Crescimento inesperado, ferrovia está ganhando novas cargas

Por: O Estado de S. Paulo

16/07/15


A crise está propiciando bons negócios e bons lucros pelo menos para um segmento da economia. Tradicional transportadora de granéis, como minério de ferro e grãos, a ferrovia está ganhando novas cargas – as de produtos industrializados e agrícolas acondicionados em contêineres. E as empresas ferroviárias, como mostrou reportagem do Estado, nem precisam sair em busca dessas cargas: elas são procuradas por empresas que querem reduzir custos.


Nos períodos de crescimento, a prioridade das empresas é entregar rapidamente a mercadoria. Agora, com a produção em queda e perspectivas sombrias para os próximos meses, o alvo passou a ser a redução do custo, para evitar a queda da rentabilidade. “A crise econômica abriu a cabeça de muitas empresas, que deixaram de lado uma série de preciosismos em favor de uma redução de custos mesmo que seja de R$ 1”, avalia o gerente-geral de negócios da MRS Logística, Guilherme Lovisi. Na média, o transporte por ferrovia é 15% mais barato do que por rodovia.


Sua empresa é uma das oito principais companhias ferroviárias que fazem o transporte de contêineres. Essas empresas registraram grande crescimento na movimentação de cargas, que, nos cinco primeiros meses do ano, aumentou de 8,9% a 154% em relação a igual período de 2014, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).


A participação dos produtos industrializados na carga total transportada por trem ainda é muito limitada. O minério de ferro responde por três quartos de tudo o que é transportado por ferrovia no País. Os grãos respondem por 5%. Sobram 20% da capacidade do sistema para todas as demais modalidades de cargas.


Esses números são consequência de deficiências da estrutura ferroviária que limita as possibilidades de diversificação de seu uso. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Cargas (Anut), Luís Henrique Teixeira Baldez, falta capacidade às ferrovias. De fato, a malha é pequena – de apenas 28,9 mil km – para um país em que a produção agrícola precisa percorrer milhares de quilômetros desde o local da colheita até os centros de consumo ou, especialmente, os portos de onde seguirão para o exterior.


Além de limitada, a malha ferroviária tem muitas restrições operacionais por seu traçado (curvas acentuadas ou aclives íngremes), que reduzem a velocidade média das composições e a competitividade do transporte de cargas por trem.


Há, ainda, gargalos na malha e na regulamentação cuja eliminação as autoridades e as empresas operadoras anunciam, há tempos, mas sem resultados concretos. Um dos gargalos é a limitação do uso por composições de carga do trecho da malha que corta a cidade de São Paulo, em direção ao Porto de Santos. Nesse trecho, a preferência é para o transporte de passageiros, o que limita seu uso pelas composições de carga. A solução é a construção do Ferroanel, empreendimento conjunto dos governos federal e estadual que não saiu do papel. Também as operações ferroviárias no Porto de Santos são limitadas por causa das regras de concessão dos serviços nessa área.


Empresas concessionárias programam obras que permitam contornar esses gargalos e outras que lhes assegurem mais rapidez nos serviços e maior rentabilidade. Em seus diagnósticos, o Ministério dos Transportes reconhece que a malha é insuficiente e não alcança os novos centros de produção, enquanto há trechos subutilizados e outros com restrições operacionais. “Para superar os desafios”, como afirmam as autoridades do setor, será necessário ampliar os investimentos públicos e privados, na expansão da malha, no aumento da capacidade das ferrovias existentes e na construção de contornos e travessias em áreas urbanas.


São programas e projetos cuja necessidade é óbvia há muitos anos, mas que, até o momento, não passaram do plano das boas intenções. Por isso, o inesperado aumento do transporte de cargas por contêineres comemorado pelas empresas pode ser efêmero. Como manter os atuais clientes, se o sistema continua insuficiente e com restrições operacionais?

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