Após quatro anos no comando da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o físico Sílvio Crestana confirmou ontem sua saída definitiva do cargo. Em inédita licença da presidência da estatal desde o fim de março passado, Crestana afirmou que a pressão familiar pesou mais do que o pedido pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua permanência no posto.
“Ele me pediu, ainda em março, que ficasse até o fim da gestão dele”, disse Crestana ao Valor antes de voltar a São Carlos (SP). “Mas o presidente disse que respeitava minhas razões pessoais e familiares”. Bem avaliado pelo alto escalão do governo, Crestana afirmou não ter tido “nenhuma dificuldade” com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Nos bastidores, entretanto, informa-se que ele teria despertado insatisfações em seu superior imediato. Teria pesado, ainda, a aproximação estratégica de Stephanes com o chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Miranda, nas discussões políticas sobre a reforma do Código Florestal.
A saída oficial de Crestana abriu uma corrida interna pelo cargo. O prazo de inscrição para seleção termina no dia 19 de maio.
Uma “comissão de busca” selecionará os candidatos. Como favoritos, são apontados Evaristo Miranda, o ex-diretor Dante Scolari e o atual diretor-executivo José Geraldo Eugênio França. “A Embrapa tem nomes à altura para continuar. Espero que não tenha briga política porque a iniciativa do processo foi minha. E tomara que não crie embaraços ao ministro e ao presidente. Espero uma transição suave, porque não é hora de parar nem de imobilizar a empresa”, afirmou Crestana.
Mesmo com algumas restrições internas a seu trabalho, Sílvio Crestana afirmou que a transição ocorrerá em um “bom momento” para a Embrapa. “A empresa está sem crise, prestigiada e com recursos. Saio com a missão mais que cumprida, extrapolada no tempo e nos resultados”, afirmou. E defendeu sua gestão: “Temos concursos, fomos bem na área internacional, há uma boa relação com o setor privado, vários ministérios e o Congresso. A hora era agora”, disse.
Crestana afirmou que, em quatro anos, elevou o orçamento da Embrapa de R$ 830 milhões para R$ 1,38 bilhão em 2008. “E teremos R$ 1,5 bilhão neste ano”. O ex-presidente disse ter recomposto parte dos pesquisadores que se aposentaram. “Vamos contratar 700 novos pesquisadores e mais 400 analistas e assistentes. Saímos de 8,6 mil para quase 10 mil funcionários”. Críticos de sua gestão avaliam que a expansão da Embrapa exigiria um momento de absoluta tranquilidade, o que será difícil com a transição no comando da empresa. A Embrapa anunciou a criação de quatro novas unidades em Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e no Distrito Federal.
O ex-presidente afirmou que os fatores “que mais pesaram” para sua saída foram a necessidade de conciliar as obrigações em Brasília com suas atividades de pesquisa e a pressão familiar para estar mais presente no dia-a-dia dos dois filhos adolescentes. “A gente vai levando, mas tem uma hora que não sabe se está fazendo direito. Fiquei dividido, tenho filhos e o programa de pós-graduação em São Carlos”.(MZ)