de café, sendo que no mesmo período, são exportadas 25 milhões. Ao todo, são 350 mil produtores de café, sendo 15 milhões de pessoas trabalhando em torno do grão. ‘O governo, em parte, tem atendido nossas reivindicações, mas esbarra no orçamento. Isso se agrava com a crise’, avalia. Uma das propostas do segmento para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é transformar a dívida dos cafeicultores em café físico, ou seja, em sacas a serem pagas ao credor em 20 anos.
Desta forma, grande parte deles teria acesso a novas fontes de crédito. ‘Isso é um subsídio. O governo sabe que o produtor não pode pagar. São R$ 5 bilhões para serem pagos em 20 anos’, explica.